As políticas culturais da Universidade do Porto vão servir de modelo para a Declaração do Porto – Universidade & Cultura, documento que poderá vir a servir como guião da União Europeia para promover a aproximação entre o Ensino Superior e as Artes e Cultura, através de iniciativas como o desenvolvimento de unidades curriculares em parceria com instituições culturais ou a criação de Corredores Culturais para acesso privilegiado dos estudantes à criação cultural e artística.

O anúncio foi feito durante a primeira Cimeira Europeia Universidade & Cultura, que decorreu nos dias 29 e 30 de março, no âmbito da Presidência Portuguesa da União Europeia.

A Declaração do Porto – Universidade & Cultura vem no sentido de “criar condições de igualdade de oportunidades para todos os estudantes no acesso às artes, cultura e património”, afirmou a Vice-Reitora para a área da Cultura da Universidade do Porto.

Fátima Vieira salientou a importância de se reforçar “o elo de ligação” entre as instituições do Ensino Superior e as instituições culturais locais. “Este é o tempo perfeito para agir. Temos um problema de natureza cultural e, se a cultura é parte do problema, também pode ser parte da solução”, adiantou.

Num misto de “entusiasmo e responsabilidade”, a vice-reitora da Universidade do Porto apontou o “inicio de algo novo”. A Arte e a Cultura “são fatores transformadores da academia, e este é o momento. Temos todas as ferramentas necessárias, só precisamos de nos juntar e criar grandes projetos”, acrescentou.

A ministra da Cultura, Graça Fonseca, e o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, que participaram também do encontro, defenderam a importância da aproximação das instituições do Ensino Superior à Cultura, considerando que estas devem ser “a língua comum” para estudantes e professores.

“Podemos todos concordar que a universidade e a Cultura devem ser a língua comum entre todos os que estudam e todos os que ensinam”, afirmou a ministra Graça Fonseca, na sessão de encerramento.

Teatro São João e Casa da Música serão palco de novas unidades curriculares

Desta Declaração do Porto – Universidade & Cultura fará parte a integração de novas unidades curriculares para todos os estudantes de licenciatura e mestrado. Fruto de parcerias com instituições culturais (como o Teatro Nacional de São João, a Casa da Música e o Museu Nacional Soares dos Reis), a U.Porto vai oferecer, já a partir do ano letivo 2021/2021, novas Unidades Curriculares de Competências Transversais de base cultural ou artística para os estudantes de todas as áreas de formação.

Na unidade curricular “Volta ao Palco em 80 horas”, no Teatro Nacional São João, os estudantes vão aprender com encenadores e atores, e na unidade “Música e Sociedade” vão conhecer a Casa da Música “por dentro”. Já na unidade “Museu como um lugar de fruição”, no Soares dos Reis, os estudantes vão adquirir competências de avaliação das coleções, valências e dimensões do museu, enquanto que na unidade “Jardim Botânico” vão conhecer a arte e técnica de criar jardins.

“Gostava de aplaudir o anúncio de novas unidades curriculares que resultam de parcerias com as instituições culturais locais e do Corredor Cultural do Porto. Este tipo de parcerias são fundamentais e devem ser alargadas”, referiu a ministra da Cultura, acrescentando que a cimeira abriu portas para “novas direções e interpretações” neste campo.

Na nova UC de “Música e Sociedade”, os estudantes vão conhecer a Casa da Música “por dentro”. (Foto: Egídio Santos/U.Porto)

Do Porto para a Europa, o exemplo do Corredor Cultural

A Ministra da Cultura saudou a Universidade do Porto pela iniciativa do Corredor Cultural do Porto que irá promover o livre acesso de todos os estudantes universitários aos museus da Universidade, da autarquia e ao Museu Nacional Soares dos Reis, bem como condições especiais de acesso a salas de espetáculo.

