Com uma vida dedicada à educação ambiental e a projetos colaborativos, Cristina Calheiros cobre uma multitude de projetos que desafiam os limites da aprendizagem e da transversalidade.

Cristina nasceu no Rio de Janeiro mas viveu a sua infância em Barcelos e depois em Ponte de Lima. Na aldeia de Calheiros, absorveu do pai o sentido da colaboração entre pessoas e redes internacionais, e da quinta da família, o amor à natureza e a importância do contacto e do cuidado com o planeta. Desde pequena que o seu sonho era ter uma quinta também, e ali criar um espaço de contacto com a natureza, uma espécie de laboratório vivo de experiências.

Formou-se Engenheira do Ambiente e doutorou-se em Biotecnologia pela Universidade Católica Portuguesa. Fez o seu estágio no Reino Unido e hoje é investigadora do CIIMAR, trabalhando na área da biorremediação de solos e águas, através de ecotecnologias como leitos de plantas, ilhas flutuantes e coberturas verdes. E porque acredita na partilha de conhecimento, no ensino e na aprendizagem ao longo da vida, procura ser ativista em causas que acredita através da educação para a sustentabilidade, turismo, desenvolvimento rural, coordenação de cursos de especialização e formação. Foi professora e investigadora na ESB-UCP de 2001 a 2016 e é convidada no Mestrado em Environmental Sciences and Management no Institute of Science and Environment na University of Saint Joseph em Macau.

“O que me move é aprender, saber mais e poder aplicar os conhecimentos para o bem da sociedade tendo em conta o Sistema Terrestre” refere Cristina. Entre os vários projetos a que se dedica incluem-se a “Casa Comum da Humanidade“, um projeto nascido no seio da U.Porto e do qual é membro fundador; e o Climate Reality Project , que lidera em Portugal e fez questão de “comemorar” com a comunidade CIIMAR organizando uma Watch Party na última edição das 24h reality. Recentemente foi convidada a participar na COST Action “ Implementing nature based solutions for creating a resourceful circular city” e como especialista em ambiente do IGCAT- International Institute of Gastronomy, Culture, Arts and Tourism. É ainda membro sénior da Ordem dos Engenheiros e pertence ao Conselho Regional do Colégio de Ambiente da região Norte.

Aos projetos soma-se ainda a conquista de vários prémios ligados à investigação científica e empreendedorismo, mas também noutras áreas como o desenvolvimento rural. Entre eles incluem-se os primeiros prémios do BES inovação 2009 e do BIP-Business ignition programe 2017, ou a Medalha de Ouro do Prémio Infante D. Henrique.

A paixão pela área ambiental intrusa-se frequentemente na vida pessoal: entre as viagens mais marcantes que realizou destaca a que fez à ilha do Bananal, considerada a maior ilha fluvial do mundo, no estado do Tocantins, mais concretamente ao Centro de Pesquisa Canguçu onde são desenvolvidos projetos de Sequestro de Carbono e monitorização da população de tartarugas da amazónia e de tracajá.

– Naturalidade? Brasil, Rio de Janeiro…Carioca

– Idade? 41

– O que mais gosta na Universidade do Porto?

Ser uma Universidade de referência nacional e internacional com muitas valências e oportunidades. A colaboração entre grupos e outras instituições é uma das vertentes que valorizo bastante.

– O que menos gosta na Universidade do Porto?

Ao nível do ensino a oportunidade para lecionar é muito restringida e fechada.

Um outro aspeto é a distância entre as faculdades…sendo apenas uma questão física, mas que muitas vezes se torna num obstáculo para que a proximidade entre grupos de investigação não intensifiquem mais a sua colaboração.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Como Engenheira do Ambiente, penso que a vertente da educação para a sustentabilidade, que vai para além da educação ambiental, deveria ser explorada em todas as faculdades, ao nível dos serviços, cursos e grupos de investigação. Tem havido esforços para se mudar e alterar hábitos e procedimentos, mas o caminho ainda é longo para dizermos que estamos verdadeiramente comprometidos a “cuidar da casa comum”.

– Como prefere passar os tempos livres?

O que mais gosto de fazer é passear na quinta dos meus pais em Ponte de Lima, preferencialmente em família. Estar em contacto com a Natureza é o melhor para recarregar baterias…e estar com amigos e conversar, conversar muito.

– Um livro preferido?

O meu “manual” de vida é a Bíblia. O livro preferido é Armas, Germes e Aço – Os Destinos das Sociedades Humanas de Jared Diamond.

– Um disco/músico preferido?

Gosto muito de música Brasileira mas não me canso de ouvir Frank Sinatra.

– Um prato preferido?

É difícil quando tive a sorte de ter a Rosa na minha infância em que tudo, mas mesmo tudo era bom. Talvez a eleger seja a sopa de lavrador e o rosbife que a Ana faz.

– Um filme preferido?

A Lista de Schindler é um filme que eu destaco pela narração e qualidade técnica de produção. Na verdade tenho muitos outros, pois desde cedo a minha avó desenvolveu em mim uma cultura pelo cinema muito forte…cheguei a pensar em seguir produção cinematográfica.

– Uma viagem de sonho?

É difícil porque gosto muito de viajar, mas gostava muito de ir às Galápagos ao Butão e às ilhas Kiribati, sonho que partilho com o meu filho. Estas últimas estão a sofrer gravemente as consequências do aquecimento global.

– Um objetivo de vida?

Continuar a fazer aquilo em que acredito e que faço com paixão, na área da Ciência e Ensino e conseguir um dia dar aulas de forma estável no ensino superior. Pessoalmente poder acompanhar o meu filho e dar o meu melhor para a sua formação.

– Uma inspiração? (pessoa, situação, livro, …)

Vou buscar a minha inspiração às pessoas que vou conhecendo que passam por mim e partilham as suas experiências. Gosto muito de ouvir e aprender. Recentemente as viagens que tenho feito a Macau tem-me deixado marcas muito fortes.

Faço muitas formações, para além das profissionais, de várias temáticas desde flores comestíveis e alimentação viva a outras mais espirituais, e isso permite-me que esteja muito mais desperta e sensível ao que se passa à minha volta.

– O projeto da sua vida

Sempre me vi com muitos projetos e é assim a minha forma de estar na vida…vê-la de uma forma holística em que tudo se interliga e faz sentido (mesmo que não seja no imediato). A área que mais gosto é ligada ao Ensino e era por ai que gostaria de evoluir.

Invisto muito tempo a semear, sabendo que nem tudo vai germinar…mas caso contrário nunca se irá colher.

Pelo que passei em termos de desafios com a minha saúde em que fui posta à prova muitas vezes os projetos que me envolvo tem que ter um sentido relevante, com uma contribuição válida, não em termos de dimensão, mas de impacto seja para uma pessoa ou para a sociedade ou ambiente.

– Que papel pode ter a Universidade do Porto na aproximação das pessoas à Natureza?

Um papel fulcral, que está implícito nos seus valores: “A Universidade do Porto pugna por um desenvolvimento ambiental, económico e social sustentável” e na sua missão de criação de conhecimento. O facto de a U.Porto ser a sede da associação “Casa comum da Humanidade” e membro fundador, mostra a dinâmica e o empenho desta instituição em prol do novo modelo de governação global dos recursos naturais para garantir a preservação das condições de habitabilidade na Terra.