É, cada vez mais, a Casa que todos temos em Comum. Está tudo a postos para acolher mais um projeto que nos faz fervilhar de ideias e, mais do que isso, aprofundar o conhecimento e exercitar a melhor forma de o comunicar. De o fazer chegar ao outro. Musculando pontos de vista, deixando margem de manobra para encaixar fundamentações alheias e até nos antípodas do que acreditamos. Exercitamos o debate como um meio de promover o “espírito crítico”, a “compreensão mútua” praticando, em simultâneo, “o amor à língua”, “às palavras e às ideias”, dizem os responsáveis para Sociedade de Debates da Universidade do Porto (SdDUP). É já no próximo dia 23 de março, a partir das 18h00, que a Reitoria da U.Porto acolhe aquele que se espera ser o primeiro de muitos futuros encontros, na Casa Comum.

U.Porto Argumenta

O modelo que a SdDUP  vai apresentar na Casa Comum vai chamar-se U.Porto Argumenta e subdivide-se em dois tipos de eventos. Um deles terá dois oradores, com diferentes pontos de vista sobre uma questão que seja relevante para a comunidade académica, e um moderador. O moderador irá ouvir a opinião do público, saber quem é contra, quem é a favor, e porquê. No final da discussão, a “pesquisa de opiniões” será refeita, de forma a perceber se houve quem mudasse de opinião e porquê.

Para Marília Montenegro, esta atividade é “importante para a formação de um cidadão”. Permite “o contacto com diferentes pontos de vista e com pessoas que estão fora da ‘nossa bolha’ e da nossa zona de conforto. É transversal a todos os cursos e backgrounds. Leva-me a questionar o que eu vejo como unilateral”, refere a estudante finalista da licenciatura em Psicologia da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da U.Porto (FPCEUP).

O segundo evento convida um especialista a falar sobre um tema da atualidade considerado pertinente para a comunidade académica. Mostrar como e porque motivo é relevante, como nos afeta no dia-a-dia. Após a apresentação, segue-se um debate, que segue o modelo utilizado pela SdDUP no circuito competitivo, com base no modelo do parlamento britânico, mostrando também assim a atividade principal da associação. Os temas e os eventos serão variados para atingir diferentes públicos da comunidade académica.

Este modelo tem a particularidade de o tema em debate ser divulgado aos participantes com apenas 15 minutos de antecedência. O que significa que “cada orador deve estar atento à realidade para que, rapidamente, possa construir uma comunicação eficaz e fundamentada”, explica a Presidente da SdDUP, Marília Montenegro. Por outro lado, a argumentação de um ponto de vista potencia “o pensamento critico, o respeito pelo outro, o saber ouvir e a capacidade de falar em público”.

 

SdDUP: 13 anos de debates e vitórias

A diversidade e a tolerância, a lealdade, respeito e cavalheirismo, a paixão pela luta dos objetivos próprios e a formação de líderes empenhados em debater ideias com lealdade e respeito são alguns dos valores do projeto que surgiu em 2010, da união de dois: a Sociedade de Debates da Faculdade de Direito (FDUP) e o Clube de Debates da Faculdade de Economia (FEP).

Atualmente com mais de 1000 associados, entre estudantes de licenciatura, mestrado e doutoramento, assim como alumni, docentes e funcionários, a SdDUP foca a sua missão na organização de debates e eventos de formação, bem como na participação em competições internacionais, lado a lado com sociedades de debates homólogas que atuam nas melhores universidades do mundo.

O caminho da internacionalização começou em 2011, com a participação de dois membros na “International Debate Academy Slovenia”. Desde então, a SdDUP já participou em competições de debates em diversos pontos do Mundo, tais como: Cambridge, Galway (Campeonato da Europa 2011), Oxford, Budapeste, Pequim, Éilat (Israel), Ljubljana, Viena, Belgrado (Campeonato da Europa 2012), e Manila (Campeonato do Mundo 2012). Em 2013, uma equipa da SdDUP sagrou-se mesmo campeã mundial de debate universitário.

Um espaço de formação de líderes onde a diversidade de opiniões é privilegiada, assim como a pluralidade de pensamento e a liberdade de expressão. Onde os estudantes possam desenvolver softskills e sejam capazes de construir um discurso competitivo, mas não demagógico, aguçado, mas não ofensivo, eloquente, mas claro. Responsável, irreverente e, se possível, com bom humor. É isto que a Sociedade de Debates da U.Porto fomenta, contribuindo, em simultâneo, para uma afirmação da Universidade dentro e fora de portas.

Uma vitória inédita

A mais recente vitória da SdDUP aconteceu em fevereiro passado, no Torneio Nacional de Debates Universitários (TORNADU), realizado pela Sociedade de Debates da Universidade de Coimbra (SDUC). A dupla constituída por Gabriela Werdan (estudante da FCUP e atual Presidente da Mesa de Assembleia Geral da SdDUP) e Ana Cláudia Freitas (licenciada em Direito e atual estudante da FPCEUP) venceu a Ronda Geral da competição, tornando-se a primeira dupla feminina a vencer um torneio nacional.

Apesar das adversidades, o lema preconizado por Ana Cláudia Freitas foi “Em condições normais vamos ser campeãs. Em condições anormais, também vamos ser campeãs.” Efetivamente, concretizou-se. Para Gabriela Werdan, o estar informado sobre a atualidade é fundamental, nomeadamente quando é necessário “debater temas completamente fora da nossa zona de conforto.”

A flexibilidade mental é outra das características fundamentais ao debate, como sublinha Ana Cláudia Freitas, ou seja, ter a “capacidade de pensar além daquilo em que nós e o nosso grupo tendemos a acreditar”. Outros elementos fundamentais: o respeito e partilha de feedbacks, com “críticas construtivas e conselhos”.

A estudante da FPCEUP reconhece que há métodos diferentes para pessoas diferentes e que cada um deve “aproveitar os treinos para errar, para experimentar, e ver o que pode ou não funcionar no nosso caso”.

Vitória também para a dupla de iniciados, Maria Cunha (FEP) e Bruno Oliveira (FEP) que venceu ainda o primeiro lugar do Top 10 de melhores oradores de iniciados.

Durante os três dias, instituições universitárias de todo o país, realizaram rondas de debates sobre temas como a guerra entre Rússia e Ucrânia, relação entre a emancipação feminina e a maternidade, entre outros.