Manuel Coutinho concluiu o 1.º ano do Mestrado Integrado em Engenharia Informática da Faculdade de Engenharia da U.Porto com média de 19,15 valores. (Foto: DR)

Manuel Coutinho é natural de Aveiro e tem 20 anos. Passados quase dois anos desde que começou o Mestrado Integrado em Engenharia Informática e Computação, na Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP), e ultrapassadas as dúvidas existenciais típicas da meninez académica (“o que é que eu estou a fazer aqui? Será que sou capaz?”), Manuel já encara o seu progresso na universidade com uma visão mais adulta. “Os colegas passam a amigos, os professores a conhecidos”, até porque, acrescenta, “o espírito de entreajuda e de partilha foi maior do que alguma vez tinha experienciado”, e o ritmo de trabalho foi tornando-se mais fácil de domar. Não há, portanto, motivos de arrependimento da escolha que tomou no final do ensino secundário.

Agora que foi distinguido, juntamente com 21 outros estudantes, com o Prémio Incentivo 2019, deixa algumas sugestões à U.Porto: mais contacto interdisciplinar, uma revisão do sistema SIGARRA, ou a eliminação do limite de créditos por semestre imposto aos alunos. No momento em que avalia a importância do prémio que a U.Porto lhe entrega, promete continuar o seu trabalho também em atividades paralelas ao currículo do seu curso.

– O que te levou a escolher a U.Porto?
Costumo dizer que não fui eu quem escolheu a Universidade do Porto, mas que ela é que me escolheu a mim. Não só é um início de conversa muito mais interessante do que “ficava perto” ou “é a melhor do país”, como também é tão verdade como dizer que a escolhi.

– O que gostaste mais e menos neste primeiro ano na Universidade?
O que mais gostei neste primeiro ano foi a dúvida constante: “o que é que eu estou a fazer aqui?”, “será que sou capaz?”, “será que é isto que eu quero mesmo?”, “sabendo que estou aqui, será este o caminho correto para chegar a um lugar que desconheço?”. Infelizmente, a novidade apenas o é por algum tempo, e, com a passagem para o segundo ano, a segurança e o nosso lugar/papel no curso vai ficando mais claro: os colegas passam a amigos, os professores a conhecidos, e a rotação incessante de disciplinas passa a ser uma constante. O aspeto menos positivo não foi a competitividade de que ouvia falar – bem pelo contrário, o espírito de entreajuda e de partilha que encontrei no meu curso foi maior do que alguma vez tinha experienciado -, mas o facto de não ter ouvido o Bo Burnham quando ele dizia que se se fizer ou disser algo, mesmo que  se seja autoconsciente da falha do mesmo ou da sua hipocrisia, em nada difere de o fazer sem o ser, pois o resultado final será o mesmo: eu, daqui a um ano (se tanto), com vergonha das repostas que dei hoje.

– Uma experiência para recordar?
Este ano foi repleto de experiências que espero poder contar aos meus netos quando for mais velho. Uma que posso partilhar aqui é a noite em que houve uma ameaça de bomba nos Aliados e mesmo assim fomos, uns colegas de curso e eu, assistir ao nascimento de uma nova banda de Indie Rock portuguesa no seu primeiro concerto no Concurso de Bandas de Garagem da FAP, ainda sem baixo e com poucas músicas no seu reportório (entretanto já lançaram o primeiro EP), mas com uma grande paixão e entrega à sua música. No dia seguinte o teste correu-nos espantosamente bem a todos e adotamos os Jepards como amuleto.

– Uma ideia para melhorar a U.Porto?
Poderia comentar sobre a falta de diálogo e projetos entre os vários cursos, polos e mesmo faculdades do mesmo polo, perdendo-se um pouco do que prometiam ser a “experiência universitária” de conhecer gente com visões tão diferentes das nossas (quando vou comer à FLUP por exemplo, sinto que é todo um mundo paralelo que estou a perder), mas quanto ao posicionamento das várias faculdades não se pode fazer muito (o facto de já encontrarmos pessoas com interesses parecidos, com objetivos semelhantes já é bastante positivo).
Poderia também falar sobre o SIGARRA, mas dir-me-iam que levaria muito tempo a reestruturar tudo e que no final do processo, já o novo sistema estaria caduco, mas uma ideia simples de melhorar seria a permissão de aquisição de mais do que 75 ETCs como muitas outras universidades têm. Da forma como está, a frequência de dois cursos é meramente ilusória, obrigando quem realmente o quer fazer a recorrer a instituições alternativas.

– Um desejo para a Universidade do Porto, no seu aniversário?
Copiando a resposta de tantos outros colegas, fazendo jus à maneira como cheguei aqui, desejo que continue a ser uma Universidade de excelência, que nunca se satisfaça com onde chegou e ambicione sempre mais, continuando a educar os jovens que serão o futuro deste país. Votos de um bom 108.º aniversário.

– Qual a importância do Prémio Incentivo para o teu futuro?
Nunca fui muito bom a futurologia, aliás se há 5 anos me dissessem que estaria na FEUP em Informática, provavelmente rir-me-ia (como o ainda o faço diariamente), por isso, baseando-me na minha experiência presente para tentar fazer uma previsão: pelo que os alunos mais velhos me têm transmitido, no meu curso e na minha área a nota não é muito relevante para o futuro de cada um, sendo os projetos e atividades em que se está envolvido de uma importância muito maior. Sendo este um prémio que evidencia as boas notas, creio que o peso deste no meu futuro não seja o maior, e espero que não me iniba nem me faça pensar duas vezes quanto à participação em mais e mais projetos diferentes com medo de descer uma média. Contudo para o presente creio que tem grande importância, não só a nível monetário que é sempre uma grande ajuda, mas também para que a minha avó possa finalmente dizer sem constrangimentos “o meu neto não está em medicina, mas é bom naquela coisa dos computadores”.