Com o objetivo de sensibilizar a comunidade estudantil da Faculdade de Engenharia da Universidade Porto (FEUP) para a importância de fazer escolhas responsáveis relacionadas com a alimentação de forma a diminuir a pegada de carbono, vai ser lançada uma campanha no próximo dia 16 de outubro, Dia Mundial da Alimentação, direcionada aos utilizadores da Cantina da FEUP.
Designada por “Escolha + Responsável”, a iniciativa resulta de um esforço conjunto entre a empresa Gertal (participada da Trivalor SGPS), responsável pela valorização das pegadas de carbono nas ementas, os Serviços de Ação Social da U.Porto (SASUP), que gerem e administram o espaço da Cantina no Campus da Asprela, e ainda a Faculdade de Engenharia, na qualidade de parceira académica deste projeto iniciado em 2022.
Até dezembro, o objetivo passa por disponibilizar informação diária relativa ao prato com menor pegada de carbono servido na cantina. Pretende-se desta forma consciencializar a comunidade académica para o impacto das suas escolhas alimentares, contribuindo para a tomada de decisões mais informadas e ambientalmente mais responsáveis.
“A auscultação da comunidade estudantil visa avaliar se, o acesso a esta informação ambiental, influencia tendencialmente a escolha dos consumidores para práticas mais sustentáveis”, admite Belmira Neto, professora da FEUP e coordenadora deste projeto-piloto.
José Miranda Coelho, diretor dos SASUP, reforça por sua a importância de uma alimentação saudável e do compromisso com a sustentabilidade alimentar, considerando “este projeto piloto muito relevante na medida em que irá permitir sensibilizar os estudantes, neste caso os que frequentam a cantina de Engenharia, que o caminho para alcançar um sistema sustentável depende de todos nós.”
“É preciso mudar mentalidades”
De acordo com Susana Santos, diretora da Gertal, é importante mudar o paradigma associado à informação que é disponibilizada pelos agentes envolvidos na cadeia alimentar. “Este projeto reveste-se de significativa importância, pois possibilita-nos compreender o impacte ambiental dos alimentos e refeições, permitindo-nos incluir novos dados na gestão, que fomentem práticas de produção e consumo alimentar responsável”, assume.
“Pretendemos replicar os resultados a todos os nossos refeitórios e, dessa forma, contribuir para a disseminação de informação científica relevante e validada com vista a promover a transição para sistemas alimentares ambientalmente mais sustentáveis e estilos de vida em maior harmonia com a natureza”, enfatiza a responsável.
A verdade é que a inclusão da informação sobre a pegada de carbono nos serviços de alimentação é ainda uma realidade incipiente a nível mundial. Na opinião de Belmira Neto, “só alguns estudos analisam pontualmente as pegadas de carbono das ementas alimentares de alguns setores da educação com o objetivo de informar o consumidor final”.
Existem ainda estudos de âmbito global (Carbon Trust UK) que revelam um aumento das campanhas de comunicação das emissões de GEE nos produtos, com dois terços dos consumidores a afirmarem que consideram estas campanhas, como uma boa prática. No entanto, a disponibilização da pegada de carbono do prato não é ainda realizada de modo regular.
Apesar de o consumidor final estar cada vez mais atento às questões ambientais, a informação disponibilizada para escolhas informadas é ainda insuficiente. O grupo de trabalho envolvido na campanha de “Escolha + Responsável” acredita que é necessário considerar e incorporar esta dimensão na conceção e elaboração de ementas.
Este esforço de sensibilização deverá envolver a recetividade dos profissionais de saúde, não só para a dimensão nutricional das ementas, mas também para a existência de ferramentas de apoio nas empresas de catering, que possam agilizar e fundamentar a integração desta dimensão da sustentabilidade na provisão dos serviços de alimentação daquelas empresas.
Sobre a Pegada de Carbono
A cadeia de produção alimentar é um dos principais fatores que contribuem para o agravamento das alterações climáticas, sendo responsável por aproximadamente 30% das emissões globais de gases com efeito de estufa (GEE).
Estas emissões possuem um efeito nefasto para as alterações climáticas no planeta e resultam de várias atividades associadas à cadeia alimentar, como por exemplo, a combustão de combustíveis fósseis, a produção e utilização de fertilizantes e pesticidas, a fermentação entérica do gado ruminante e a alteração do uso do solo (incluindo a desflorestação).
A pegada de carbono é uma metodologia que avalia as emissões destes GEE que são libertadas no ambiente ao longo da cadeia de produção alimentar. A cadeia inclui a produção do alimento (cultivo, pesca, produção animal), processamento/manufatura, distribuição/armazenamento, consumo e gestão dos resíduos alimentares.