Assinala-se no próximo dia 26 de maio o centenário da morte de Aurélia de Souza, antiga estudante da Academia Portuense de Belas-Artes e um dos nomes mais marcantes da pintura portuguesa da segunda metade do século XIX. Para assinalar a data, a Universidade do Porto aliou-se ao Museu Nacional Soares dos Reis (MNSR), ao Município do Porto e ao Município de Matosinhos num programa de comemorações que vai abrir-se a toda a cidade já a partir de 9 de abril.

Através desta iniciativa, pretende-se “prestar não só um tributo a Aurélia de Souza, como também dar a conhecer a sua obra a um público não especializado e obras não tão conhecidas”, conforme referiu o Reitor da U.Porto durante a sessão de apresentação da programação, realizada no passado dia 1 de abril, no MNSR.

A “importância artística da pintora justifica a ampla parceria interinstitucional”, destacou ainda António de Sousa Pereira.

As quatro propostas da U.Porto

Das 15 iniciativas dedicadas a Aurélia de Souza que vão decorrer até junho de 2023, quatro serão organizadas pela Casa Comum (Reitoria) e pelo Museu de História Nautral e da Ciência da U.Porto (MHNC-UP).

A primeira proposta  da Universidade é a exposição “Aurélia de Souza. Ilustrações Inéditas”, que estará patente ao público de 12 julho a 29 de outubro.

Ainda em julho, tem lugar a primeira de duas “Conversas à volta de Aurélia”, intitulada  “D. Aurélia de Souza – Mulheres Artistas”. A segunda sessão está agendada para setembro (em dia a definir) e terá como tema “Aurélia de Souza, a Ilustradora”.

O programa encerra em outubro, com a realização de um “Workshop de Ilustração”.

Para além das propostas da U.Porto, o programa evocativo do centenário da morte de Aurélia de Souza inclui ainda conversas, exposições, atividades educativas, um congresso internacional, a edição de um catálogo, entre outros eventos a decorrer até 23 de junho de 2023, em locais como o Museu Quinta de Santiago, a Casa Marta Ortigão Sampaio, o Museu da Cidade – Extensão do Romantismo, os Jardins do Palácio de Cristal ou o Museu Nacional Soares dos Reis.

Aurélia de Souza: Na vanguarda do seu tempo

Antiga estudante da Academia Portuense de Belas Artes, antecessora das atuais faculdades de Arquitetura (FAUP) e de Belas Artes (FBAUP) da U.Porto, Maria Aurélia Martins de Souza (1866-1922) é reconhecida, essencialmente, pela sua pintura inconvencional e vanguardista, mas, também pelos seus trabalhos nos campos do desenho, ilustração e fotografia.

Natural da cidade de Valparaíso (Chile), onde nasceu a 13 de junho de 1866, fixou-se no Porto, aos três anos de idade, juntamente com os pais, emigrantes portugueses na América Latina. Foi na Invicta que iniciou a sua aprendizagem artística com lições particulares de desenho e pintura de Caetano Moreira da Costa Lima. Aos 27 anos, entrou na Academia Portuense de Belas-Artes, que frequentou entre 1893 e 1898.

Em 1899, Aurélia de Souza partiu para Paris para, durante três anos, completar os cursos ministrados por Jean-Paul Laurens e Benjamin Constant, na Academia Julien. Foi nesse período que pintou o famoso “Autorretrato” (1900), hoje integrado na coleção do Museu Nacional Soares dos Reis.

De regresso ao Porto, e já depois de ter viajado por vários países da Europa, continuou a expor os seus trabalhos nas exposições anuais da Sociedade de Belas-Artes do Porto (de 1909 a 1911), bem como nas Galerias da Misericórdia (1908-1909 e 1911-1912) e do Palácio de Cristal (1917 e 1933), no Porto, e na Sociedade Nacional de Belas-Artes de Lisboa (de 1916 a 1921). Morreu no Porto, a 26 de maio de 1922, a poucos dias de completar 56 anos.

Com uma obra que assenta, acima de tudo, em retratos, em paisagens e em cenas intimistas da vida quotidiana, Aurélia de Souza continua, praticamente um século após a sua morte, a ser reconhecida pelo seu estilo naturalista e pela sua inovação e relevância no panorama cultural português.