Um grupo de investigadores e médicos portugueses, liderado por João Carlos Winck, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), propõe que seja criada uma estratégia nacional para garantir a qualidade do ar interior, implementando um conjunto de medidas adequadas para a redução de contaminantes biológicos em espaços fechados.

Entre as principais estratégias de ação apresentadas pelo grupo de investigadores das universidades do Porto, Coimbra e Lisboa destacam-se a melhoria das taxas de ventilação e da utilização de equipamentos de filtração e purificação de ar, bem como a sensibilização dos cidadãos para esta temática.

“Ao promover medidas que possam reduzir as concentrações de aerossóis em espaços fechados, nomeadamente através de melhorias na ventilação, podemos contribuir para minimizar os riscos da transmissão quer do SARS-CoV2, quer de outros vírus respiratórios”, afirma João Carlos Winck, primeiro autor do estudo.

Na revista internacional Pulmonology, os investigadores dão como exemplo o recente surto da variante Ómicron, que atingiu níveis elevados de infecciosidade, para destacar as preocupações sobre a transmissão que ocorre pelas vias aéreas.

“Desde os tempos de Hipócrates que sabemos que a má qualidade do ar que respiramos é uma das causas mais frequentes de doenças”, recordam os investigadores, sublinhando a importância de dotar os espaços interiores, como escolas, hospitais e edifícios, de boa qualidade do ar.

“A má qualidade do ar que respiramos é uma das causas mais frequentes de doenças”, alertam os investigadores. (Foto: DR)

Custos financeiros podem ser compensados com “mais saúde”

Monitorizar a concentração de dióxido de carbono, por exemplo, “é algo que pode ser realizado com recurso a sensores relativamente económicos, sinalizando situações de ventilação inadequada e que careçam de intervenção”, exemplifica João Carlos Winck.

O grupo apela a uma abordagem semelhante à legislação existente para as regras da qualidade da água, “que proíbem e implementam ações para evitar riscos para a saúde, caso sejam detetados determinados microrganismos nocivos”.

Para este objetivo ser alcançado, os cientistas portugueses afirmam ser necessário “o apoio financeiro do governo”, acrescentando que nas medidas do setor da construção contempladas no Plano de Recuperação e Resiliência, “além da melhoria da eficiência energética, qualidade estrutural e outros fatores, a qualidade ambiental interior deverá também ser um ponto de ação importante”.

Segundo os autores, os custos de fornecer ventilação adicional podem ser compensados com a “minimização do risco de propagação de doenças infeciosas, menor absentismo no trabalho, menos internamentos e pelos ganhos de produtividade e bem-estar da população”.

Investigadores e médicos subscrevem apelo

Além de João Carlos Winck, assinam o mesmo artigo os investigadores Susana Marta Almeida (Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa), Gil Correia (Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra), Marta Fonseca Gabriel (INEGI – Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial), Gonçalo Marques (Instituto Politécnico de Coimbra) e Manuel Gameiro Silva (Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de Coimbra).

Este apelo para a criação de uma estratégia nacional que garanta a qualidade do ar interior foi igualmente subscrito pela Sociedade Portuguesa de Pediatria, Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, Sociedade Portuguesa de Pneumologia e pela Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública.