No âmbito das comemorações do centenário do nascimento de Isolino Vaz, a Universidade do Porto apresenta um “evento duplo” e aberto a toda a comunidade. A homenagem acontece às 16h00 do próximo dia 28 de maio, na Casa Comum (à Reitoria), e inclui uma pequena mostra de quadros do pintor portuense e um concerto protagonizado pela violoncelista Isabel Vaz e pelo pianista Vasco Dantas. A entrada é livre.

O pintor da insatisfação

Nascido em Vila Nova de Gaia, em 1922, Isolino Vaz (ver biografia) foi pintor, mas também se destacou nas áreas da escultura, cerâmica e desenho. Em 1943 matriculou-se na Escola Superior de Belas Artes do Porto (ESBAP), precursora da Faculdade de Belas Artes da U.Porto (FBAUP), tendo obtido o seu primeiro galardão – o 2.º Prémio José da Costa Meireles Rodrigues Júnior. Dez anos depois, em 1956, apresentou a sua Tese do Curso complementar de Pintura na ESBAP, denominada Emigrantes, com a qual terminou o curso de Pintura com a classificação de 19 valores. Esta será uma das obras que vai poder observar de perto.

O escritor Ferreira de Castro considera “admirável a interpretação que Isolino Vaz fez de Emigrantes, não só no seu quadro definitivo, mas também nos estudos que o precederam. É um pintor de grande talento. E, entre as suas muitas qualidades, possui aquela que indica o verdadeiro artista: a insatisfação”, referia o autor em 1956, a propósito de uma das obras que vai estar agora patente ao público.

As outras duas obras que vão estar expostas são: Academia nu masculino (Prémio Rodrigo Soares, 1952), Óleo sobre tela, e Enterro, 1953, também óleo sobre tela. Todos os quadros pertencem ao acervo da FBAUP e correspondem a diferentes momentos da formação do artista.

Autor de uma extensa – e premiada – obra pública, que inclui frescos, painéis, escultura e vitrais, Isolino Vaz “assinou” dez vitrais da Igreja de Santo Ildefonso, no Porto, e os vitrais da Capela do Monte da Virgem, em Vila Nova de Gaia, assim como o restauro artístico da Igreja dos Congregados, no Porto. Expôs no estrangeiro, nomeadamente em Moçambique e na Suíça, e em Portugal, naturalmente, em diversos locais como a Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa, a Academia Dominguez Alvarez, na Casa do Infante, na Cooperativa Árvore, no Mercado Ferreira Borges e no Museu Nacional de Soares dos Reis.

A vida de Isolino Vaz foi acompanhada de perto pelo escritor Manuel António Pina, que resumiu desta forma a sua relação com a obra do pintor: “Uma parte importante do coração da minha juventude pertence a Isolino Vaz e à sua obra; através dos volumes, dos ângulos, da luz sombria e da luminosa sombra do seu transfigurado realismo, os meus olhos descobriam perturbadamente o lado obscuro das coisas que só a inocência da arte revela. (…) O modo como, sob uma luz obstinadamente racional, os fragmentos do mundo exterior se tornam na pintura de Isolino harmonia e sentido do lado de dentro do mundo, fizeram naturalmente dela o caminho mais curto para as inseguras interrogações que irreprimidamente pulsavam no grande coração coletivo”.

Ludwig van Beethoven para Isolino Vaz

Isolino Vaz também ilustrou obras discográficas, mas que tipo de música melhor lhe soava ao ouvido? “Beethoven era um dos compositores que o Isolino Vaz mais admirava não só pela sua Arte mas também pela sua Humanidade”, garante Isabel Vaz que, ao violoncelo, juntamente com Vasco Dantas ao piano, vai “dar música” aos “moradores” da Casa Comum, na tarde de 28 de maio.

Isabel Vaz acrescenta que decidiram também incluir no programa Quadros de uma Exposição, do compositor russo Modest Mussorgsky “por ser uma das obras musicais que mais se aproxima das Artes Plásticas”. Confessa que se inspiraram também no trabalho de Viktor Hartmann, pintor e arquiteto amigo de Mussorgsky.

