Investigador no CINTESIS, Júlio Souza concluiu recentemente o Programa Doutoral em Investigação Clínica e em Serviços da FMUP. (Foto: CINTESIS)

Nascido em 1990, em São Paulo, no Brasil, Júlio Souza aterrou na Universidade do Porto há cinco anos, com o objetivo de se afirmar como investigador. Realizou-o na Faculdade de Medicina (FMUP), onde concluiu recentemente o Programa Doutoral em Investigação Clínica e em Serviços de Saúde, e no CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, onde diz ter aprendido a fazer investigação.

Assumidamente tímido , mas muito aplicado nos estudos, Júlio quis ser médico ou biólogo, mas acabou por fazer Informática Biomédica na Universidade Estadual de São Paulo. Estava a fazer o mestrado em Bioengenharia quando veio pela primeira vez a Portugal, com uma bolsa de mobilidade atribuída pelo Banco Santander. Fez seis meses de estágio na U.Porto, entre agosto de 2014 e janeiro de 2015. Dois meses depois, estava de regresso ao nosso país, desta vez com uma bolsa de doutoramento. A integração no CINTESIS foi determinante.

“Eu gostei do CINTESIS porque sempre me senti bem acolhido. Basta cruzar o corredor para encontrar especialistas de várias áreas e isso abre muitas portas. Aprendi a fazer investigação aqui”, afirma.

Na sua investigação, Júlio Souza analisou bases de dados de internamentos no Serviço Nacional de Saúde ao longo de cinco anos, tendo desenvolvido uma metodologia capaz de melhorar a qualidade da informação clínica disponível. Outro dos objetivos é identificar discrepâncias de codificação entre hospitais com padrões de complexidade semelhantes, bem como detetar possíveis casos de “upcoding”, que visa a obtenção de mais financiamento de forma indevida. Esta metodologia pode ser utilizada para monitorizar os hospitais e os casos suspeitos podem ser sujeitos a auditorias para averiguar a existência de más práticas.

Atualmente, o investigador está a trabalhar noutros projetos, analisando bases de dados com o objetivo de comparar a eficiência dos sistemas de saúde europeus e o estado de saúde dos cidadãos de diferentes países da União Europeia.

Cinco anos depois de chegar a Portugal, Júlio diz não ter planos para regressar ao seu país de origem, onde ficaram os pais e um irmão mais velho. “Não tenho planos para voltar num futuro próximo. Por mim, ficava para sempre. Se voltasse para o Brasil agora, dificilmente poderia fazer investigação, uma área que foi muito afetada pela crise”, diz. Já sobre Portugal e o Porto, “gostei tanto, mudou tanta coisa na minha vida, pessoal e profissional, na minha forma de pensar. É um lugar que me faz bem e onde quero estar enquanto puder”.

Naturalidade? Ribeirão Preto, São Paulo (Brasil)

Idade? 29 anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Na minha experiência, sempre que eu precisei, as pessoas foram muito solícitas, quer o pessoal académico, quer administrativo. Sempre resolvi os problemas sem grande burocracia e sem demora. Fui sempre bem tratado e bem atendido.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Há muita influência da política e os conflitos de interesses pessoais, por vezes, podem causar prejuízo à investigação, mas este é um problema generalizado.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Era bom que aumentasse o número de profissionais da área da gestão para ajudar os investigadores na procura de financiamento, na submissão de projetos e na procura de parcerias. Isso podia estimular a investigação. Já temos pessoas que fazem isso, no CINTESIS. Deveriam ser em maior número.

– Como prefere passar os tempos livres?

Não sou uma pessoa de hábitos fixos. Gosto de ir ao cinema e de passear na Ribeira do Porto com os amigos.

– Um livro preferido?

Desde adolescente, sempre gostei de Oliver Twist.

– Um disco ou músico preferido?

Gosto de Led Zeppelin. Sempre gostei muito de rock antigo.

– Um prato preferido?

Arroz de pato.

– Um filme preferido?

O Bom Rebelde, de 1997, de Gus Van Sant.

– Uma viagem de sonho?

Quero muito ir a Nova Iorque. Nunca fui aos Estados Unidos sequer, mas tenho muita vontade de ir.

– Uma inspiração?

Os meus pais são uma inspiração porque sempre foram muito trabalhadores. Até hoje. Acho que não aproveitaram a vida, sempre se esforçaram e sacrificaram bastante, por mim e pelo meu irmão.

– Um projeto de vida?

O meu projeto é ficar mais tempo em Portugal. Gostei tanto, mudou tanta coisa na minha vida, pessoal e profissional, na minha forma de pensar. É um lugar que me faz bem e onde quero estar enquanto puder.

– Uma ideia para potenciar a investigação internacional, nomeadamente com a América latina e com o Brasil?

Promover e incentivar a mobilidade de investigadores e estudantes de doutoramento e, por parte das agências, como o FCT, criar calls exclusivas para projetos com colaboração internacional.