Poderá uma morte tranquila desencadear, no cadáver, uma face tranquila ou até sorridente? E será que uma morte violenta coloca no cadáver um rosto de tristeza, dor ou medo? Até ao próximo dia 27 de janeiro de 2017, essas são algumas das perguntas que prometem assaltar os visitantes da exposiçãoFacies Mortis”, patente no Edifício Histórico da Reitoria da Universidade do Porto.

É a primeira vez que o Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses apresenta estas máscaras, algumas com mais de cem anos. São moldes em gesso que foram obtidos diretamente do rosto do cadáver de indivíduos, de ambos os sexos que, entre 1913 e 1943, se suicidaram por enforcamento, ou então, que foram vítimas de homicídio por estrangulamento. Cada face esconde, ou revela, uma história de vida com um desfecho trágico.

Este conjunto de máscaras resulta de uma inquietação do primeiro diretor do Instituto de Medicina Legal de Lisboa, que era também uma discussão que consumia a comunidade médica internacional em finais do século XIX.  João Azevedo Neves questionava-se sobre a possibilidade de haver uma relação entre a história do indivíduo e as circunstâncias da sua morte com a expressão facial post mortem. A conclusão teria grande importância médico-legal, uma vez que permitiria deduzir sobre a causa de morte. Nesse sentido, criou uma espécie de “expressómetro” onde definiu cinco expressões faciais: sorriso; inexpressividade; tristeza, dor e terror. Anos mais tarde, o estudo permitiu concluir que não se poderia estabelecer uma relação causal entre as expressão e as causas da morte.

Para além das máscaras, diz-nos João Pinheiro, vice-presidente do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, outra característica incontornável da exposição é o seu carácter documental. “Facies Mortis: histórias de vida e rostos da morte” encontra-se “exaustivamente documentada, facto que a investe de grande importância museológica e interesse cultural”. É a primeira vez que este grande conjunto de peças do espólio do Instituto pode ser visto pelo público.

Para além de fotografias do cadáver, ou desenhos quando ainda não era possível o recurso à fotografia, há o registo detalhado da circunstância e local do crime, recortes de jornais, objetos (como cordas) utilizados pela vítima, processos de autópsia, pedaços de peças de roupa e até cartas de despedida. Este é um dos casos reais, de um agricultor, que tenta assim fazer prova da sua inocência. A exposição apresenta também, pela primeira vez, fragmentos de pele, alguns de pele tatuada, outros que denunciam o recurso ao método que culminou no suicídio por enforcamento.

Inaugurada no passado dia 28 de novembro, “Facies Mortis: histórias de vida e rostos da morte” é o evento que celebra os 15 anos do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses enquanto instituição nacional, resultante da unificação dos institutos de Coimbra, Lisboa e Porto.

Com entrada livre, a exposição pode ser visitada de segunda a sexta-feira, entre as 10h00 e as 18h00, e ao sábado, entre as 15h00 e as 18h00.