Como reconhecimento do empenho e dedicação que Raquel Seruca teve no desenvolvimento do Porto Comprehensive Cancer Center (P.CCC), que junta o Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO Porto) e o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), as direções das duas instituições decidiram alterar o nome do consórcio para Porto Comprehensive Cancer Center Raquel Seruca, homenageando desta forma a investigadora que faleceu recentemente vítima de doença oncológica.

Este projeto pioneiro em Portugal pretende encurtar e aperfeiçoar o ciclo de descoberta científica em doenças neoplásicas e preneoplásicas, através do reforço da investigação de translação. “Graças à Raquel, alma-e-corpo da iniciativa, testemunharemos o sucesso do P.CCC centrado nas pessoas com organização e competência”, sublinha Manuel Sobrinho Simões, diretor do Ipatimup.

Foi sob a coordenação de Raquel Seruca que o projeto “TeamUp4Cancer” conquistou um financiamento superior a 15 milhões de euros – proveniente dos fundos do Norte2020 – para melhorar o diagnóstico e tratamento de doentes com cancro. Um trabalho que valeria à investigadora a conquista do Prémio ACTIVA Mulheres Inspiradoras de Ciência 2021.

O trabalho desenvolvido pela investigadora “tornou possível a aquisição e implementação de novos equipamentos e infraestruturas, assim como a contratação de recursos humanos especializados que nos permitirão fazer investigação de ponta em cancro com a preocupação de conhecer melhor os mecanismos moleculares de cada tumor e transferir esse conhecimento para novas ferramentas de rastreio, diagnóstico precoce e tratamento de cancro”, refere Claudio Sunkel, diretor do i3S, acrescentando que “este processo permitirá desenvolver uma estratégia inovadora de acompanhamento e tratamento personalizado dos doentes”.

“Trabalharemos para concretizar o seu sonho e a sua visão”

“A Raquel depositava uma enorme esperança no P.CCC como iniciativa de mudança da forma de fazer Ciência. Ela funcionou como o elemento catalisador das vontades das duas instituições em unirem esforços para conseguirem chegar mais próximo do que realmente necessitam os doentes com cancro”, explica Rui Henrique, Presidente do Conselho de Administração do IPO Porto, acrescentando que “ao juntar à designação do P.CCC o nome da Raquel, estamos, não apenas, a realizar homenagem a uma mulher e cientista excecional, mas também a assumir um compromisso coletivo, pessoal e institucional, de que trabalharemos para concretizar o seu sonho e a sua visão.”

Na altura em que foi anunciado o financiamento para o P.CCC, Raquel Seruca sublinhava que “pela primeira vez em Portugal vamos poder cumprir todo o ciclo que vai desde a identificação dos mecanismos alterados nas células tumorais até aos ensaios clínicos, baseados no conhecimento profundo dos processos moleculares e celulares subjacentes à doença. O P.CCC é uma infraestrutura que prioritiza as necessidades dos doentes“, explicava.

Os recursos estarão alocados estrategicamente em plataformas especializadas no IPO Porto e no i3S. Para o efeito, foram já adquiridos pelo i3S equipamentos que permitirão isolar e caracterizar o perfil molecular de células tumorais individuais, e identificar biomarcadores para vigilância dos doentes e famílias em risco.

Especificamente, os novos equipamentos permitem uma análise detalhada de tecidos e biópsias líquidas de pacientes, e a avaliação funcional de moléculas em modelos experimentais in vitro e in vivo. Uma grande parte do investimento foi direcionado para a implementação de novas tecnologias de imagiologia, criando uma oportunidade única para avançar em estudos pré-clínicos

Sobre Raquel Seruca

Natural do Porto, cidade onde nasceu a 9 de junho de 1962, Raquel Seruca licenciou-se (1986) e doutorou-se (1995) em Medicina pela FMUP e foi bolseira de investigação no Departamento de Genética Humana da Universidade de Groningen, Holanda.

De regresso a Portugal, iniciou um pós-doutoramento em genética molecular do cancro do estômago no Ipatimup – Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da U.Porto (hoje integrado no i3S) com o patologista Manuel Sobrinho Simões. Deste rapidamente “herdaria” a alcunha de “força da natureza”, devido ao seu entusiasmo, curiosidade e otimismo contagiantes.

Começava assim uma ligação que, nas décadas seguintes, ajudaria a elevar o Ipatimup a um dos principais centros de investigação europeus na área do cancro. Para além de coordenar o Grupo de Genética do Cancro, Raquel Seruca foi ainda Provedora e vice-presidente do Instituto, cargo que desempenhava até à atualidade.

Autora de mais de 260 artigos publicados nas mais prestigiadas revistas científicas, Raquel Seruca é reconhecida internacionalmente no campo da genética do cancro gástrico e considerada uma especialista mundial em invasão das células cancerígenas, nomeadamente no cancro gástrico e no cancro do cólon. Foi ainda responsável pela formação de várias gerações de investigadores e colaborou em muitos programas de doutoramento.

Para além de ter sido galardoada diversas vezes pela Sociedade Portuguesa de Genética Humana, conquistou o prémio Benjamin Castelman Award USCAP, em 2001 e em 2012, o Prémio Labmed em 2002 e 2003, e recebeu a insígnia de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, em 2009. Em 2014 a Câmara Municipal do Porto distinguiu-a com a Medalha Municipal – Grau Ouro.

Em 2015, a sua equipa recebeu um prémio – reforçado em 2019 e 2021 – da ‘No Stomach For Cancer’, uma associação norte-americana que apoia famílias com cancro gástrico e à qual Raquel Seruca estava ligada enquanto membro do Conselho Científico Consultivo.

Mais recentemente, foi distinguida com o Prémio ACTIVA Mulheres Inspiradoras de Ciência 2021 pelo trabalho de coordenação da candidatura do i3S, no âmbito do consórcio Porto Comprehensive Cancer Centre (P.CCC), aos fundos do Norte 2020.