No âmbito do projeto “Microbi-A: Estudo da relação entre o microbioma e traços de personalidade”, uma equipa liderada por Benedita Sampaio Maia, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) e da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto (FMDUP), está a “recrutar” cidadãos portugueses com mais de 18 anos, para participar nesta iniciativa que visa desvendar um lado ainda oculto das neurociências. O objetivo é “relacionar características microbiológicas, nomeadamente o tipo e quantidade de bactérias que habitam no nosso intestino, com características da nossa personalidade”.

O projeto “Microbi-A”, explica a investigadora, pretende “estudar o impacto do microbioma humano na saúde mental e a sua interação com características de personalidade, para compreender de que forma se relacionam e se a sua modulação por probióticos poderá ser benéfica”.

Para o efeito, adianta Benedita Sampaio Maia, “vamos recrutar participantes da comunidade, que irão realizar uma avaliação de parâmetros psicológicos e fornecer amostras para análise do microbioma e dos metabolitos e moléculas a ele associados”.

Nos últimos anos, o microbioma humano tornou-se um importante alvo de estudo por influenciar de forma notória o equilíbrio entre a saúde e a doença. Sabe-se que os microrganismos que habitam o nosso corpo estão relacionados com estados inflamatórios e com doenças crónicas como a obesidade, a diabetes, a síndrome do intestino irritável, entre muitas outras. Mas, além destas relações já estabelecidas, surgem agora novas hipóteses.

“Como as diferenças individuais na personalidade estão associadas a diferenças na função cerebral e como as bactérias do intestino conseguem comunicar com o cérebro através do eixo bidireccional intestino-cérebro, o microbioma pode estar relacionado com diferenças de personalidade”, sustenta Carolina Costa, estudante do programa doutoral em Ciências Biomédicas do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), cuja tese de doutoramento – financiada pela FCT e atualmente em curso no i3S, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da U.Porto (FPCEUP) e na Universidade de Oxford –  esteve na origem do projeto.

Uma área de estudo em expansão

Recentemente, os cientistas começaram a associar o microbioma à saúde mental, reportando que as bactérias que habitam o nosso intestino têm um impacto relevante no cérebro. A depressão, por exemplo, é um problema de saúde mental que parece estar relacionado com um desequilíbrio do microbioma. De igual modo, desequilíbrios no microbioma parecem também influenciar a ansiedade, assim como o espetro do autismo.

“Trata-se de uma área de investigação muito recente e, embora se trate de um tema de grande interesse para a comunidade científica, o número de estudos disponíveis ainda é muito limitado, daí a importância deste projeto que queremos desenvolver em Portugal”, explica Benedita Sampaio Maia.

O projeto “Microbi-A” será desenvolvido durante quatro anos por uma equipa que reúne investigadores do i3S, do laboratório de Neuropsicofisiologia da FPCEUP (Fernando Barbosa) e da Universidade de Oxford (Philip Burnet).

Os interessados em participar neste estudo e conhecer melhor o seu mundo microbiano podem inscrever-se aqui.