Pedro Pereira Rodrigues, investigador principal do BioData, unidade do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, é uma presença marcante no ensino e na investigação em Bioestatística e Análise de Dados em Saúde da Universidade do Porto.

Foi aqui, de resto, que fez toda a sua formação académica, desde a licenciatura em Ciência de Computadores ao Doutoramento pela Faculdade de Ciências (FCUP) na mesma área de estudo, concluído com a apresentação da tese “Learning from ubiquitous data streams”.

Recentemente, viu ser aprovado no Senado da U.Porto a criação do Programa Doutoral em Health Data Science, o mais recente doutoramento do Departamento de Medicina da Comunidade, Informação e Decisão em Saúde (MEDCIDS) da Faculdade de Medicina (FMUP), que deverá arrancar no ano letivo de 2018/2019 e do qual é o primeiro coordenador.

A sua larga experiência nestas áreas valeu-lhe também, em 2017, o convite para ser Relator da Agenda Temática de Saúde, Investigação Clínica e de Translação promovida pela FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, cujo trabalho está ainda em curso. “Até ao fim do ano deveremos ter uma Agenda que consolide as grandes linhas de investigação para o futuro”, avança Pedro Pereira Rodrigues.

Além de docente da FMUP e membro da Comissão Científica de vários cursos da Universidade do Porto (como o Mestrado Integrado em Medicina, o Mestrado em Informática Médica e o Programa Doutoral em Investigação Clínica e em Serviços de Saúde), Pedro Pereira Rodrigues é, no CINTESIS, o coordenador do NanoSTIMA (Macro-to-Nano Human Sensing: Towards Integrated Multimodal Health Monitoring and Analytics), um projeto financiado pelo H2020.

Os seus planos futuros passam por continuar a investigar e a dar aulas, contribuindo para a produção de conhecimento e para a transmissão de competências em áreas-charneira como as tecnologias médicas e a saúde digital, de modo a fazer face aos grandes desafios atualmente colocados na área da promoção da saúde e da prevenção de doenças.

Naturalidade? Miragaia, Porto.

Idade? 38 anos.

De que mais gosta na Universidade do Porto?

Da autonomia das suas unidades orgânicas, e da permanente inovação nos modelos de ensino e investigação científica. Também aprecio bastante a relação próxima que fomenta com a juventude, e a tentativa de integração moderna com a cidade e o país.

De que menos gosta na Universidade do Porto?

Do afastamento físico (e muitas vezes também estratégico) das suas unidades orgânicas.

Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Ao nível académico, existem diversas ideias que todos sentimos serem estruturantes, mas gostava de aproveitar para direcionar a minha preocupação para uma dimensão mais metropolitana. O afastamento físico das unidades orgânicas da Universidade é, ainda, um ponto por resolver na organização da cidade. Seria importantíssimo defender e apoiar a criação de uma linha de metro (porquê não suspenso sobre a VCI, à semelhança do que existe na TU Dortmund) que ligue os polos da Asprela e do Campo Alegre, aproximando os seus estudantes e funcionários, podendo servir também, no futuro, de linha circular da rede de metro do Porto.

Como prefere passar os tempos livres?

Na brincadeira com a ganapada lá de casa, aproveitando também ao máximo o tempo disponível para praticar desporto (retornei ao badminton federado no CDUP após vinte anos de interregno) e para a astro-fotografia, que ainda me vai permitindo ver o passado por acumulação de presentes.

Um livro preferido?

Certamente não posso deixar de mencionar os clássicos “1984” de George Orwell, “Até ao Fim” de Vergílio Ferreira, “Evangelho Segundo Jesus Cristo” de José Saramago, ou “Relativity – The Special and The General Theory” de Albert Einstein. No entanto, há alguns anos que o meu livro preferido é “A Mãe Que Chovia”, o primeiro livro infantil de José Luís Peixoto, que leio frequentemente ao meu filho antes de adormecer. Como todos os livros para crianças, é de leitura obrigatória para os adultos.

Um disco/músico preferido?

O melhor que a música nos pode dar é essa certeza de que as preferências são temporais. Crescido com Chico Buarque e Sérgio Godinho, cresci um pouco mais com Queen e Beatles. Foram, no entanto, os Pixies e Portishead quem mais me marcou o gosto musical, mantendo-me agora mais ligado a PJ Harvey e CocoRosie. Mas também, claro, Luiz Goes e Carlos Paredes, que me acompanham desde os tempos de estudante e do Grupo de Fados e Guitarradas.

Um prato preferido?

Provei recentemente Crispy Black Pudding com ervilhas e ovos escalfados, e fiquei deliciado. Mas julgo que ainda elejo, como preferido, um arroz de castanhas e rúcula; na verdade, qualquer prato com castanhas.

Um filme preferido?

Tal como nos livros, há filmes incontornáveis que não cabem numa ordenação, como “Underground” de Kusturica, “The Meaning of Life” de Monty Python, “Enter The Void” de Gaspar Noé, “Há Festa na Aldeia” de Jacques Tati, “Fight Club” de David Fincher, “A Lista de Schindler” de Spielberg, ou “Cubo” de Natali. Mas continuo a destacar “Lost Highway”, de David Lynch, como o filme que mais mudou a minha perceção sobre o cinema e que, por isso, se mantém no topo das minhas preferências.

Uma viagem de sonho?

Há dois anos tive o privilégio de visitar Sydney e as Blue Mountains, na Austrália. Voltar lá seria fantástico, mas julgo que, de sonho, seria poder acampar (e apreciar o céu noturno) no Parque Nacional de Warrumbungle, o primeiro Dark Sky Park na Austrália, livre da poluição luminosa das nossas noites citadinas.

Um objetivo de vida?

Academicamente, corporizar e consolidar a área científica de Ciência de Dados de Saúde na Universidade do Porto, tornando-a assim pioneira a nível internacional, numa dimensão simultaneamente integradora e multidisciplinar da investigação que, julgo, se traduzirá num futuro impactante para a sociedade e a vida das populações. Pessoalmente, garantir a devida formação das dimensões de autonomia, independência e tolerância nos catraios lá de casa, esperando que me acompanhem na procura por uma sociedade mais equitativa e equilibrada, livre de normas culturais racionalmente insustentáveis.

Uma inspiração?

Inspiram-me as ações, não as pessoas. Felizmente, os meus caminhos cruzaram o de muitas pessoas cuja vida está repleta de ações inspiradoras e tenho pena de nem sempre ter sido capaz de o enaltecer devida e atempadamente. Espero ainda ir a tempo.