Investigação do ISPUP descobriu, pela primeira vez, que existe uma associação entre as propriedades físicas do osso e o desenvolvimento de diferentes tipos de postura. (Imagem: Pixabay)

Um estudo assinado por investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) descobriu, pela primeira vez, que existe uma associação entre as propriedades físicas do osso e o desenvolvimento de diferentes tipos de postura.

“Apesar de haver uma potencial relação biomecânica entre osso e postura, ela nunca foi demonstrada, pelo que este é o primeiro trabalho em que isso é feito”, refere Fábio Araújo, primeiro autor da investigação, coordenada por Raquel Lucas, e publicada na revista “The Spine Journal”. Ana Martins, Nuno Alegrete e Laura Howe são os investigadores que integram também este estudo.

Sabe-se que as propriedades físicas do osso podem fazer com que as vértebras da coluna alterem a sua orientação, o que pode condicionar as diferentes posturas. Assim, os investigadores definiram o objetivo de analisar a relação entre as propriedades físicas do osso e os diferentes tipos de postura em crianças com 7 anos de idade, procurando também compreender o papel das quantidades de gordura e de músculo corporais nessa relação.

Para tal, analisaram 1.138 raparigas e 1.260 rapazes, com 7 anos de idade, pertencentes à Geração XXIcoorte iniciada em 2005, que acompanha o crescimento e o desenvolvimento de mais de 8.000 crianças nascidas em hospitais públicos da Área Metropolitana do Porto.

Conseguiu-se, antes de mais, mostrar que existe um perfil antropométrico variável (relação peso, altura, índice de massa corporal) e de composição corporal (gordura e músculo) em função dos diferentes tipos de posturas.

Assim, as crianças que apresentam um padrão postural retificado (coluna reta) são mais leves, mais baixas, têm menor índice de massa corporal e têm menor quantidade de gordura e de músculo. Já as crianças com um padrão postural de curvaturas aumentadas (o oposto) são mais pesadas, mais altas, têm maior índice de massa corporal, maior quantidade de massa gorda e também mais músculo.

“Assim, conseguimos demonstrar, pela primeira vez, que a gordura e o músculo também influenciam grandemente o tipo de postura demonstrada, para além das questões antropométricas”, avança Fábio Araújo.

Os investigadores mostraram, ainda, que as crianças com o padrão postural retificado apresentam um esqueleto menos resistente – menor conteúdo mineral e menor densidade mineral óssea – mas isso deve-se às suas características antropométricas e de composição corporal. Já as crianças com o padrão postural de curvaturas aumentadas possuem maior massa e densidade mineral ósseas, mas, aqui, estas características não são completamente explicadas pelas diferenças verificadas no peso, altura, índice de massa corporal e massa gorda ou massa livre de gordura.

“No perfil postural de curvaturas aumentadas, existe uma relação particularmente forte entre a postura e as propriedades físicas do osso. Existe, na verdade, uma potenciação destas duas vertentes através de mecanismos de sustentação da posição de pé. Isto é: como as crianças têm mais peso, necessitam de fazer mais força para o suportar contra a gravidade, o que faz com que as vértebras sejam comprimidas. Este stress mecânico promove a formação de mais tecido ósseo, traduzindo-se em alterações da orientação vertebral no sentido de promoção de uma postura com curvaturas aumentadas”, continua o investigador.

Concluindo, “existe uma relação entre o osso e a postura. Sabemos agora que, se afetarmos o osso, afetamos também a postura, a qual está relacionada com problemas músculo-esqueléticos, como o desenvolvimento de dores nas costas. Por outro lado, se alterarmos a postura, poderemos conseguir influenciar a forma como o osso se desenvolve, o que pode ser importante para tratar problemas como a osteoporose”, remata.