As investigadoras Sofia Moreira e Rita Costa conquistaram, respetivamente, o prémio de Melhor Tese de Doutoramento e uma Menção Honrosa atribuídos pela Sociedade Portuguesa de Biologia do Desenvolvimento (SPBD) a teses defendidas no biénio 2018/2019. Os trabalhos das duas antigas estudantes do Programa Doutoral em Biologia Molecular e Celular do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) foram desenvolvidos do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), nos grupos de investigação «Epithelial Polarity & Cell Division» e «Nerve Regeneration».

Denominada “A fosforegulação da proteína supressora de tumores Lgl durante o ciclo celular em Drosophila”, a tese defendida por Sofia Moreira tinha como objetivo central “perceber de que forma as células epiteliais coordenam a saída de mitose (a divisão de uma célula em duas células-filhas) com a localização basolateral de Lethal giant larvae (Lgl), uma proteína que é essencial para definir a forma e arquitetura da célula epitelial. Esta coordenação é fundamental para a manutenção da integridade e homeostasia dos tecidos epiteliais”.

Este trabalho de doutoramento, que já mereceu honras de publicação na prestigiada revista Cell Reports, permitiu desvendar “a primeira fosfatase capaz de desfosforilar o Lgl para controlar a sua localização e função nos tecidos epiteliais”.

Segundo Sofia Moreira, “esta investigação contribuiu para uma melhor compreensão de processos básicos de desenvolvimento e subjacentes a doenças associadas à perda da polaridade e arquitetura do epitélio, tais como os carcinomas”. Mas a maior recompensa, garante a jovem investigadora, “foi poder homenagear o meu orientador, Eurico Morais de Sá, com esta distinção, que reflete essencialmente o sucesso de uma orientação exemplar e de um intenso trabalho de equipa”.

Desde a defesa da tese, em setembro de 2019, Sofia Moreira teve oportunidade de publicar na revista Development o trabalho correspondente à última parte da tese, resultante da colaboração com o investigador Guilherme Ventura. A investigadora, que é também licenciada em Biologia e mestre em Biologia Celular e Molecular pela Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP). está agora no Instituto Gulbenkian de Ciência com um contrato CEEC para investigador júnior atribuído pela FCT.

Uma nova esperança para lesões da espinal medula

A tese defendida por Rita Costa, por seu lado, foi orientada pela líder do grupo «Nerve Regeneration», Mónica Sousa, e centrou-se na “identificação de terapias que promovem a recuperação neurológica após lesões ou traumas da espinal medula, nomeadamente a regeneração do axónio (prolongamento do neurónio que estabelece ligação a uma célula alvo) e reparação da medula”

“Usando modelos com diferentes capacidades regenerativas, o nosso grupo identificou a proteína Profilina-1 (Pfn1) como um dos principais participantes nos mecanismos celulares que impulsionam o crescimento e a regeneração dos axónios. O objetivo foi testar in vitro a eficácia de uma versão modificada da Profilina-1, uma versão constitutivamente ativa da proteína, como estratégica de regeneração após lesão”, explica Rita Costa.

O trabalho, premiado anteriormente pelo programa Resolve, pelo Fundo «Morton Cure Paralysis» e ainda com o Prémio Inovação Bluepharma / Universidade de Coimbra 2017, permitiu então demonstrar que “a Profilina-1 promove, efetivamente, o crescimento axonal com efeitos robustos e surpreendentes. Nenhuma outra molécula, quando presente em elevadas quantidades dentro do neurónio, se mostrou capaz de produzir um efeito semelhante”, nota a jovem investigadora, que é também licenciada e mestre em Bioquímica pela FCUP.

Mais recentemente, e ainda no seguimento da tese, Rita Costa e Mónica Sousa publicaram um artigo na revista científica «The Journal of Clinical Investigation» onde apresentam “evidências in vivo de que a administração da proteína modificada em modelos animais, através da utilização de veículos virais não patogénicos, já utilizados na clínica, promove a regeneração dos axónios lesionados. Em nervos ciáticos lesionados, esta proteína conduz à maturação de junções neuromusculares e recuperação funcional. Em animais com lesão medular, ocorre o aumento da capacidade dos axónios do sistema nervoso central penetrarem na cicatriz que se forma na espinal medula após lesão”.

Neste momento, a equipa onde se inclui Rita Costa está a avaliar o potencial terapêutico da entrega de Profilina-1 usando modelos mais próximos da clínica. Até ao momento, explica, “os nossos resultados revelam que animais tratados com administração intravenosa de Profilina-1 apresentam recuperação após lesão no sistema nervoso central”.

Dada a relevância dos resultados obtidos, adianta Rita Costa, “começámos a explorar a possibilidade de translação desta terapia para a clínica no âmbito de um projeto «Caixa Impulse»“.

Sobre o Prémio

Atribuído pela primeira vez em 2018, o prémio de Melhor Tese de Doutoramento da SPBD é entregue, de dois em dois anos, ao(s) autor(es) das melhores teses de doutoramento na área da Biologia do Desenvolvimento, apresentados em instituições científicas portuguesas no biénio anterior.

As candidaturas à terceira edição do galardão – que vai premiar a melhor tese do biénio 2020/2021 – já estão a decorrer.