T-shirts que produzem e armazenam energia? Vai ser possível graças a uma equipa de investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP). Ainda não estão à venda, mas já estão a fazer sucesso junto de uma empresa e entre a comunidade científica.

O segredo está num polímero sólido gel que tem a característica única de produzir e armazenar energia em simultâneo. O trabalho é multidisciplinar e conta com uma equipa de investigadores do Instituto de Física dos Materiais Avançados, Nanotecnologia e Fotónica da U.Porto e do Laboratório Associado Química Verde – Requimte (LAQV-REQUIMTE).

Estas t-shirts vão usar um processo conhecido como termoforese, um processo que permite transferir energia entre dois materiais aproveitando as diferenças de temperatura. Esta obtenção de energia até agora só era conhecida com aplicação em ambiente líquido. A vantagem deste sólido gel é a facilidade de aplicação e uso em peças de roupa.

E como vai funcionar este polímero gel? “Temos um eletrólito sólido gel e nesse eletrólito temos uma determinada concentração de iões. Com a promoção do gradiente de temperatura conseguimos fazer com que os iões se transportem da zona quente para a zona fria e vai gerar energia”, explica André Pereira, docente e investigador da FCUP.

Já o armazenamento é promovido por elétrodos constituídos por nanomateriais. Estes elétrodos vão agarrar a energia e impedir que ela desapareça quando é produzida.

Projeto envolveu uma equipa multidisciplinar de investigadores da Química e da Física. (Foto: DR)

T-shirts poderão estar ligadas a sensores de sinais vitais

Estas novas t-shirts poderão ter várias aplicações no futuro, recorrendo a sensores de baixo consumo. Estes poderão ser usados, por exemplo, em aplicações médicas ou para medir dados como a pulsação ou o número de calorias e enviá-los posteriormente para o telemóvel.

“Estamos a direcionar este projeto para o fornecimento de energia a sensores que monitorizam sinais vitais. Estes sensores não consomem muita energia, e podem tirar partido da variação de temperatura entre pele e tecido e do facto de estarem em contacto com a pele”, explica a investigadora Clara Pereira, da FCUP e do LAQV-REQUIMTE, em entrevista ao jornal Expresso.

O trabalho está a ser desenvolvido em conjunto com o Centro Tecnológico do Têxtil e Vestuário e uma empresa de indústria têxtil, que ainda não foi revelada. A ideia é desenvolver um novo produto comercial. “Trabalhamos sempre tendo em atenção a componente comercial, usando métodos e componentes facilmente escaláveis”, conta André Pereira.

Esta tecnologia, também criada pela investigadora do IFIMUP, Ana Pires, e pelo estudante de doutoramento da FCUP, Rui Costa, já está em processo de patente a nível europeu e surge descrita num artigo da revista “ACS Aplied Electronics”.