Em 2017, esteve em Norcia, como voluntário do European Solidarity Corps, a apoiar as vítimas do terramoto que atingiu aquela zona da Itália. (Foto: DR)

As artes marciais são uma parte muito importante da vida de José Tiago Sousa. “Ensinaram-me muito: fizeram de mim um lutador”, diz. Dentro e fora do tatami. Afinal, foi através delas que este jovem de 23 anos, natural de Mindelo (Vila do Conde), chegou ao associativismo e à intervenção em causas humanitárias, as que têm preenchido os últimos anos da vida do também estudante da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP).

Em 2017, esteve em Norcia, Itália, na primeira missão do European Solidarity Corps a apoiar vítimas de terramotos, “uma missão que mudou a minha vida”, confessa. No ano seguinte, esteve na Polónia a apoiar a comunidade de crianças numa zona periférica do interior do país. Já em 2019, foi um dos vencedores do Prémio Cidadania Ativa na vertente Humanitária/Solidária, prémio criado pela U.Porto a pensar nos estudantes que, no ano anterior, “mais se destacaram em atividades extracurriculares de cidadania.” Antes, em dezembro de 2018, já fora reconhecido pela U.Porto como “Voluntário U.Porto 2017/2018”.

José  Tiago Sousa venceu o Prémio Cidadania Ativa 2019 na vertente Humanitária/Solidária, entregue pelo Presidente da República durante a Sessão Solene do Dia da Universidade. (Foto: Egidio Santos/U.Porto)

A atribuição dessa distinção deve-se grandemente ao trabalho da Solidarity Soul, associação que José Tiago fundou e que está integrada na UP Solidária. Esta associação está em voluntariado contínuo no Centro Social Sé Catedral do Porto em apoio ao idoso e em apoio educativo, mas foi também responsável por ações como a de limpeza da Reserva Ornitológica de Mindelo. Apoiou também uma outra limpeza e promoveu uma grande visita na mesma área com as principais entidades ecológicas do país. A associação ainda organizou a “Ação do Dia do Sol”, através da qual sensibilizou no Hospital de São João para “a problemática da humanização dos tempos e espaços de espera”, e participa nas ações do Banco Alimentar.

Paralelamente a todo este percurso, José Tiago completou a Licenciatura em Economia na U.Porto, “a capital das universidades”, conforme o próprio a apelida. Na FEP, de momento, frequenta o Mestrado em Finanças e Exerce também as funções de Vogal no Conselho Pedagógico da FEP, em representação dos alunos de mestrado e Doutoramento.

Gosta de caminhar e correr, ver o mar. Gosta de ler, sobretudo filosofia, e gosta de estar com os seus amigos e a sua família.

Naturalidade? Mindelo, Vila do Conde.

Idade? 23 anos.

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

O meu coração divide-se entre a FEP e a Comissão de Voluntariado da U.Porto. São seguramente as duas coisas que mais gosto na Universidade. Às vezes, estudo na FMUP, gosto de lá ir também. A biblioteca é muito tranquila. Frequentei também a FLUP, em Filosofia. Eu achava que queria ser filósofo, mas percebi que não era esse o meu caminho. Guardo boas memórias e , inclusive, completei todas as cadeiras do primeiro ano. Depois fui para Economia. Por coincidência, uma das minhas irmãs estuda Filosofia e a mais nova está na FEP. Penso que a FEP tem uma algo de especial. Costumo dizer: tem uma dimensão moral. Orgulha-se dos seus alunos e trabalha para o seu sucesso.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Gosto bastante da Universidade, mas às vezes não consigo aceder ao Wifi. É talvez isso o que menos gosto. Mas é um detalhe.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

A Universidade do Porto é a capital das Universidades. Há outras de prestígio, mas nenhuma concilia uma história tão ampla e uma inovação tão eficaz. É a mais solidária, aposta continuamente na investigação e estrutura, tem as melhores médias de acesso, conta com personalidades de excelência e outros. O sentido histórico reforça a confiança no que lá vem. Muito caminho foi bem feito. A U.Porto é uma referência para outras que, a nível nacional, seguem o seu bom exemplo. Defendo que de modo gradual devemos selecionar os melhores caminhos da internacionalização. A lusofonia, onde o Brasil se destaca, é uma opção a seguir de modo gradual. Quer se queira quer não, a nossa língua tem bem mais “população” que o nosso país. O que pode haver de uma certa razão do lado dos críticos é o considerar que isso deva ser mais repartido no tempo. Mas já estão a ser encontradas soluções. Por exemplo, na FEP os alunos de mestrados dão acompanhamento às necessidades específicas dos alunos brasileiros de licenciatura. É importante que se perspective melhorias de futuro e se reforce a perseveração da história. Dou um exemplo, a Reserva Ornitológica de Mindelo surgiu da iniciativa de uma grande figura da U.Porto: o Prof. Doutor Santos Júnior. Isso é património histórico e ecológico. Acho que reforça sempre o prestígio da U.Porto apostar continuamente na defesa da Reserva Ornitológica de Mindelo.