Graça Fonseca considera que estas parcerias entre universidades e museus e teatros nacionais são fundamentais para que estes equipamentos “observem a sua missão pública, até porque se a sua dimensão é nacional, faz parte do seu ADN estarem inseridos na cidade e para a cidade”. A ministra deixou ainda uma interrogação em forma de repto: “Que melhor forma há de um museu ou um teatro estar ao serviço da sua cidade e comunidade próximas que ser um espaço aberto aos que estudam?”

Os estudantes vão ainda beneficiar de um desconto de 50% no preço do bilhete para espetáculos no Teatro Nacional São João, Teatro Campo Alegre, Rivoli e Coliseu do Porto, bem como no bilhete de entrada no Museu de Serralves.

Fátima Vieira adiantou que irão integrar este Corredor Cultural “múltiplas estruturas museológicas da cidade” do Porto, tais como o Reservatório, Casa Tait, Casa dos 24, Casa Guerra Junqueiro e Biblioteca Sonora. Os estudantes universitários, nacionais e de países europeus abrangidos pelo programa Erasmus +, poderão visitar estas instituições “livremente ou a preços muito reduzidos. Começamos com o Corredor Cultural do Porto e sonhamos com um corredor cultural à escala europeia”, acrescentou a vice-reitora.

Também o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, salientou que a Arte e Cultura vão ser “uma das transformações” das universidades, ao diversificarem e facilitarem o acesso e inclusão dos estudantes. Manuel Heitor salientou a “relevância” da iniciativa que, nestes dois dias,  “ganhou vários apoiantes” e “’stakeholders’ da área da inovação e ciência que se vão juntar para melhor delinear estratégias”, no âmbito do programa Horizonte Europa.

Declaração do Porto segue para discussão na União Europeia

A Declaração do Porto – Universidade & Cultura, a colocar em discussão pública no final de abril, verá apresentadas as suas conclusões na EU High Level Round Table on Research and Innovation in Cultural Heritage and Criative Industries, uma espécie de cimeira da União Europeia dedicada à inovação e investigação nas áreas das indústrias criativas e herança cultural. O anuncio foi feito pelo Ministro da Ciência, Tecnologia e  Ensino Superior.

Nesta Cimeira, o reitor da Universidade do Porto, António Sousa Pereira, salientou que o Corredor Cultural do Porto tem como principal objetivo “a democratização da cultura” e assegurou que a instituição está “comprometida com esta missão”.

Também presente no evento, o comissário do Plano Nacional das Artes salientou a importância de “transformar as instituições do Ensino Superior em centros culturais”. Paulo Pires do Vale considerou “urgente capacitar cada instituição de Ensino Superior de um forte departamento cultural para continuar esta missão e promover projetos multidisciplinares. É necessário quebrar as paredes das instituições. […] Não nos podemos fechar nas áreas em que nos especializamos”, acrescentou.

Dois dias, mais de 60 participantes

Durante os dois dias, a Cimeira Europeia Universidade & Cultura contou com as  intervenções da comissária Europeia para a Inovação, Mariya Gabriel, da comissária Europeia para Coesão e Reformas, Elisa Ferreira, e do presidente da Associação das Universidades Europeias, Michael Murphy.

Participou também na Cimeira a diretora do Museu Peabody de Arqueologia e Etnologia, de Harvard, nos Estados Unidos, a museológica Jane Pickering, que defendeu a necessidade de os museus terem a “responsabilidade de ser o coração das universidades”.
“Os museus universitários podem ajudar e criar oportunidades nas várias disciplinas”, disse, acrescentando que estas instituições precisam de ter “ambição” para também chegarem às comunidades locais.

O ensaísta Alberto Manguel, do Centro de Estudos da História da Leitura, em Lisboa, o filósofo e investigador Daniel Innerarity, professor de Ciência Política da Universidade do País Basco e da London School of Economics, foram outros dos intervenientes, assim como o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira.

Organizada pela Universidade do Porto, em parceria com o Plano Nacional das Artes, a primeira Cimeira Europeia Universidade & Cultura visou debater o papel crucial e democrático que as artes podem desempenhar na missão das universidades da UE no mundo.