É das mais ilustres antigas estudantes da casa e uma das mais conceituadas artistas da contemporaneidade. O nascimento de Armanda Passos celebra-se a 17 de fevereiro, data que a Universidade Porto vai assinalar com a exibição de um conjunto de cadernos e desenhos da artista.

No átrio de entrada do Edifício Histórico da Universidade (à Reitoria) vão estar expostos blocos de desenhos produzidos durante uma época muito especifica da vida e obra de Armanda Passos.

São desenhos produzidos, precisamente, durante o período em que a pintora foi estudante da Escola Superior de Belas Artes do Porto (ESBAP), precursora da Faculdade de Belas Artes da U.Porto (FBAUP).

Uma obra inconfundível

Armanda Passos – blocos de desenhos ESBAP foi, de resto, o nome da exposição que se realizou em 2015, na Galeria dos Leões, espaço – entretanto desativado – do edifício da Reitoria que era gerido pela Faculdade de Belas Artes (FBAUP).

Aquela que foi a primeira exposição dedicada exclusivamente aos desenhos de Armanda Passos apresentava folhas dos blocos com desenhos “feitos nos intervalos das aulas”, como escreveu Álvaro Siza a propósito da exposição.

“Os puríssimos desenhos lineares dos anos 70, tornam-se progressivamente densos e complexos”, acrescentou o arquiteto. É uma obra que se reconhece “de imediato”, rematava.

A partir de dia 17 de fevereiro, e durante uma semana, os visitantes vão poder (re)visitar esses cadernos. Em exposição estarão também folhas avulsas destes blocos, com desenhos a tinta-da-china, datados de 1974 e 1975.

Representando um determinado contexto da produção artística da cidade à época (anos 1970), todo este material faz parte do espólio da FBAUP.

Para memória futura

A inauguração coincide com o esforço que a família e amigos de Armanda Passos vêm encetando no sentido de encontrar alguns dos quadros produzidos pela artista na década de 80 do século XX. O objetivo passa por fotografar as obras e incluir as imagens obtidas num futuro catálogo que reúna toda a obra da pintora

Os proprietários de quadros de Armanda Passos interessados em colaborar neste esforço podem manifestar o seu interesse através do e-mail [email protected] ou da página de Facebook criada para o efeito.

ICBAS expõe o quadro Nu de Armanda Passos

Também no âmbito das celebrações do aniversário de Armanda Passos,  o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) vai acolher, a partir de 17 de fevereiro, a pintura a óleo sobre tela Nu, pertencente à coleção do Museu da Faculdade de Belas Artes da U.Porto (FBAUP).

Aquela que é considerada uma das mais raras obras da pintora retoma assim a itinerância iniciada o ano passado na Reitoria da U.Porto, para permanecer no Foyer do complexo ICBAS/FFUP – um lugar “nobre e de destaque” – que será a morada da obra durante dois anos.

Para o diretor do ICBAS, Henrique Cyrne Carvalho, expor esta pintura é, antes de tudo, um privilégio: “sermos a primeira faculdade, depois da Reitoria, a receber esta magnífica obra de Armanda Passos é uma honra, para além de ir ao encontro da nossa missão, fazer do ICBAS um promotor de cultura e arte para a ciência”.

“A arte de Armanda Passos, como foi citada pela presidente da Fundação Champalimaud por ocasião da sua retrospetiva (2022) é “terapêutica pura”. Podermos expor esta obra, constitui uma oportunidade única para a nossa comunidade académica: a arte ao alcance e ao serviço de todos”, conclui o diretor do ICBAS.

Sobre Armanda Passos

Armanda Passos nasceu em 1944 e licenciou-se em Artes Plásticas pela ESBAP, escola onde foi monitora de Gravura (1977-79) e assistente de Ângelo de Sousa. Participou em diversas exposições individuais e coletivas, representou Portugal em bienais internacionais e foi premiada pelo Ministério da Cultura em 1984.

A sua obra encontra-se representada em coleções da Fundação Calouste Gulbenkian – Centro de Arte Moderna, Lisboa; Fundação de Serralves – Museu de Arte Contemporânea, Porto; Fundação Champalimaud, Lisboa; Fundação Museu do Oriente, Lisboa; Secretaria de Estado da Cultura; Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, Lisboa; o Museu Amadeo de Sousa-Cardozo, Amarante; a Casa-Museu Teixeira Lopes, Vila Nova de Gaia; a Casa Fernando Pessoa, Lisboa, o Tesouro da Sé Catedral do Porto, o Palácio da Justiça do Porto; o Palácio de Belém, em Lisboa, e o Museu da Faculdade de Belas Artes da U.Porto.

A Universidade acabaria, de resto, por assumir um papel importante na divulgação do trabalho de Armanda Passos, através do acolhimento de várias exposições dedicadas à pintora. Entre elas incluem-se as duas – “Reservas” e “Obra Gráfica” – que integraram a programação do Centenário da Universidade, celebrado em 2011.

A U.Porto dedicou várias exposições à obra de Armanda Passos, ao longo da última década. (Foto: Egidio Santos/U.Porto)

Mais recentemente, em 2019, a academia celebrou os 75 anos da pintora com a exibição de Armanda Passos: 75 anos, 75 escritas, uma exposição composta por um conjunto de obras invulgares, onde a figuração da pintora se conjugou com a escrita que a sua obra gerou e inspirou ao longo dos tempos. Uma lógica que foi invertida através de 75 obras concebidas em guache, como forma de homenagear os autores que se debruçaram sobre o seu trabalho.

Armanda Passos morreu em outubro de 2021, com 77 anos. Por ocasião da sua morte, a artista vivia e trabalhava na Casa-atelier Armanda Passos, projetada por Álvaro Siza.