A primeira série de ficção portuguesa sobre educação para a Saúde, produzida pelo Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) e pelo Ipatimup, em parceria com a Fundação Belmiro de Azevedo – 2′ Minutos para mudar de vida – venceu recentemente dois Telly Awards, foi nomeada para o prémio principal dos MEDEA Awards e selecionada como um dos sete finalistas da 1.ª edição do Health for All Film Festival, criado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Dos Estados Unidos, chegaram dois prémios na 41.ª edição dos Telly Awards: Gold Winner na categoria Television: Fitness, Health & Wellness e Bronze Winner na categoria Television: Public Interest/Awareness. Esta edição recebeu mais de 12 mil candidaturas provenientes de todo o mundo e inclui como vencedores a BBC, HBO Latin America, CNN, Al Jazeera, CBS, Smithsonian Channel, PBS, NASA/Hubble, Sony Music Entertainment e o Malala Fund.

Já na 1.ª edição do Health for All Film Gestival, uma iniciativa da OMS para promover os melhores trabalhos de documentário ou animação sobre saúde onde foram submetidos 1300 trabalhos de 119 países, um dos episódios da série foi selecionado como um dos sete finalistas da categoria de «Non-Communicable Diseases. “Ganhou a BBC, mas isso não faz com que nos sintamos menos honrados”, nota Nuno Teixeira Marcos, coordenador da Unidade de Prevenção de Cancro do Ipatimup.

A «2′ Minutos para mudar de vida» está ainda nomeada para o prémio principal dos MEDEA Awards, cujo vencedor será conhecido em outubro, numa cerimónia a decorrer em Leuven, na Bélgica, em paralelo com a conferência Media & Learning 2020. “Em 12 edições, não obstante algumas menções honrosas, é a primeira vez que um projeto português é nomeado para o prémio principal. Concorreram mais de 200 instituições e apenas sete chegaram à final”, destaca Luís Carvalho, coordenador de conteúdos e argumentistas.

“Um estímulo para fazermos mais”

A série, constituída por 20 episódios, foi transmitida na RTP em horário nobre, e inseriu-se numa campanha multiplataforma – televisão, web, mobile e sessões presenciais – de educação para a saúde que promove as mudanças de comportamento ao alcance de cada um para prevenir as doenças não-transmissíveis. A nível de audiências, os números também são promissores: mais de três milhões de telespectadores viram os episódios.

Para os autores do formato, Nuno Teixeira Marcos, Luís Carvalho, Nuno Ribeiro e Paulo Gomes, da Unidade de Prevenção de Cancro do Ipatimup, estes prémios e distinções, assim como os resultados das audiências da série, “são um estímulo para fazermos mais”.

“Foi um desafio tão colossal e tão extenuante, em que sabíamos que estávamos a fazer algo novo e com verdadeiro espírito de missão, que estes prémios são reconfortantes», confessa Nuno Teixeira Marcos. «Corroboram todo o nosso esforço e empenho», enfatiza Paulo Gomes, responsável pela fase de pós-produção e efeitos visuais. «Só podemos estar satisfeitos», remata Luís Carvalho.

Resultado de 28 dias de rodagem, a série foi filmada em 53 locais diferentes, com oito realizadores e 29 atores. (Foto: DR)

Aprender e alterar comportamentos

Em 2019, o Ipatimup/i3S iniciava uma missão que se adivinhava difícil: levar os portugueses a interessarem-se mais por educação para a saúde. “A prevenção ainda é vista como algo secundário, há um vazio muito grande no serviço público e poucas oportunidades de financiamento”, explica Nuno Teixeira Marcos.

Assumindo a aposta arriscada, os autores decidiram avançar com um conceito novo, “combinando o poder das narrativas com mensagens práticas de promoção de saúde ao alcance de todos, capazes de contribuir para a redução do risco de doença”.

A resposta do público não podia ter sido melhor. Como adianta Nuno Ribeiro, “cada episódio teve em média 374 mil espectadores, foram mais de 3 milhões de portugueses a ver algum conteúdo da série”. Nuno Teixeira Marcos explica que «estes números são fantásticos, mas só foram possíveis porque conseguimos que a série fosse exibida no horário nobre da RTP1, o que é algo inédito para um programa de educação em saúde. Tivemos o mérito de não perder os telespectadores, ainda para mais com um tema tradicionalmente pouco aliciante”.

Além da análise das audiências, está a ser concluído um estudo de impacto cujos resultados preliminares são muito promissores. Com efeito, quase 100% dos inquiridos “gostaria de ver mais episódios” e “recomendaria os episódios a familiares e amigos”. Contudo o mais notável, sublinha Nuno Ribeiro, é que “50% dos participantes do estudo reportaram alterações de comportamento após verem os episódios. Além disso, quando testados com perguntas de conhecimento, verifica-se que quem viu a série, tem um aumento significativo no número de respostas certas em comparação com o grupo de controlo”.

Os episódios também foram avaliados em focus groups com médicos que «permitiram uma validação do formato, já que os profissionais de saúde foram consensuais a aprovar a clareza das mensagens e o potencial de promoção de saúde dos episódios”.

Segunda série no horizonte

Um ano após a estreia no horário nobre da RTP1 e com uma banda sonora criada, o projeto continua vivo nas redes sociais e com procura por parte do público, como explica Paulo Gomes, um dos criadores do projeto: “Os posts no facebook e no instagram já chegaram a mais de dois milhões de pessoas e os vídeos no Youtube, na RTP Play, na App e no site foram visualizados mais 60 mil vezes”.

A equipa também criou um kit pedagógico para os professores trabalharem os temas de saúde na sala de aula, que já teve mais de 12 mil downloads, e que “pode ajudar a explicar o aumento de visualizações dos episódios durante o período de confinamento”.

A ultima fase da campanha – que inclui sessões presenciais de debate e proximidade com a população -, a realizar em todo o país, levou já o projeto até Leiria, Guarda e Santarém. As restantes 14 sessões foram adiadas devido às novas normas de distanciamento social.

Na altura em que começou a escrever os episódios, em 2017, a equipa “desenhou” logo 80, escolhendo depois 20 para uma primeira exibição. Por isso mesmo, “no futuro gostávamos de fazer uma segunda série. Os temas já estão definidos para quatro temporadas. Agora temos de procurar financiamento”, sublinha Nuno Teixeira Marcos.

Tendo como principal parceiro a Fundação Belmiro de Azevedo e a RTP como parceiro media, a campanha 2′ Minutos para mudar de vida contou também com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e da Fundação «la Caixa».