A Universidade do Porto participa, através da Faculdade de Ciências (FCUP) e da Faculdade de Engenharia (FEUP), no projeto Augmanity, que visa a implementação do 5G, Visão Artificial e Realidade Virtual na indústria portuguesa, com um investimento de 8,5 milhões de euros até julho de 2023.

Um dos grandes objetivos deste projeto é recorrer à aplicação de tecnologias no apoio às pessoas que trabalham em ambientes industriais, tendo também um impacto positivo na produtividade da indústria através do desenvolvimento de produtos, processos e serviços inovadores.

O chão de fábrica, local onde ocorrem os processos de produção, é um desses exemplos. É aqui que entra em ação uma das equipas de investigadores da FCUP envolvidas neste projeto. Neste caso, os docentes do Departamento de Ciência de Computadores (DCC) na FCUP, Eduardo Marques e Sérgio Crisóstomo, vão estar responsáveis pelo desenvolvimento de protótipos e dispositivos passíveis de testes em laboratório e no chão de fábrica com o objetivo de rastrear objetos em movimento e de evitar colisões.

A ideia das fábricas “de futuro” e 5G é implementar sistemas sem fios e protótipos que possam tornar o processo mais eficiente. “Queremos também melhorar os processos industriais, de flexibilidade, eficiência, produtividade, comunicações sensíveis ao tempo, etc. e construir uma base para novos modelos de negócios e promoção da economia circular”, refere Eduardo Marques.

Aquecimento de águas: ajudar na deteção de fugas de gás

Esta iniciativa decorre em parceria com a empresa Bosch Termotecnologia, fabricante líder europeia de produtos de aquecimento e soluções de água quente energeticamente eficientes. Como é fundamental perceber se há fugas de gás devido a questões de segurança, responsabilidade e saúde, necessitam, para isso, de usar testes muito sensíveis aos produtos de aquecimento de água.

No entanto, situações como mudanças na temperatura ambiente, vibração, má localização ou mesmo tempo de uso, podem dar origem a falhas nos testes de deteção de gás. É nesta área que estão a trabalhar, na FCUP, as docentes do DCC Inês Dutra e Rita Ribeiro.

“O nosso trabalho vai passar pela análise de dados temporais e pelo desenvolvimento de modelos que possam prever se um produto considerado rejeitado na linha de produção é de facto um bom produto”, explica Inês Dutra, docente e investigadora do DCC-FCUP. O objetivo da equipa é reduzir as falsas rejeições nos equipamentos, aumentando assim a fiabilidade dos testes de deteção de gás.

Um projeto mobilizador para uma nova realidade industrial

Já a FEUP está a colaborar  na componente de visão artificial e realidade virtual do projeto, com o objetivo de procurar novos desenvolvimentos e melhoria dos processos produtivos que levam a melhores condições para a população ativa que trabalha na indústria.

Em articulação com a Bosch Sistemas de Segurança (Ovar), Bosch Termotecnologia, Universidade de Aveiro (UA), Ground Control, Associação Portuguesa de Fundição (AAPICO) e Centro de Computação Gráfica (CCG), a equipa liderada por João Tavares, professor do Departamento de Engenharia Mecânica (DEMec) da FEUP, vai dedicar-se ao desenvolvimento de novas tecnologias “que permitirão um aumento da eficiência de operações industriais, com impacto positivo na produtividade, tempo de resposta, qualidade e bem- estar dos trabalhadores”, adianta o investigador.

Em estreita colaboração com a Bosch Sistemas de Segurança serão desenvolvidas novas soluções computacionais para deteção e identificação de objetos, produtos, matérias primas e veículos de transporte, o seguimento do seu movimento e determinação da sua localização em chão de fábrica em tempo real, bem como a interpretação computacional de cenários industriais, que vão permitir o desenvolvimento de um novo sistema de tecnologia de informação (TI) industrial. O objetivo é que este sistema de TI, apoiado por paradigmas de realidade virtual, permita auxiliar a gestão de operações industriais e o controlo de qualidade.

Na validação deste sistema, que contará com a participação de Jorge Barbosa do Departamento de Engenharia Informática (DEI) e Joaquim Gabriel Mendes do DEMec, ambos professores e investigadores da FEUP, “vai ser fundamental recorrer a casos de prova de conceito como de monitorização de produtos finalizados, reconhecimento de cenários industriais e controlo visual de qualidade”, esclarece João Tavares.

“Este projeto é uma excelente oportunidade de aplicar os desenvolvimentos de ID que a equipa da FEUP tem desenvolvido na área da Visão Artificial para a indústria”, conclui.

O Augmanity resulta de um consórcio liderado pela Bosch Termotecnologia e constituído por diversas empresas nacionais e internacionais, onde estão, entre outros, a Altice Labs, a Ikea, Huawei, Microplásticos, Oli e Bosch Security Systems. A estas juntam-se várias entidades do sistema científico nacional, como a FCUP, a FEUP, o Centi — Centro de Nanotecnologia e Materiais Técnicos, Funcionais e Inteligentes, o CCG — Centro de Computação Gráfica da Universidade do Minho, o Instituto de Telecomunicações, o Fraunhofer Portugal e a Universidade de Aveiro, num consórcio  e que tem a UA como parceiro científico estratégico.

O projeto é financiado pelo Portugal 2020 no âmbito do POCI e pelo FEDER (Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional), terá duração de três anos e data de conclusão prevista para meados de 2023.