No próximo dia 24 de dezembro, os podcasts “Terreiro de la Lhéngua 25” – da Casa Comum da Universidade do Porto – e “P24” vão oferecer o conto original de Natal em mirandês  “La Mona Negra (“A Boneca Negra” em língua portuguesa).

É um conto sobre aquela noite de lume a crepitar,  com “cheiro a polbo cun batatas i berças, candeia a gáç, turron de Mobeiros i meia quarta de nuozes i almendras mercadas na feira l Naso a uns comerciantes de por ende abaixo de las arribas“. É a noite em que se pode, até, debicar as uvas guardadas em ramalhete no hall de entrada desde o tempo das vindimas. “Todos los dies a mirar para eilhas i solo naqueilha nuite l botarie l diente apuis de tanta cuçpinha tener angulhido manginando l gusto que inda tenerien“.

Entre garfadas de “batatas i l polbo”, com o negro da fuligem “que cobrie las paredes de la cozina”, são noites de histórias que se contam “de azeite a reluzir na covinha do queixo” … “Á! que la cena si iba a ser de chupita.

E depois dos cepos desfeitos em brasa, o que traz o “siléncio de la nuite tan solo cortado donde an onde pul piar de l moucho no uolmo de la ciguonha“?  Tal como a personagem do conto, basta ficarmos com o “oubido fuora de las mantas a ber se sentie un tlincar de las lhares ou l zbiar de las teilhas para que l çapatico nun quedasse anaiunas“. Quer-se um ouvido bem desperto, para que o “sapatinho” não amanheça “em jejum”…

Cun las ganas” de “oubir la cuonta“? O presente cai no sapatinho na véspera de Natal, data em que o podcast ficará disponível na Casa Comum e no Público, desta vez com sonoplastia de Ruben Martins, do jornal Público.

Espaço de promoção do mirandês

Resultado de uma parceria entre a Universidade do Porto e a Associaçon de la Lhéngua i Cultura Mirandesa, o podcast “Terreiro de la Lhéngua 25” tem como propósito promover o Mirandês, a segunda língua oficial de Portugal.

Como explica na sua introdução ao podcast Alcides Meirinhos, membro daquela associação mirandesa, “Terreiro de la Lhéngua 25” é um território de palavras, “las nuossas i buossas palabras, arramadas de tan buona gana nas nubres ambisibles que fázen manar sonidos ne ls aparatos que scuitais. Cumo screbiu un die l nuosso saudoso Fracisco Niebro, “Se nun houbira palabras; a que s’agarrarien las cousas; cumo s’anchirie l tiempo?

Fazem parte da “Terra de Miranda”, nome atribuído ao território povoado pelos falantes da língua mirandesa, o concelho de Miranda do Douro (distrito de Bragança) e as freguesias de Angueira e Vilar Seco, no concelho de Vimioso, localizado no extremo nordeste de Portugal.

O Mirandês foi reconhecido pela Assembleia da República com o estatuto de língua oficial de Portugal em 17 de setembro de 1999, data que é desde então celebrada como Dia Oficial da Língua Mirandesa.