Ricardo Leitão, docente convidado da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP) e investigador do Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo (CEAU), e Rita Furtado, ambos antigos estudantes da FAUP, venceram, por unanimidade, a primeira edição do Prémio Manuel Graça Dias, dst – Ordem dos Arquitectos, Primeira Obra, com a “Casa em Freamunde”.

O Júri, constituído por Sergio Fernandez, que presidiu, Sofia Isidoro (por indicação do Ministério da Cultura), Ana Vaz Milheiro (por indicação da Secção Portuguesa da Associação Internacional de Críticos de Arte) e Inês Vieira da Silva e Egas José Vieira (ambos por indicação do Conselho Diretivo da Ordem dos Arquitectos), recebeu 31 candidaturas que foram avaliadas em função da afirmação da importância, valor e mensagem a transmitir com esta primeira edição do Prémio, sublinhando tratar-se de uma evocação de Manuel Graça Dias, às primeiras obras e lhe estarem associadas as condições de “qualidade arquitetónica, inventividade e considerações ambientais”.

A Casa em Freamunde” (2021) é uma “pequena casa de dois pisos desenhada para uma jovem família em Freamunde, ocupando um lote trapezoidal flanqueado por duas habitações de linguagem e construção corrente”.

Na memória descritiva do projeto, os autores referem o duplo carácter da casa: “Por um lado, procura desenhar uma fachada para a rua no sentido albertiano do termo, i.e., declaradamente pública e até certo ponto autónoma face ao interior (…) tentando alcançar, ao mesmo tempo, uma certa abstração e banalidade face à escolha, desenho e composição dos seus elementos. No tardoz, a casa assume-se tridimensional. A pretexto de umas construções espúrias pré-existentes, foi possível, em cada extremidade, avançar sobre o logradouro e as empenas expectantes, conformando-se um pequeno pátio aberto de escala doméstica que pacientemente aguarda o verde crescimento da hera. Esta operação resulta num volume tripartido, pontuado por vãos que, ora desmaterializam os cantos, ora perfuram as paredes, animando a aparente simetria do conjunto que substancia a matriz clássica do projecto.”

Os autores destacam, ainda, que “o dispositivo entrada-escada-chaminé opera como um filtro e confere privacidade aos principais espaços, configurando o núcleo central a partir do qual toda a casa se desenvolve e para o qual constantemente se vira”.

O projeto vencedor é uma “pequena casa de dois pisos desenhada para uma jovem família em Freamunde, ocupando um lote trapezoidal flanqueado por duas habitações de linguagem e construção corrente”. © Francisco Ascensão

De acordo com o Júri, a casa “‘não é nem podia ser pura’, traduzindo uma inteligente e sensível base de trabalho”, reforçando que “é a partir deste conceito, com uma atitude onde a criatividade está intimamente ligada ao rigor e ao sentido do que pode e deve ser o espaço de habitar, que se dá origem a esta obra (…) sem recurso a qualquer tipo de exibicionismo fácil, mas de grande valor arquitetónico”.

O Júri deliberou ainda atribuir uma primeira menção honrosa ao segundo trabalho mais votado, referente à candidatura “Casa-Atelier”, da autoria de Maria João Rebelo com João Paupério, antiga estudante da FAUP e investigador investigador no CEAU/FAUP e estudante do PDA, respetivamente. Trata-se de uma renovação onde o confronto entre o novo e o preexistente é feito com recursos plásticos e espaciais que plenamente justificam a evocação do manifesto “ Il fera beau demain”, de Lacaton & Vassal (1995).

O Júri decidiu também atribuir uma menção honrosa a dois trabalhos ex aequo, um à candidatura “Edifício General Silveira”, da autoria dos arquitetos Tiago Antero e Vítor Fernandes – “acentuando a segurança e a inventividade postas na resolução do complexo problema dos acessos e, bem assim, a intenção de valorizar valores formais caraterísticos do local de intervenção” –, e à candidatura “Casa com Muitas Caras” da autoria da arquiteta Ana Luísa Soares, estudante do Programa de Doutoramento em Arquitectura da FAUP – “que mereceu especial atenção por constituir uma experiência plasticamente muito caraterizada e que, simultaneamente, questiona, pelo tipo de programa proposto, a adoção de soluções estereotipadas”.

Sobre Ricardo Leitão e Rita Furtado

Formados em Arquitetura pela FAUP, Ricardo Leitão e Rita Furtado fundaram o atelier de arquitetura MEIO.

Ricardo Leitão é assistente convidado de História da Arquitectura Moderna do Mestrado Integrado em Arquitectura da FAUP e Investigador Integrado no CEAU/FAUP, no âmbito do grupo de investigação Teoria e Práticas de Projecto. Em 2021, ingressa no Programa de Doutoramento em Arquitectura da FAUP com uma bolsa atribuída pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Em 2020 é-lhe atribuída uma bolsa de criação literária pelo Ministério da Cultura de Portugal – DGLAB, na área da Poesia.

Por sua vez, Rita Furtado recebeu em 2016 o Prémio Ricardo Spratley atribuído ao melhor estudante a terminar o Mestrado Integrado em Arquitectura com média igual ou superior a 16 valores, no ano letivo a que se refere o prémio. Faz parte do coletivo ‘Prática(s) de Arquitectura’, tendo participado na organização da exposição “Uma escola do Porto por conhecer: realidade, história e projecto” (2013) e fez parte da equipa editorial responsável pela publicação “Prática(s) de Arquitectura. Projecto, Investigação, Escrita” (2023). Colabora com o arquiteto Nuno Valentim desde 2018.

São assistentes convidados na Porto Academy desde 2017, tendo feito parte da organização do programa Visiting Barragán, com a Barragán Foundation e a LIGA DF, na Cidade do México (México) em 2019.

Sobre o Prémio Manuel Graça Dias

O Prémio Manuel Graça Dias dst — Ordem dos Arquitectos, Primeira Obra, com o apoio institucional da FAUP, destina-se a reconhecer e a celebrar a qualidade da arquitetura produzida pelos arquitetos com formação recente, como modo de incentivar a prática profissional, no sentido da inventividade, considerações ambientais, boas-práticas, no quadro das medidas de informação, sensibilização e educação, da Política Nacional de Arquitetura e Paisagem.

Ao inscrever o seu nome no Prémio, esta iniciativa visa celebrar Manuel Graça Dias, figura ímpar da arquitetura portuguesa nas muitas dimensões que desenvolveu, como profissional, crítico, editor, divulgador, entre outras. Ao associar o seu nome a um prémio “primeira obra” propõe-se sublinhar a imaginação, inconformismo, disponibilidade e generosidade que Manuel Graça Dias sempre demonstrou.

Manuel Graça Dias (1953-2019) integrou o corpo docente da FAUP desde 1997, assumindo a regência de Teoria Geral da Organização e do Espaço.