A 1.ª edição do Prémio Maria de Sousa distinguiu três projetos de investigação liderados por Andreia Pereira, Daniela Freitas e Mariana Osswald, todas elas jovens investigadoras em ciências da saúde do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S). O prémio, no valor de cerca de 25 mil euros para cada vencedor, inclui também um estágio num centro internacional de excelência da área de cada um dos projetos galardoados.

Promovido pela Ordem dos Médicos e pela Fundação BIAL, este prémio presta homenagem à imunologista Maria de Sousa, histórica professora e investigadora da U.Porto que faleceu no ano passado, vítima da Covid-19. As distinções foram entregues esta quarta-feira a cinco investigadores portugueses, numa cerimónia que decorreu no Teatro Thalia, em Lisboa, e que foi presidida pelo primeiro-ministro António Costa.

O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, recordou que Maria de Sousa nunca ficava satisfeita com o que sabia e procurava sempre mais. “Isto é uma característica dos grandes cientistas e estou certo de que estes cinco jovens premiados sentem também essa necessidade insaciável de questionar e pôr em causa para avançarem no conhecimento científico”, sublinhou.

“Maria de Sousa vivia vibrantemente a Ciência e sempre procurou criar condições para que os jovens cientistas pudessem concretizar os seus sonhos e os seus percursos científicos. É esse o objetivo deste Prémio, e considero que, ao premiar estes cinco investigadores, estamos a perpetuar a obra da Maria”, complementa o presidente da Fundação BIAL, Luís Portela.

Já o neurocientista Rui Costa, que presidiu ao júri deste prémio, relembrou que, como mentora, Maria de Sousa era tão generosa como exigente: “A Maria exigia a criação de algo novo na Ciência e essa foi uma das premissas que tomámos como base na seleção dos projetos premiados”.

Os projetos premiados

Uma nova fonte de energia inesgotável

A investigadora Andreia Pereira, com o projeto «BioTribo – Exploração de biomateriais como nanogeradores triboelétricos para aplicações cardiovasculares», pretende descobrir uma fonte de energia biológica inesgotável (do próprio corpo humano) que possa ser usada na monotorização de doenças cardiovasculares e no desenvolvimento de dispositivos eletrónicos cardíacos implantáveis.

A jovem investigadora do grupo «Advanced Graphene Biomaterials» do i3S explica que esta fonte de energia alternativa às tradicionais pilhas será usada em sensores que monitorizam constantemente os pacientes com doenças cardiovasculares, mas também em dispositivos elétricos que são atualmente implantados no paciente, como é o caso dos “pacemakers”, dispositivos de assistência ventricular e os cardiodesfibriladores implantáveis. Para além de explorar novas fontes de energia, a antiga estudante do Mestrado em Bioquímica e do Programa GABBA (Graduate Program in Areas of Basic and Applied Biology) da U.Porto vai também focar-se no desenvolvimento de novos métodos de deteção precoce de obstruções nos vasos sanguíneos.

Este trabalho será realizado em colaboração com o Instituto de Física para Materiais Avançados, Nanotecnologia e Fotónica (IFIMUP) da Universidade do Porto e conta também com a participação do Centro Hospitalar S. João e do Instituto de Medicina Legal. O estágio internacional de Andreia Pereira será realizado no Georgia Institute of Technology, nos EUA.

Andreia Pereira quer descobrir uma fonte de energia biológica inesgotável que possa ser usada na monotorização de doenças cardiovasculares. (Foto: Fundação Bial)

Novos biomarcadores para o cancro do estômago

Denominado «Glicosilação de vesículas extracelulares de cancro gástrico: o seu impacto na comunicação intercelular em cancro e o seu potencial para a descoberta de novos biomarcadores», o projeto liderado por Daniela Freitas, do grupo de investigação do i3S «Glycobiology in Cancer» do i3S, tem como principal objetivo encontrar novos biomarcadores não-invasivos para o cancro do estômago, assim como novos potenciais alvos terapêuticos, através de uma amostra de sangue.

Devido à falta de bons biomarcadores, o cancro do estômago é frequentemente detetado em fases avançadas da doença, o que dificulta a eficácia das terapias atualmente disponíveis. Partindo de uma análise às vesículas celulares que circulam na corrente sanguínea, “vamos estudar o papel dos glicanos (estruturas de hidratos de carbono complexas) alterados no cancro do estômago na comunicação e reprogramação celular local e à distância com o objetivo de encontrar novos biomarcadores que possibilitem diagnosticar a doença mais cedo”, explica a investigadora, que e doutorada em Biotecnologia Molecular e Celular Aplicada às Ciências da Saúde pela U.Porto

O trabalho agora premiado será desenvolvido no âmbito de uma colaboração entre o i3S e a Weill Cornell Medicine em Nova Iorque.

Daniela Freitas pretende encontrar novos biomarcadores não-invasivos para o cancro do estômago. (Foto: Fundação Bial)

As respostas escondidas nos epitélios

Já o projeto de Mariana Osswald, investigadora do grupo «Epithelial Polarity & Cell Division» do i3S, centra-se no estudo dos epitélios, um tipo de tecido que reveste todas as superfícies do corpo e dos órgãos humanos e que forma uma barreira protetora que controla tudo o que é absorvido e segregado. Estas funções dependem da estrutura tridimensional dos epitélios, que pode ser danificada por diferentes pressões, como por exemplo compressões ou dilatações.

No âmbito do projeto «Como regular forças dependentes de actomiosina para preservar a integridade de um epitélio», a investigadora – mestre em Bioengenharia pela U.Porto e também ela antiga estudante do programa GABBA – quer perceber como é que os epitélios reagem a estas diferentes pressões por forma a conseguirem manter a sua integridade e as suas funções. Para isso, vai estudar a organização de uma das principais estruturas celulares responsável por regular forças, a actomiosina, em epitélios da mosca da fruta.

Tendo em conta que as perturbações da estrutura tridimensional dos tecidos estão associadas a patologias como o cancro ou as doenças inflamatórias, Mariana Osswald sublinha que “é fundamental compreender como é que os tecidos conseguem manter a sua integridade para ajudar a perceber a biologia destas doenças ou a desenhar novos tratamentos”. Neste projeto serão utilizadas técnicas inovadoras numa colaboração entre o i3S e o Instituto Curie (Paris).

Mariana Osswald vai estudar os epitélios, um tipo de tecido que reveste todas as superfícies do corpo e dos órgãos humanos. (Foto: Fundação Bial)

Os dois outros investigadores distinguidos nesta 1.ª edição do Prémio Maria de Sousa foram Pedro Marques, do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, com um projeto denominado «O papel da CCL2 e IL-8 no microambiente dos tumores neuroendócrinos da hipófise: relação com a agressividade tumoral e sua utilidade diagnóstico-terapêutica», e Sara Silva Pereira, do Instituto de Medicina Molecular – João Lobo Antunes (iMM), em Lisboa, com um projeto sobre «O impacto da sequestração de parasitas na severidade da tripanossomíase».