Foi numa sessão online com mais de 50 participantes que o júri do Business Ignition Programme (BIP) 2020, promovido pela U.Porto Inovação,  anunciou os três vencedores da edição deste ano. Sete projetos apresentaram o seu pitch ao júri, convidados e público em geral, e três tecnologias na área da saúde levaram para casa os prémios de 4000, 2500 e 1000 euros, respetivamente

Em primeiro lugar ficou o NanoPyl, desenvolvido por uma equipa de investigadores do INEB/i3S em colaboração com a Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP). Esta tecnologia pretende “responder à necessidade urgente de tratamentos alternativos antibióticos para a infeção gástrica provocada pela bactéria Helicobacter pylori”, explica Paula Parreira, uma das promotoras do projeto.

A Helicobacter pylori é uma bactéria “que infeta cerca de 50% da população mundial e a sua prevalência em Portugal é “muito frequente”. Os tratamentos existentes atualmente são à base de antibióticos que, não só provocam efeitos secundários adversos, como têm também uma percentagem de resistência entre 20 a 40%, deixando “1,6 mil milhões de pessoas sem tratamento alternativo em todo o mundo”, acrescenta Paula Parreira.

O NanoPyl surge então como uma estratégia não baseada em antibióticos e com um preço muito acessível: “Pretende ser a resposta não só para estes pacientes mas também para a erradicação massiva da bactéria”, referem os cientistas.

O prémio monetário conquistado no BIP será usado para assegurar a continuidade da patente internacional e também para financiar mais uma etapa de validação do NanoPyl. “Neste momento, pretendemos usar o NanoPyl para iniciar um ensaio clínico piloto e fazer a primeira demonstração em humanos”, refere Paula Parreira.

Nova esperança contra as doenças periodontais

Em segundo lugar, ficou o projeto Biomaterials for oral/maxillofacial reconstruction. Como o próprio nome indica, trata-se de uma abordagem inovadora para a regeneração dos tecidos orais e maxilo-faciais, nomeadamente na “regeneração do osso e do tecido periodontal no contexto clínico patológico e reconstrutivo”, explica Rodrigo Val d’Oleiros Silva, investigador do i3S.

Apesar de as complicações das doenças periodontais afetarem 90% da população mundial, não existe, segundo a equipa promotora, uma solução válida e duradoura. Assim, os investigadores colocaram mãos à obra com uma tecnologia baseada na incorporação de matrizes extracelulares descelularizadas (MEds) isoladas de membranas fetais humanas (MFd), resultando numa “abordagem minimamente invasiva e num novo conceito terapêutico que permite a recuperação funcional de tecido ósseo e periodontal/gengival de forma simultânea”, refere Rodrigo Val d’Oleiros Silva.

Com o prémio conquistado no BIP a equipa pretende continuar a “preparar o futuro desenvolvimento e exploração do projeto ao publicar os seus resultados, atraindo potenciais investidores, clientes e outras partes interessadas.”

Equipa do projeto Biomaterials for oral/maxillofacial reconstruction. (Foto: DR)

Solução inovadora para doentes bipolares

O terceiro lugar do BIP foi conquistado pelo projeto Lithium Meter, desenvolvido por investigadores do REQUIMTE/FFUP. Trata-se de um dispositivo de baixo custo para a monitorização dos níveis de lítio no sangue em doentes bipolares, utilizando apenas uma gota de sangue.

“A grande vantagem do Lithium Meter assenta na sua portabilidade, rapidez de medição e menor volume de amostra relativamente às análises clínicas convencionais, que envolvem processos longos, difíceis e invasivos”, explica Renato Gil, um dos promotores do projeto.

Equipa do projeto Lithium Meter. (Foto: DR)

O grande objetivo da equipa passa por oferecer acessibilidade e autonomia ao paciente para monitorizar, com maior frequência, os níveis de lítio no sangue. Tem ainda a vantagem de estar emparelhado com uma app para smartphone “que partilha com o médico psiquiatra os resultados em tempo real para um ajuste da dose mais rápido e efetivo”, explicam os investigadores.

O prémio conquistado no BIP será utilizado no avanço tecnológico da solução. “Apesar de estar validada em laboratório, requer agora o desenvolvimento de um protótipo”, concluem.

BIP: “Uma ferramenta muito útil na capacitação da comunidade produtora de conhecimento”

As palavras são de Joana Resende, Pró-Reitora da Universidade do Porto, e assinalaram o encerramento da sessão de Pitch. “Este foi um belíssimo final de tarde, com projetos muito promissores”, referiu, salientando a importância deste tipo de iniciativas para ajudar a “levar o conhecimento para o mercado”.

No total, esta edição do BIP contou com a participação de 12 equipas ao longo de nove sessões. Estas foram conduzidas pela BTEN que, com a sua consolidada experiência, conseguiu adaptar as sessões às necessidades do grupo em contexto de pandemia e, por isso, à distância, estando sempre em contacto com as equipas.

Segundo José Matos, da BTEN, essa colaboração foi recíproca: “Foi um grande prazer. Sentimos sempre, da parte de todos os grupos, que a nossa contribuição não estava, passo a expressão, a cair em saco roto. Todos estavam a aproveitar e a interagir e isso fez com que sentíssemos um grande entusiasmo com os projetos também”. Graças a esse entusiasmo mútuo, a BTEN manifestou interesse em continuar a acompanhar projetos do BIP 2020.

A edição de 2020 do Business Ignition Programme não teria sido possível sem o apoio do Santander Universidades, que tem o empreendedorismo como um dos principais eixos de atuação. Sofia Menezes Frère, em representação da entidade, felicitou todos os participantes, independentemente de quem se sagrou vencedor.

“É com enorme satisfação que o Santander se associa a este projeto emblemático da Universidade do Porto. Estou certa que esta iniciativa já produziu, e continuará a produzir, projetos de grande interesse”, concluiu.