Rosa Alice Branco nasceu em Aveiro em 1950. Escreveu um livro de contos aos 12 anos. Ofereceu-o ao pai. Foi nos anos de 1980 que publicou seu primeiro livro, Animais da Terra. Amor Cão e outras palavras que não adestram, editado pela Assírio & Alvim, é o seu último livro de poemas. O que será mais fácil, domesticar um animal, ou domesticar a palavra? Dependerá da resistência do domesticado, ou da mestria de quem domestica? As perguntas ficam para depois de Ouvir, 59 minutos de imersão poética, no próximo dia 6 de dezembro, às 18h00, na Casa Comum (à Reitoria) da Universidade do Porto.

Está instalado? A voz que vai ouvir é a de Rosa Alice Branco. “O canídeo sabe tornar-se cortês. A cauda erguida/ aos céus, o pescoço adiantado às patas, embora/ as dianteiras brinquem e os cantos da boca riam./A respiração torna-se arfeira e eu acho que já li isto,/isto dos pequenos saltos, do abanar o rabo/ e sobretudo da respiração. Os avanços mostram/ um certo erotismo cauteloso na abordagem, digo,/ no que respeita ao cão. A cadela aprecia a simpatia do/ macho mas por azar não está no cio e ei-la a saltitar/ como se nada. As vantagens da humanidade são visíveis:/ é sempre possível dizer que sim a um animal.”

Amor Cão e outras palavras que não adestram estabelece um diálogo com a obra de Konrad Lorenz, zoólogo, etólogo e ornitólogo austríaco que recebeu o Prémio Nobel em 1973, pelos estudos sobre o comportamento animal.

Neste livro de poemas, Rosa Alice Branco questiona e baralha as noções de criador e criação, o humano sobre o animal e o homem vs a mulher.

Palavras amestradas

Rosa Alice Branco tem 12 livros de poesia publicados em Portugal, incluindo a sua obra poética reunida Soletrar o Dia (2002). Reconhecida internacionalmente, tem poesia publica em inúmeros países, tanto em livros como em revistas literárias. Participa regularmente em festivais internacionais de poesia e já representou Portugal no Poetry Parnassus Festival, em Londres (2012).

Entre as diversas distinções internacionais que amealhou, destacar-se o Prémio Espiral Maior de Poesia, em 2008, com Gado do Senhor (& etc), tendo sido selecionado como um dos “10 Melhores Novos Livros para Ler em Dezembro» e um dos 12 melhores de 2016 pela conceituada The Chicago Review of Books. Venceu ainda o Prémio de Tradução Internacional da Coletividade de Córsega, em 2013, pela organização e tradução da antologia que intitulou E se puséssemos azulejos em verso?

Foi nomeada para o Pushcart Prize, prémio literário para o melhor trabalho de poesia ou ficção publicado nas revistas literárias dos Estados Unidos.

A par com a atividade literária, Rosa Alice Branco tem um doutoramento em Filosofia Contemporânea, é investigadora na Escola Superior de Arte e Design, em Matosinhos, dedica-se profissionalmente à Neuropsicologia da Percepção e à Estética, e é tradutora, investigadora e promotora cultural. Neste último âmbito, organizou vários colóquios e festivais de poesia, dentro e fora de Portugal, e foi coeditora de revistas de filosofia e poesia. Amor Cão e outras palavras que não adestram (2022) é o seu segundo livro pela Assírio & Alvim, depois de Traçar um Nome no Coração do Branco (2018).

A sessão do próximo dia 6 de dezembro tem entrada livre, mas é limitada à lotação da casa.

Ouvir, 59 minutos de imersão poética

Privilegiando a audição como sentido crítico, partimos numa viagem. Sentados ou deitados em almofadas, teremos por companhia uma narrativa sonora inspirada no universo do autor convidado e elaborada por estudantes do Mestrado em Multimédia da Faculdade de Engenharia da U.Porto. Depois ouvimos a voz do autor, a dizer os seus próprios poemas, ficando a conversa para o final da sessão.

Ouvir, 59 minutos de imersão poética resulta de uma parceria da Casa Comum com a Porto Editora e a Faculdade de Engenharia da U.Porto.