Isabel Vaz e Vasco Dantas sobem ao palco da Casa Comum às 16h00 do dia 28 de maio. (Foto: DR)

Então, para dia 28, o repertório vai trazer-nos Ludwig van Beethoven – Sonata para violoncelo e piano Opus 5 nr. 2 em sol menor (Adagio sostenuto e espressivo – Allegro molto più tosto presto; Rondo. Allegro) e Modest Mussorgsky – Quadros de Uma Exposição [“O Gnomo”; “O Velho Castelo”; “Tulherias (Crianças brincando no jardim parisiense)”; “Bydlo” (Gado bovino); “Ballet dos Pintainhos”; “Samuel Goldenberg e Schmuÿle” (O Judeu e o Pobre); “O Mercado de Limoges”; “Catacumbas (Sepulturas Romana)” e “Con mortuis in lingua mortua”; “A Cabana com Pernas de Galinha (Baba Yaga)” e “O Grande Portão de Kiev”].

No palco com…

Isabel Vaz, natural de Lisboa, completou a licenciatura na Escola Superior de Música de Lisboa e o mestrado no Conservatório de Amsterdão. Foi distinguida em vários concursos nacionais e internacionais: 3º prémio e prémio do público no Concurso de Interpretação do Estoril 2012; 1º prémio no Prémio Jovens Músicos 2009 (música de câmara); 1º prémio no Concurso Internacional de Música de Câmara Guido Papini 2013; 3º prémio no Concurso Internacional de Música de Câmara de Val Tidone 2014; Prémio especial discográfico no Concurso de música de câmara Salieri Zinetti 2015 e o 1º prémio no Concurso de Interpretação do Estoril 2016. Sediada em Amesterdão, é um dos elementos mais recentes da Noord Nederlands Orkest. Integra vários agrupamentos de câmara, sendo que o duo com Vasco Dantas que se dedica à promoção da música portuguesa para violoncelo e piano, em Portugal e no estrangeiro.

Durante as últimas temporadas, tem-se apresentado como solista com orquestras em várias capitais europeias – Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras, Orquestra Metropolitana de Lisboa, Kremlin Chamber Orchestra, SONOR Ensemble e Zagreb Soloists.

Vasco Dantas, nascido no Porto, obteve a Licenciatura em Música com 1st Class Distinction no London Royal College of Music. Concluiu o Mestrado em Performance, com nota máxima, na Universidade de Münster, onde é aceite para o Doutoramento “Konzertexamen”. Tem já mais de 50 prêmios em competições internacionais na Alemanha, Grécia, Itália, Malta, Marrocos, Portugal, Espanha e Reino Unido. Os mais recentes incluem: Prémio Internacional GianClaudio (Roma), Grand Prix no Concurso Internacional de Piano de Valletta (Malta), Prix Spécial no Concours International de Piano SAR La Princesse Lalla Meryem (Morroco), 1º prémio no Concurso Internacional do Porto Santa Cecília, 1º Prémio no Concurso de Música Estoril Lisboa, 3º Prémio no Concurso Münster Steinway & Sons e o Prémio “Fundação Eng. António de Almeida”.

Em 2019, no recital de piano do Carnegie Hall, em Nova Iorque. Em 2017, fez sua estreia na Rússia tocando com a Kremling Chamber Orchestra no Grand Hall do Conservatório Tchaikovsky de Moscou, o Concerto para Piano nº 4 de Beethoven. Em 2015, estreou-se na Ásia, tocando com a Hong Kong Symphonia na Hong Kong City Hall Concert Hall e em 2013, estreou-se como orquestra portuguesa com a Orquestra Sinfónica do Porto (Casa da Música), interpretando o Concerto para 4 Teclados e Orquestra de JS Bach;

Sobre o músico, o Jornal Düren, na Alemanha, escreveu “Pianista raro pela sua grande generosidade e força emotiva, o Sr. Dantas caracteriza-se pela intensidade e doçura simultaneamente consignadas nas suas interpretações”.