“Análise quantitativa da sustentabilidade da terceira geração de biocombustíveis utilizando dados de processo de uma bio-refinaria de microalgas”. É esse o nome da tese de doutoramento de Monique Branco e que acaba de valer à antiga estudante do Programa Doutoral em Engenharia Química e Biológica da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) a conquista do Prémio Científico Mário Quartin Graça 2020 na categoria de Tecnologia e Ciências Naturais.

A 11ª edição deste prémio, criado por iniciativa do Santander Universidades e da Casa da América Latina, voltou a distinguir as melhores teses de doutoramento realizadas em Portugal e no espaço latino-americano.

A tese de doutoramento de Monique Branco focou-se na viabilidade da produção de biocombustíveis a partir de microalgas, valorizando os resíduos gerados nesse processo para extração de outros produtos que têm valor de mercado.

“Nesta investigação, concentrei-me na análise da produção de biocombustíveis e compostos de valor acrescentado, tais como pigmentos, proteínas e biosílica, a partir da biomassa de microalgas, que são organismos unicelulares.”, afirma a engenheira nacionalidade portuguesa e brasileira.

Uma tese amiga do ambiente

Para o desenvolvimento do trabalho agora premiado com 3 mil euros, a investigadora utilizou dois conceitos: um primeiro relacionado com a bio-refinaria, “análogo àquele utilizado numa refinaria petrolífera onde é possível obter vários compostos a partir de um único recurso natural”; e o de economia circular, uma vez que o processo foi desenvolvido sem a geração de resíduos e através da extração de compostos com alto valor de mercado que poderão ser reutilizados em novas aplicações.

“A utilização do conceito de economia circular é de extrema importância no desenvolvimento de novos processos, uma vez que atribui uma ‘nova vida’ aos resíduos, estendendo assim o ciclo de vida da matéria-prima extraída, ao invés de serem imediatamente eliminados. A bio-refinaria vai igualmente nesse sentido. Dá valor a uma multiplicidade de componentes das microalgas (em vez de só os óleos) e a produção desse tipo de biomassa tem a vantagem de não competir no uso do solo agrícola para alimentação, acabando por não comprometer a segurança alimentar dos países.”, explica a alumna da FEUP.

Uma das mais-valias da tese feita no âmbito do seu doutoramento na FEUP, realizado em cotutela com a Universidade Federal do Rio de Janeiro, é o seu caráter inovador e sustentável. A investigadora, que partiu da análise do potencial biotecnológico da biomassa de uma microalga nativa do Chile, apostou na utilização das microalgas como fonte alternativa e renovável para a produção de bioenergia, a qual apresenta “um impacto ambiental reduzido em comparação às culturas tradicionalmente utilizadas para esse fim, como a soja, o milho e a cana-de-açúcar”.

Com a FEUP no coração

Monique Branco encontra-se atualmente na Alemanha a colaborar em projetos de análise e modelagem in silico de dados com o Laboratory for Process Engineering, Environment, Biotechnology and Energy (LEPABE) da FEUP e com o laboratório da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mas já tem os olhos postos no futuro. Pretende dar continuidade à investigação que começou na Faculdade de Engenharia da U.Porto, uma instituição que afirma ter tido “grande impacto e importância” no seu percurso académico e profissional.

“Quero continuar a desenvolver o meu projeto neste campo de atuação, uma vez que demonstra ser bastante promissor. Esta área oferece muitas oportunidades de exploração, através do vasto portefólio de produtos que podem ser desenvolvidos e projetados para indústrias de diversos seguimentos, a fim de fomentar a transição para uma economia mais verde”, remata a vencedora do Prémio Científico Mário Quartin Graça 2020.