– Como prefere passar os tempos livres?

Pratico Kung Do Te. As artes marciais ensinaram-me muito: fizeram de mim um lutador. Gosto de caminhar e correr, sobretudo na Reserva Ornitológica de Mindelo. Aproveito e desço para ver o mar. Vou lá desde criança. Costumo ler filosofia e gosto de estar com os meus amigos e a minha família. Às vezes também preciso de silêncio e sossego, só assim recupero as forças e faço algumas reflexões. De vez em quando também falho: digo coisas tontas de que me arrependo, como diz a canção.

– Um livro preferido?

Gosto de vários. Mas o que mais me marcou foi o “Ética para um Jovem” do Fernando Savater. Foi um livro decisivo porque me falou em linguagem tão acessível, daquilo que é ser-se digno e feliz. Que reforça que nem tudo vale o mesmo e que somos nós que temos de colocar os imperativos à porta dessa grande entrada que é a ética.

– Um disco/músico preferido?

“Aprendimos a quererte desde la histórica altura donde el Sol de tu bravura le puso cerco a la muerte.”. Ouço a versão do Silvio Rodríguez do “Hasta Siempre!”… ouço outras dele também. Mas uma música que me marcou muito em Norcia é “O Rancho Fundo” do António Zambujo. Tocava-me a parte “…se Deus soubesse da tristeza lá da serra…”. Ouço também Chico Buarque, “O Velho Francisco” por exemplo.

– Um prato preferido?

Gosto sempre da comida da minha mãe e da minha avó. Prefiro sempre comer sopa antes do prato. De resto, nunca sou esquisito. Mas tendo de escolher um só, vou para uma especialidade do Porto: a típica Francesinha. Fizemos uma noite cultural em Norcia e foi isso mesmo que do lado português se preparou. Não ficou autêntica, mas era saborosa.

Tem graça que na comida vi um dejà vu na Polónia em relação a Norcia. Polónia. Acho têm um especial fascínio pela comida italiana: muitas pizarias e também gostavam bastante de massa. Mas o que mais gostei, na comida, era mesmo típico de lá: o famoso Pierogi!

– Um filme preferido?

Tenho mais certezas na serie preferida. Essa é, sem dúvida, o Prison Break. Nos filmes, gostei muito, por exemplo, do Forrest Gump.

– Uma viagem de sonho?

Gosto de viajar e conhecer outros sítios, é sempre construtivo. A que destaco é a de Norcia, porque foi a viagem para uma missão que mudou a minha vida.

– Um objetivo de vida?

A felicidade.

– Uma inspiração? (pessoa, livro, situação…)

Aquilo que me inspira é sentir-me acompanhado. Desde há algum tempo que venho trabalhado muito. Ao ponto fiquei demasiado cansado. Quando estive internado, não houve um horário de visita em que os meus pais não estivessem lá. E isso nunca poderá esquecer, porque era terrível estar fechado lá. Desmarcavam o que tinham a fazer e iam… Tenho três irmãos que sempre me dão a maior força. A minha avó paterna é como uma segunda mãe. A minha avó materna já não está entre nós, mas também sempre foi um exemplo de amor. Tenho bons amigos aos quais tenho de agradecer, entre eles os voluntários da Solidarity Soul. Na associação, destaco o Miguel Pinto porque esteve sempre, de modo incansável, ao meu lado.

– O projeto da sua vida?

Não gosto de limitar um só projecto. Quero sempre continuar a fazer a diferença. A Solidarity Soul não é perfeita, mas aproxima-se ao que eu simplesmente sonhei. Que tenha sempre a visão de fazer diferente, nisso e em tudo o resto.

– Uma ideia para promover uma cidadania mais ativa nos estudantes da U.Porto?

A Reitoria tem feito um trabalho central de excelência. Acho que as unidades orgânicas podiam, cada uma delas, seguir o exemplo da FEP. Ou seja, destacar um dia específico para actividades extra-curriculares, sensibilizar em proximidade para a formação de soft skills e outros. Manda a verdade que se diga, a FEP é muito forte no associativismo! Vale a pena tomar como referência.