Rui Moura, FCUP, POSSUMEngenheiro geólogo, professor universitário, piloto de aviões nos tempos livres e astronauta suborbital em potência. Desde abril passado, este podia muito bem ser o cartão de apresentação de Rui Marques Moura, professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) e um dos primeiros portugueses escolhidos para frequentar o curso de qualificação do projeto POSSUM – Polar Suborbital Science in the Upper Mesosphere, um programa comercial orientado para o estudo da mesosfera e desenvolvido com o apoio da Agência Espacial Norte-Americana (NASA).

Para o docente do Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território (DGAOT) da FCUP, o sonho de viajar até ao limite do espaço – a mesosfera é a camada da atmosfera que faz fronteira com o espaço exterior – começou em meados 2015, quando, ao pesquisar “sobre a ambição da comunidade científica em colocar cientistas no Espaço”, “tropeçou” na página do POSSUM. Resultado da cooperação entre diversos grupos de investigação norte-americanos e europeus, este programa prepara os participantes, sobretudo cientistas, para uma viagem a bordo de uma nave espacial suborbital – o XCOR Lynx – ao encontro das nuvens notilucentes [nuvens que brilham à noite] que se formam nas zonas polares da mesosfera, a cerca de 80 quilómetros de altitude.

Para se candidatar, Rui Moura fez valer um percurso académico e científico onde se destacam quase 20 anos de ligação ao DGAOT (antigo Departamento de Geologia) da FCUP, a que se juntam quase duas décadas de experiência como piloto. A boa notícia chegou já em fevereiro de 2016,  quando recebeu a confirmação que tinha sido um dos 14 eleitos a nível mundial para integrar o curso de qualificação do programa.

Com a duração de um mês e meio, o curso incluiu uma vertente teórica centrada em temas como a geofísica da atmosfera, a fisiologia de voo espacial e alguns aspetos sobre o voo suborbital. Já a vertente prática teve como prato forte uma passagem de cinco dias (8 a 13 de abril de 2016) pela Universidade Aeronáutica Embry Riddle (ERAU), nos Estados Unidos, referência a nível mundial em termos de formação aeronáutica e aeroespacial, onde os participantes vivenciaram a simulação completa de uma missão científica, com e sem fato espacial, participaram em treinos de habituação às forças G em aviões de acrobacia aérea e foram sujeito a exames em câmara hiperbárica para situações de despressurização.

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Rui Moura foi um dos 14 candidatos selecionados para fazer parte do programa de qualificação do Programa POSSUM. (Foto: DR)

Concluído o curso, Rui Moura destaca como grandes mais-valias o contacto com uma equipa de formadores em que se incluíam astronautas da NASA, mas também com vários colegas de curso com ligações à exploração espacial. Porém “constatei que a minha própria formação pessoal, feita em Portugal, em nada me colocava numa posição de desvantagem”, nota o docente, cuja aventura contou com o apoio financeiro da Fundação Luso Americana, da Reitoria da Universidade do Porto, da FCUP e do Banco Santander Totta.

A possibilidade de ser o primeiro português a atingir as “portas do espaço” é por isso uma ambição que Rui Moura alimenta com otimismo. “Verificar que este tipo de voos se consideram no domínio do possível e não apenas no da nossa “ficção científica” é inspirador”, refere, acrescentando que “para um Português como eu, ‘vedados’ que estamos neste momento ao acesso a uma candidatura de Astronautas ESA ou NASA, vejo isto como uma oportunidade”.

Enquanto tal não acontece, Rui Marques Moura pretende aproveitar outras portas abertas pela participação no POSSUM. Entre elas inclui-se o desafio de criar na U.Porto um pólo de divulgação do programa junto dos estudantes. “Isto poderia ser um ótimo instrumento para cativar o interesse dos jovens, não só pela exploração espacial mas também pela ciência e tecnologia em geral. Poderia potencialmente constituir uma verdadeira incubadora de discussão de temáticas ligadas à astronáutica”.

Poderá ser a U.Porto a trampolim para os futuros exploradores da mesosfera? Rui Moura não hesita: “Existem na Universidade muitas competências para se levar a cabo um projecto multidisciplinar como este ou outros afins. Basta acreditar”.

Sobre Rui Moura

Rui Moura, FCUP, POSSUM

O docente da FCUP conta com mais de 20 anos de experiência como piloto de aviões. (Foto: DR)

Doutorado em Geofísica Aplicada pela Universidade de Aveiro, Rui Moura chegou à FCUP em 1998 como Assistente para o Departamento de Geologia (atual Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território). Atualmente, é Professor Auxiliar e membro da comissão executiva do DGAOT e do Instituto Geofísico da U.Porto, sediado no Observatório Meteorológico da Serra do Pilar).

Piloto de aviões desde 1993, conta com experiência de voo em cerca de 25 tipos diferentes (desde ligeiros e ultraligeiros até jatos militares). Pelo meio, fez vigilância aérea de fogos florestais e participou em vários campeonatos de acrobacia aérea em Portugal e Espanha.