Trabalho que deu origem ao livro teve por base mais de 200 entrevistas, das quais 11 são histórias de vida de músicos marcantes. (Foto: DR)

Que sociedade é retratada numa música dos Xutos e Pontapés ou dos Heróis do Mar? Que Portugal se “revela” nas histórias de vida de nomes como Rui Reininho, Xana ou Pedro Ayres Magalhães? Para encontrar estas e outras respostas, Paula Guerra  passou seis anos a estudar em profundidade o fenómeno do rock em Portugal no âmbito da tese de doutoramento em Sociologia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP). O resultado surge agora na forma d’“A instável leveza do rock. Génese, dinâmica e consolidação do rock alternativo em Portugal (1980-2010)”, livro que será apresentada no próximo dia 30 de abril, na Fnac do NorteShopping.

Nesta obra, a também docente do Departamento de Sociologia da FLUP propõe uma discussão sociológica inédita em torno do rock alternativo português, a partir dos testemunhos daqueles que tiveram um papel principal ao nível da produção, divulgação e consumo daquele fenómeno. Com base em mais de 200 entrevistas, das quais 11 são histórias de vida de músicos marcantes, o livro lança ainda uma reflexão sobre a sociedade portuguesa, do contexto cultural e vivencial em que se situa o rock alternativo, e das modalidades de abertura de Portugal à contemporaneidade.

Para atingir estes objetivos, Paula Guerra aplicou diferentes contributos da sociologia da cultura e das artes de modo aprovar que há um subcampo de rock alternativo em Portugal. Assume particular destaque a teoria dos campos de Pierre Bourdieu, que inspirou boa parte do trabalho de interpretação de uma atividade cultural e artística vista muitas vezes como subordinada e ilegítima no nosso país (o rock alternativo).

“Conheci a Paula Guerra já ela andava às voltas com a sua tese de doutoramento sobre o rock em Portugal. […] E os ecos que fui tendo, bem como os conhecimentos que fui colhendo sobre a laboração do que estava a ser feito, foram-me dando a impressão de que, independentemente da sua génese ou dos seus objetivos e formatações tendencialmente académicos – afinal, tratava-se de uma tese de doutoramento –, este seria um trabalho suscetível de interessar outras pessoas para além da academia científica, pelo que, depois de adaptado, merecia uma divulgação mais aberta. Porque não era apenas uma análise árida sobre mecanismos socioculturais de consumo ou de produção musical, antes deixava transparecer um quadro evolutivo de hábitos e de vivências, mais ou menos estabilizadas ou mais ou menos mutantes, de toda uma nação que descobria a modernidade de chofre”, escreve Adolfo Luxúria Canibal no prefácio. A obra tem também prefácio de Tó Trips, dos Dead Combo, que também ilustrou a capa.

A sessão de apresentação da obra terá início às 21h30 e conta com as intervenções de Adolfo Luxúria Canibal, vocalista dos Mão Morta, e Carlos Fortuna, Professor Catedrático de Sociologia da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.

A autora

Professora Auxiliar e Doutorada em Sociologia pela Faculdade de Letras da U.Porto, Paula Guerra é Investigadora do Instituto de Sociologia da FLUP (ISFLUP), Investigadora Associada do Centro de Estudos Geográficos e Ordenamento do território (CEGOT) e Professora Associada Adjunta do Griffith Centre for Cultural Research (GCCR). Tem procurado realizar um empreendimento investigativo contínuo em torno de um olhar para temáticas como culturas urbanas, cenas musicais, identidades e culturas juvenis, multiculturalismo, criação artística e musical, processos de exclusão e inclusão sociais. Tem sido na música e, sobretudo, na instável leveza do rock, que se focalizou nos últimos anos, sistematizando e abrindo novas pistas de interpretação acerca da contemporaneidade portuguesa e dos seus incessantes processos de reconfiguração cultural. Coordena e integra vários projetos de investigação nacional e internacional neste âmbito.