Um trabalho sobre o papel do ferro na leucemia mieloide aguda (LMA), da autoria de uma equipa de investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S)  conquistou recentemente o Prémio Nacional de Hematologia, destinado ao melhor trabalho de hematologia realizado em instituições nacionais. A distinção, no valor de 25 mil euros, foi atribuída pela Sociedade Portuguesa de Hematologia e entregue na última reunião daquele organismo.

Publicado na revista Blood Advances, o estudo premiado avança com um novo biomarcador de prognóstico da leucemia mieloide aguda (LMA), uma doença agressiva, provocada pela proliferação descontrolada de células progenitoras mieloides na medula óssea (MO) e no sangue. Apresenta normalmente um mau prognóstico e, apesar da investigação ativa nesta doença, as opções terapêuticas continuam limitadas.

“Sabemos que as células de leucemia dependem de alterações genéticas específicas, mas também sabemos que existem fatores extrínsecos a estas células cancerígenas que determinam a sua proliferação e a resistência à quimioterapia. Por essa razão é muito importante perceber melhor o papel desses reguladores extrínsecos na LMA, nomeadamente do ferro, que ainda está pouco explorado»”, explica Marta Lopes, primeira autora do artigo e estudante do programa doutoral de Ciências Biomédicas do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), a desenvolver a sua investigação no grupo «Hematopoiesis and Microenvironments» do i3S.

Com recurso a amostras de pacientes do IPO-Porto com LMA e a modelos pré-clínicos de ratinho de LMA, a equipa, liderada pelo investigador Delfim Duarte, descobriu que, no momento do diagnóstico, “a LMA é uma doença que apresenta um perfil de ferro único, caracterizado por ferritina alta, transferrina baixa, saturação da Transferrina (TSAT) alta, e hepcidina muito alta”.

O modelo de ratinho de LMA, acrescenta Marta Lopes, “permitiu-nos demonstrar que as células de leucemia acumulam ferro e que existe uma perda de eritroblastos derivado à redistribuição de ferro. Também observámos um aumento da sobrevivência em pacientes com níveis de TSAT elevados ao diagnóstico”.

De acordo com a investigadora, “estes resultados são muito importantes, porque permitem uma maior compreensão do papel do ferro na LMA e apontam para a TSAT como um potencial marcador de prognóstico. Para além disso, acrescenta, «podem abrir portas a potenciais novas terapias, através de mais estudos que explorem os mecanismos subjacentes ao potencial efeito anti-leucémico do ferro que observamos».

Tendo em conta que este artigo foi selecionado pela Sociedade Portuguesa de Hematologia pela sua #originalidade, relevância científica, clareza, rigor e pelo seu impacto”, Marta Lopes encara o prémio como “um reconhecimento público da importância do trabalho que temos vindo a desenvolver na área da Hematologia. É motivador e incentiva-nos a continuar a nossa investigação na área das leucemias e biologia do ferro”.

O valor associado ao prémio “será também importante para execução dos projetos em desenvolvimento nesta área a decorrer no nosso grupo de investigação no i3S”, conclui.