O Prémio Nobel da Química 2019 foi atribuído, esta quarta-feira, ao físico norte-americano John B. Goodenough, professor da Universidade do Texas (Austin, EUA), e professor convidado da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), pelo desenvolvimento das baterias de lítio, trabalho que começou há quase meio século, mas que mudou a sociedade para sempre.

Goodenough, de 96 anos, é considerado o pai das baterias de iões de lítio, a invenção do início dos anos 90 que revolucionou o mundo da tecnologia e o dia de hoje, com gadgets e equipamentos eletrónicos a funcionar sem fios, em todo o lado, através de baterias recarregáveis. Uma descoberta que já lhe valeu vários prémios e comendas internacionais, incluindo a Medalha Nacional da Ciência, atribuída em 2013, pelo então presidente norte-americano Barack Obama.

“Este é um reconhecimento muito merecido. As baterias de lítio estão em todos os momentos da nossa vida e agora até nos automóveis. As apostas já falavam nele, é merecido e esperado”, refere ao jornal Público Helena Braga, diretora do Departamento de Engenharia Física da FEUP, que vem trabalhando desde há quatro anos com o agora Nobel da Química 2019. Na altura, o trabalho científico da investigadora, por diversas vezes publicado em jornais de elevado impacto e alvo de várias patentes, chamou a atenção de John Goodenough, que a convidou a colaborar com seu grupo de investigação na Universidade do Texas, nos EUA.

John Goodenough tem apoiado o trabalho da Helena Braga, professora da FEUP que se tem notabilizado na criação de uma nova geração de baterias sólidas(Foto: DR)

Um pouco por todo o mundo, a comunidade académica tem acompanhado com particular interesse os desenvolvimentos alcançados pela equipa de Helena Braga e não é difícil perceber porquê. Falamos da possibilidade de vir a ter, muito em breve, disponível no mercado, uma bateria menos poluente, mais leve e capaz de multiplicar a capacidade das tradicionais baterias de ião de lítio, o que poderá significar uma revolução enorme na forma como armazenamos energia.

De modo a impulsionar o trabalho desenvolvido e sobretudo a convencer a indústria da verdadeira revolução que poderá estar iminente, John Goodenough atribuiu recentemente uma doação de 500 mil dólares ao grupo de investigação liderado por Helena Braga. Para a investigadora, esta “representa uma honra e, ao mesmo tempo, a responsabilidade renovada de fazer melhor trabalho todos os dias, com a possibilidade de adquirir equipamento e financiar alunos que nos permitirão alcançar esse objectivo”.

Maria Helena Braga, 47 anos, publicou pela primeira vez sobre a tecnologia de eletrólitos de vidro em 2014. A principal inovação destas novas baterias é fazer depender a capacidade de armazenamento de energia não só das reações electroquímicas, como numa bateria tradicional, mas também do armazenamento electrostático como num condensador dando origem a uma bateria segura, em que não se formam “dendritos”.

Para além de John B. Goodenough, o Prémio Nobel da Química deste ano foi também atribuído a M. Stanley Whittingham e a Akira Yoshino, e igualmente pelo seu trabalho no desenvolvimento de baterias de iões de lítio.