Trazer à superfície todo o conhecimento que se esconde nas profundezas dos oceanos. É essa a missão que, ao longo dos próximos dez anos, vai mobilizar cientistas de todo o mundo no âmbito do Challenger 150, um programa pioneiro para exploração do mar profundo e que conta com uma participação especial da Universidade do Porto.

O mar profundo é o mais enigmático local que a Humanidade não pisou no seu próprio planeta e reconhecido como uma importante e desafiante fronteira da ciência. A superfície do planeta Terra, o chamado de planeta azul, é cerca e 60 por cento mar profundo, entre os 200 e os 11000 metros abaixo do nível do mar, e a maior parte permanece completamente inexplorada.

Na verdade, “a Humanidade conhece muito pouco sobre os seus habitats e como estes contribuem para a saúde de todo o planeta”, refere a equipa coordenadora do Challenger 150, encabeçada pela britânica Kerry Howell, da Universidade de Plymouth, e pela portuguesa Ana Hilário , investigadora do CESAM (Universidade de Aveiro) e antiga estudante do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS).

Uma década a trabalhar para o futuro

Baptizado em alusão ao ponto mais profundo do planeta – o Challenger Deep –, o Challenger 150 promete ficar na história como referência da Década das Nações Unidas da Ciência do Oceano para o Desenvolvimento Sustentável (2021-2030)

Mas este mergulho ambicioso e inédito no mar profundo só será possível através da cooperação internacional. E é pelas mãos da investigadora Joana Xavier que o Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR-UP) se junta à equipa de 45 instituições de 17 países em todo o mundo que vão trabalhar em conjunto ao longo da próxima década. De Portugal participam também investigadoras do CESAM (Universidade de Aveiro), do Okeanos (Universidade dos Açores) e do CIMA (Universidade do Algarve).

“Esta é uma oportunidade única de co-criarmos, de forma coordenada e inclusiva, uma base sólida de conhecimento sobre esta componente tão importante dos oceanos, e com isso assegurarmos a sua sustentabilidade para o futuro”, nota Joana Xavier.

Ana Hilário destaca também aquela que se apresenta como uma oportunidade ímpar de unir a comunidade científica internacional num esforço inédito para conhecer e explorar as profundezas do oceano. “Um dos grandes objetivos é a capacitação e aumento da diversidade no seio da comunidade científica ao incluir cientistas de países desenvolvidos, emergentes e em desenvolvimento de seis dos sete continentes”, explica a coordenadora do Challenger 150 e alumna da licenciatura em Ciências do Meio Aquático do ICBAS.

Joana Xavier é Investigadora Principal do grupo “Deep Sea Biodiversity and Conservation” do CIIMAR, onde se vem dedicando ao estudo das esponjas marinhas e dos habitats que elas formam em mar profundo. (Foto: DR)

À descoberta do mar profundo

Entre as iniciativas que integram o projeto incluem-se a formação de cientistas de países em desenvolvimento, mas também de jovens cientistas de todas as nações, nomeadamente de Portugal. “Por exemplo, uma das atividades que estamos a desenvolver é um programa de treino a bordo de navios de investigação, um pouco como o antigo programa ‘Training Through Research (TTR)’ da Comissão Oceanográfica Intergovernamental, no qual eu tive oportunidade de participar enquanto estudante do ICBAS”, refere Ana Hilário.

Ao longo da próxima década, os investigadores esperam «gerar dados geológicos, físicos, biogeoquímicos e biológicos através do recurso a novas tecnologias que permitam compreender como as mudanças no mar profundo afetam o meio marinho e a vida no planeta.

O conhecimento resultante do Challenger 150 será, por sua vez, usado para apoiar a tomada de decisões a nível regional, nacional e internacional sobre questões como a exploração mineira nos fundos oceânicos, a pesca e a conservação da biodiversidade, assim como a política climática.

Pela sua dimensão e ambição, os detalhes do projeto foram já apresentados num artigo publicado na revista Frontiers in Marine Science e através de um apelo à colaboração na revista Nature Ecology and Evolution.