“As novas recomendações vão permitir uma orientação mais adequada dos doentes com cancros iniciais, evitando cirurgias desnecessárias, otimizando o tratamento e a vigilância e contribuindo também para uma efetiva redução do número de casos avançados e de mortes.” A convicção é de Pedro Pimentel Nunes, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e primeiro autor da nova “guideline” da Sociedade Europeia de Endoscopia Gastrointestinal sobre a aplicação de técnicas de endoscopia avançada, caso da endoscopia de alta definição com cromoendoscopia e disseção endoscópica da submucosa, em doentes com lesões superficiais gastrointestinais.

Estas são lesões benignas, mas com potencial maligno, ou lesões malignas numa fase inicial. Os pólipos do cólon, no intestino, são as lesões deste tipo mais frequentemente encontradas.

“O que sabemos destas lesões é que as biopsias, por si só, podem subestimar o real estadio da doença. As técnicas de endoscopia avançada, nomeadamente a utilização da cromoendoscopia virtual, permitem uma maior deteção e uma melhor caracterização destas lesões superficiais, sendo essenciais para determinar a melhor terapêutica”, explica o docente.

Além disso, “como muitas destas lesões são já malignas, a técnica de disseção endoscópica da submucosa permite remover em bloco e de forma curativa lesões de qualquer tamanho, de forma minimamente invasiva, com a mesma segurança das técnicas endoscópicas clássicas e proporcionando uma melhor qualidade de vida aos nossos doentes, quando comparada com a cirurgia”.

“Intervenção eficaz diminuirá incidência de cancros gastrointestinais avançados”

Pedro Pimentel Nunes acredita que esta guideline, recentemente publicada na revista científica Endoscopy, deverá ser “a referência no tratamento e orientação dos doentes com este tipo de lesões” e que terá “um impacto significativo na prática clínica”, através de uma melhor seleção dos doentes com tumores iniciais para as diferentes técnicas existentes, diminuindo o número de cirurgias desnecessárias.

Do mesmo modo, permitirá uma melhor orientação dos doentes após tratamento, promovendo uma vigilância adequada, no sentido de deteção atempada de novas lesões e/ou recorrência.

“Uma intervenção eficaz sobre este tipo de lesões diminuirá a incidência de cancros gastrointestinais avançados, estimando-se uma diminuição em mais de 50% na mortalidade por este tipo de cancros, nomeadamente gástricos e colorretais”, afirma.

A grande maioria dos hospitais, em Portugal e na maioria dos países desenvolvidos, já utiliza aparelhos para a realização de técnicas de endoscopia avançada. Os problemas poderão estar no preço e na necessidade de treino específico por parte dos endoscopistas. “Felizmente, Portugal foi pioneiro na introdução desta técnica no tratamento de lesões superficiais gástricas. Somos referência a nível mundial”, orgulha-se o professor da FMUP.

Esta atualização das primeiras guidelines sobre esta técnica, de que Pedro Pimentel Nunes (também investigador RISE/CI-IPOP) tinha sido primeiro autor, contou ainda com a participação de outros dois professores da FMUP, Diogo Libânio e Mário Dinis-Ribeiro.