O cenário sai da tela, torna-se físico, palpável. Dá para espreitar. Nas paredes, a mesma personagem, mas em narrativas diferentes. Serão sequências da mesma história? Preparado para uma experiência nova que o cinema de animação de autor lhe propõe? Splendid Isolation é uma exposição para conhecer de 6 a 28 de novembro, na Galeria da Biodiversidade – Centro Ciência Viva do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto (MHNC-UP).

Existe uma estufa por perto, no Jardim Botânico da U.Porto, é certo. Mas não dentro da própria casa! Da pelicula para o real, Splendid Isolation traz-nos uma estufa e coloca-a dentro da Casa Andresen. E há alguém, de vestido rendado e longos cabelos negros, que cuida dela.  Esta é uma exposição que acompanha a edição deste ano do Festival Cinanima e o expande. É outra abordagem ao cinema de animação de autor.

Trata-se de um tríptico de animação expandida, ou seja, em vez de entrar numa sala de cinema e olhar para uma só tela, aqui terá três projeções diferentes, sendo que, a cada uma corresponde uma ação, uma narrativa e um tempo diferentes. São três pequenas histórias (de 90 segundos cada) projetadas na parede, tendo em comum a mesma personagem: uma boneca que se move de acordo com a técnica tradicional de animação de marionetas.

Splendid Isolation (Foto: DR)

Para além das projeções na parede desta sala da Galeria da Biodiversidade – Centro Ciência Viva, haverá outro motivo de interesse a disputar a atenção: a própria estufa onde parte da ação acontece. É o cinema a ganhar uma dimensão física.

A técnica de animação utilizada foi a Stop-Motion que nos dá a ideia de um objeto em movimento pelo recurso a uma sucessão de imagens, neste caso, fotografias. Cada manipulação do objeto, ou seja, cada movimento da boneca foi fotografado e a sucessão destas imagens cria a ilusão do movimento.

Como a duração das projeções não é uniforme, as animações acabam por coincidir em pontos diferentes a cada ciclo. O “tríptico” utiliza a estrutura narrativa cíclica para brincar com a ideia de deslocar constantemente a relação de causa e efeito. A projeção central mostra-nos a protagonista a cuidar das plantas, numa estufa, enquanto as outras duas projeções colocam a personagem em enredos alternativos, noutro contexto. Com projeções em loop, a tentativa de estabelecer uma sincronização da ação baralha-se. Baralha-nos.

Com diferentes leituras a cada observação, cada ciclo pode oferecer uma experiência diferente. Haverá continuidade entre as narrativas? Uma levará à outra? Como termina esta história?

Splendid Isolation inaugura às 18h30 do dia 6 de novembro. A exposição / instalação pode ser visitada até 28 de novembro, de terça-feira a domingo, na Galeria da Biodiversidade – Centro Ciência Viva, das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h00. Tem entrada livre.

Sobre Lea Vidakovic

Lea Vidakovic é uma artista multimédia que trabalha no campo das instalações animadas, práticas de multimédia expandidas e animação tradicional de bonecos. Com pós-graduação e mestrado como artista gráfica e pintora (Academy of Fine Arts, Zagreb), pós-graduação em animação (Volda University College, Noruega), mestrado em artes audiovisuais e animação (Royal Academy of Arts, Bélgica) e um doutoramento em estudos de animação (NTU/ADM Singapura), os seus interesses de investigação incluem narrativas fragmentadas e novas abordagens de narração para instalações animadas, cinema expandido e narração de histórias.

Expôs internacionalmente em numerosas exposições individuais e coletivas, em mais de 200 festivais de animação, e é vencedora de vários prémios de arte e cinema. Participou em várias residências de arte e animação, conferências e festivais de animação na seleção de filmes e como júri.

A viver atualmente em Lisboa, onde trabalha como professora assistente na universidade Lusófona, Lea Vidakovic é investigadora doutorada na Nanyang Technological University, Singapura. É também membro da Associação de Artistas Croatas (HDLU) e da Associação de Artistas da Voivodina (SULUV).