Joana Paupério (Pessoa)Quando iniciou a sua carreira científica, Joana Paupério estaria longe de adivinhar que, 15 anos depois, seria responsável por “certificar” o aparecimento de uma nova espécie animal em Portugal. Mas foi isso que aconteceu. Chama-se rato-das-neves e é a nova “coqueluche” no percurso desta bióloga portuense, antiga estudante da Faculdade de Ciências (FCUP) e investigadora do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-InBIO), da Universidade do Porto.

Licenciada em Biologia e Mestrado em Ecologia Aplicada na FCUP, Joana Paupério iniciou-se na investigação em 2000, tendo desenvolvido estudos relacionados com a ecologia de mamíferos e participado em vários projetos de monitorização, gestão e conservação de populações. Pelo meio, concluiu o mestrado em Ecologia Aplicada e o Doutoramento em Biologia (2012), ambos pela FCUP.

“A minha investigação centra-se sobretudo nas áreas da genética da conservação e da história evolutiva de micromamíferos. O meu doutoramento focou a história evolutiva de um pequeno roedor, o rato-de-campo-de-cauda-curta. Esta revelou ser uma espécie muito interessante, tendo-se verificado que, na sua área de distribuição na Europa, inclui três grupos geneticamente muito diferentes, dois deles presentes na Península Ibérica”, apresenta-se a investigadora, cujo currículo regista a participação em vários projetos ligados à genética da conservação de micromamíferos.

Mas para ligar Joana Paupério ao rato-das-neves é preciso, primeiro, passar pela lente de Gonçalo Rosa, fotógrafo de vida selvagem que, no verão em 2014, avistou aquele espécie de micromamífero no Parque Natural de Montesinho. As fotografias foram depois enviadas para Hélia Vale Gonçalves e Paulo Barros, investigadores da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, que confirmaram tratar-se de uma nova espécie. “Já há alguns anos que colaboro com Hélia Gonçalves, que, após as capturas, contactou comigo no sentido de realizarmos no CIBIO as análises genéticas de confirmação da identificação da espécie. Assim, amplificamos dois genes, que confirmaram a identificação e permitiram enquadrar os indivíduos capturados em Portugal nas populações ibéricas”, explica Joana que, nos “tempos livres”, desmultiplica-se entre a família e a participação em ações de divulgação e de educação ambiental (ex: a atividade “Há vida no parque” em Serralves), dando a conhecer ao público em geral a importância dos micromamíferos nos ecossistemas.

Naturalidade?

Porto

Idade?

37 anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Da qualidade do ensino e da investigação que é reconhecida internacionalmente.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Da dispersão física em vários polos, que torna menos funcional a ligação e colaboração entre as diferentes faculdades.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto? 

Aumentar a ligação da Universidade a entidades privadas e empresas de forma a contribuir para o aumento das saídas profissionais para os jovens licenciados e fomentar o financiamento privado para a investigação.

– Como prefere passar os tempos livres?

A passear em família.

– Um livro preferido?

“Cem anos de solidão”, de Gabriel García Márquez.

– Um disco/músico preferido?

Gosto de vários tipos de música, mas por exemplo “Bach to Africa”.

– Um prato preferido?

Uma boa francesinha, como portuense que sou…

– Um filme preferido?

Acho que não tenho um filme preferido, gosto de vários, desde um bom romance, a filmes de animação, como “A idade do Gelo”.

– Uma viagem de sonho (realizada ou por realizar)? 

Voltar à Amazónia. Foi o lugar mais fantástico que já visitei. Também gostava de ter oportunidade de conhecer África.

– Um objetivo de vida?

A felicidade da minha família.

– Uma inspiração?

As minhas filhas…

– O projeto da sua vida…

Dar o meu contributo para a conservação e sustentabilidade, através do meu trabalho de investigação e da sensibilização para a importância da conservação da biodiversidade e, em particular, dos micromamíferos.

– Uma ideia para promover a investigação portuguesa a nível internacional?

Continuar a fomentar a colaboração internacional, de forma a por um lado contribuir para a formação dos investigadores portugueses e por outro dar visibilidade à investigação de excelência que se faz em Portugal.