Beatriz Bizarro e Maria Cunha, ambas mestres em Artes Plásticas pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP), são as vencedoras da edição 2019 do Prémio Infanta Dona Maria Francisca, nas categorias de Escultura e Pintura, respetivamente.

Fruto de uma parceria entre a FBAUP, o Círculo Dr. José de Figueiredo – Amigos do Museu Nacional de Soares dos Reis, a Associação Real Social Cultura Desporto e o Museu de Serralves, este galardão premeia – com 1000 euros – os autores dos melhores trabalhos de fim de curso do Mestrado em Artes Plásticas da Faculdade de Belas Artes.

Para Beatriz Bizarro, a conquista do galardão “é muito gratificante, até porque perante o contexto que vivemos que coloca os artistas num período de maior incerteza, é sem dúvida um excelente fator de motivação para a continuidade do meu trabalho.”

Maria Cunha – vencedora do Prémio de Pintura – considera que o prémio mostra que alguém foi capaz de se rever no seu trabalho além de ser também “o reconhecimento de um trabalho extenso e intensivo de seis anos de Faculdade. Significa que ainda há interessados naquilo que é feito nas Belas Artes e que o nosso trabalho não fica esquecido quando acabados os estudos”.

Percursos multifacetados

A ligação de Beatriz e de Maria à FBAUP começou ainda na licenciatura em Artes Plásticas, que terminaram com um ano de diferença. E se no caso da primeira, a opção teve “uma relação íntima” com o percurso paralelo que vem trilhando na Dança, já para Maria, a escolha pelas Belas Artes foi “natural”. 

As dúvidas durante a Licenciatura surgiram também de forma diferente para as duas artistas. Se para Beatriz “não eram mais do que características complementares da prática”, Maria duvidou da Pintura como escolha, “principalmente depois de um ano letivo onde nos é possível experimentar as três grandes áreas – ponderando escolher tanto o ramo de Multimédia como o de Escultura.

Mais tarde, foi a Fotografia (analógica) que acabou por se mostrar uma opção clara no percurso da jovem pintora, bem como as Técnicas de Impressão. E foi nesta mistura de vários campos artísticos que viu, e ainda vê hoje em dia, uma mais valia.

47º 28’10 N 10º 48’20 E, Planseem Tirol, Áustria”, 2019, de Maria Cunha

No final do curso, quer Beatriz Bizarro quer Maria Cunha chegaram a bom porto com as decisões que tomaram. Beatriz nunca quis deixar nem a escultura nem a dança e, no ano pós-licenciatura, ocupou grande parte do tempo com esta última. Diz até que foi esse ano de formação intensiva em dança e a vontade de conciliar as área que a levou a continuar o trabalho em escultura a partir do Mestrado.

Maria, por sua vez, conciliou as diferentes possibilidades que tinha, mantendo sempre a Pintura como primeira opção mas trazendo diferentes opções e campos artísticos para o seu trabalho.

“Do invisível: da nuca” de Beatriz Bizarro

A opção pelo mestrado

Sobre as motivações que as levaram a seguir por um 2.º ciclo de estudos, ambas as artistas destacam o contacto com os professores e orientadores e as oportunidades que as discussões abrem ao crescimento intelectual e pessoal.

Para Beatriz Bizarro, o Mestrado fez também sentido pela oportunidade de desenvolver certas problemáticas com mais tempo, dedicação e um acompanhamento que não é possível na licenciatura, em que o tempo é dividido entre muitos objetivos.

No caso de Maria Cunha, o Mestrado não era uma preocupação mas seria sempre uma mais valia “para a criação de uma rede artística”. E acabou por ser isso mesmo. Mais importante, colocou-a disponível para pensar em exposições, não só como o ato de fazer uma Exposição, mas também como o aceitar a sua própria exposição (enquanto criativa e pessoa) perante esse momento, esse “ato de coragem.”

A importância da cultura

No que toca à falta de apoios para a Cultura, e para as Belas Artes em especial, Beatriz foca-se no “associativismo e colaboração entre artistas como forma de resistir e de procurar contornar essa tendência de precariedade” e de falta de urgência em “criar condições para que a realidade profissional do artista seja distante da sua multiplicação por várias ocupações profissionais.”

Maria concorda que “deveríamos contar com mais apoios para a Cultura” já que é “aquilo que define uma sociedade” e que “não há propostas”. Apesar de saber que não ia ter um trabalho certo quando optou pelas Belas Artes, acredita que é possível ter um futuro na área, ainda que não a tempo inteiro, nem para todos. A viver atualmente na Alemanha, participa nos concursos que vê disponíveis e criou um estúdio onde dá seguimento ao trabalho artístico, que concilia com um pequeno emprego para pagar as despesas ao final do mês.

Beatriz, por seu lado, acredita na força de entidade coletiva como forma de ampliar as possibilidades de trabalho através da diversidade dos seus elementos na experiência e conhecimento e por isso mesmo tem procurado estimular o trabalho colaborativo e em rede com outros artistas e outros grupos.

O Prémio Infanta Dona Maria Francisca 2019 será entregue em data a anunciar, nas instalações do MNSR. As candidaturas para a edição 2020 terminaram a 31 de outubro (ver regulamento).