Quando, em novembro passado, chegou a Sharm el Sheikh (Egito) para participar na COP27 – Conferência das Partes das Nações Unidas (ONU) sobre o Clima, Victória Rampazzo viu coroada uma trajetória que a tem colocado na linha da frente do combate às alterações climáticas. O Linkedin dá uma ajuda nas apresentações: “O meu objetivo é construir melhores políticas sobre as cidades, instituições e empresas para enfrentar os cenários existentes de alterações climáticas e também alcançar a igualdade de género nesses espaços”, lê-se no perfil da jovem ativista brasileira que, desde 2021, é também estudante do Mestrado em Riscos, Cidades e Ordenamento do Território na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP).

A ligação de Victória à causa climática começou durante a licenciatura em Gestão Ambiental, na Universidade de São Paulo. Porém, só depois de terminar o curso, em 2019, é que percebeu que aquele seria um combate para a vida. “Depois de formada, e trabalhando como consultora ambiental, percebi que fazia pouco para o tanto de mudanças que eu almejava…”, conta.

Estava dado o “clique” que a levaria a juntar-se à Engajamundo, organização de jovens na qual que se envolveu “profundamente” no movimento da juventude e das alterações climáticas. Ali, recorda, “tive oportunidade de conhecer jovens do Brasil todo e participei de diversos projetos de comunicação, educação ambiental e advocacy“.

Deste trabalho nasceu o convite para colaborar com a Coalizão de Ação Feminista pela Justiça Climática (FACJAC), uma plataforma da ONU Mulheres que desenvolve a sua ação ativista nos domínios das alterações climáticas e da igualdade de género. “Já realizámos consultas à juventude, participámos e promovemos encontros globais, workshops e até coproduzimos um minidocumentário sobre direitos sexuais e reprodutivos e alterações climáticas“, enumera a atual Youth Leader da FACJAC.

E se a COVID-19 “parou” o mundo, nem isso conseguiu travar a luta de Victória Rampazzo. Para além de assumir o papel de Líder Climática pelo The Climate Reality, foi em plena pandemia que lançou a sua própria página do Instagram sobre o universo socioambiental. Pelo caminho, aconteceu a mudança para o Porto, onde tem aproveitado todas as oportunidades proporcionadas pelo “ambiente universitário incrível” que encontrou na Universidade. “Adoro pensar que sou parte dessa rede global interconectada cheia de possibilidades!”.

Já em 2022, e depois de ter participado na primeira edição portuguesa da Conferência Internacional da Juventude (COY), surgiu então a oportunidade “inesperada” de participar na COP27. Algo possível graças a uma ação de crowdfunding que permitiu cobrir os elevados custos da viagem e estadia no Egito. “Sou eternamente grata aos doadores que acreditaram no meu trabalho e no meu propósito de levar as demandas da juventude a espaços tão importantes como uma conferência da ONU”, confessa.

Durante a COP27, Victória participou em vários eventos e reuniões, além de ter colaborado como organizadora e speaker de um painel “sobre a intersecção entre os Direitos Sexuais e Reprodutivos de Meninas e Mulheres e as Alterações Climáticas, e a importância dessa temática, pouco falada”.

Mas, aos 25 anos, o percurso da jovem ativista ainda está agora a começar. E a COP27 foi “apenas” mais um capítulo. “A minha história é focada a inspirar a juventude, especialmente meninas e mulheres, a ocupar espaços e engajar-se em eventos importantes e de alto nível como esse”, apresenta-se.

Para Victória Rampazzo, “a presença e participação da Juventude é indispensável para que os acordos internacionais sejam firmados de maneira justa e inclusiva, especialmente quando se trata da emergência climática”. Até porque, alerta, “a juventude já está sofrendo as maiores consequências dessa crise”.

Para já, o “próximo desafio” no horizonte da “mestranda, trabalhadora e ativista” passa por “conquistar oportunidades que consolidem a minha carreira de maneira internacional nas áreas do clima, género e cidades”. No caminho, promete continuar “de forma ativa, a possibilitar e engajar a participação de outros jovens nesse universo do voluntariado e urgência climática”.

(Foto: DR)

Naturalidade? São Paulo, Brasil

Idade? 25 anos

 De que mais gosta na Universidade do Porto?
Eu adoro a pluralidade de oportunidades que a Universidade do Porto oferece para os estudantes! Os programas de Erasmus, cursos, conferências, eventos, associações, viagens e diversos outras oportunidades, me brilham os olhos. A multiculturalidade do ambiente universitário também é incrível. Adoro pensar que sou parte dessa rede global interconectada cheia de possibilidades!!!
Nesse um ano e três meses de U.Porto, já tive oportunidade de ir para Roterdão fazer um curso de Transformação Urbana e Segurança Pública (Erasmus+), realizar investigação científica, ir a campo conhecer um bocado do Norte de Portugal e organizar uma mesa redonda na comemoração dos 50 anos da Geografia.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?
Eu sinto falta de uma melhor atenção a alguns aspetos, como a promoção de mais programas e bolsas de estudos focados em imigrantes do Sul Global, pessoas de baixa renda e um melhor olhar para as dificuldades que alguns alunos estrangeiros enfrentam ao chegar no Porto – a habitação e emprego.
No Brasil, estudei numa universidade pública, onde não se pagam propinas e se tem apoios extraordinários para garantir que os alunos se dediquem ao máximo à pesquisa, estudos e oportunidades universitárias. Sinto que a U.Porto teria muito a ganhar investindo em mais programas de apoio à juventude.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto? 
Confesso que seria interessante a possibilidade de realizar ao menos duas Unidades Curriculares – sem custos adicionais – de outros cursos de licenciatura e/ou mestrado da U.Porto. Gostava muito de ter a oportunidade de realizar alguma unidade curricular na área de Relações Internacionais, Gestão Pública ou Direito.

– Como prefere passar os tempos livres?
Gosto muito de passar meu tempo livre com meus amigos, conhecendo sítios novos pelo Porto e viajando.

(Foto: DR)

– Um livro preferido?
Pergunta difíci. Um livro que impactou muito minhas formas de ver o mundo e me perceber na sociedade é “O Mito da Beleza” (Naomi Wolf) e “A Mística Feminina” (Betty Friedan). Atualmente, estou a amar “Cidade Feminista a luta pelo espaço em um mundo desenhado por homens”, da Leslie Kern. Talvez quando terminar, tome o lugar no ranking de preferidos.

– Um disco/músico preferido?
Meu disco favorito é Born to Die, de Lana del Rey (2012).

– Um prato preferido?
Difícil, depende do meu humor… Adoro hambúrguer vegetariano, pizza, massa… e de doce, o imbatível tradicional Pavê de Chocolate da minha mãe, é meu preferido.

– Um filme preferido?
Um filme que eu adoro é “Erin Brockovich”. Retrata a determinação e o machismo que as mulheres enfrentam no mercado de trabalho, os desafios da maternidade e a carreira de uma mãe solo… além de evidenciar um caso famoso de injustiça e contaminação ambiental. Super recomendo!

– Uma viagem de sonho (realizada ou por realizar)? 
Posso dizer que tenho muitas viagens/sonhos ainda a correr em minha mente e coração, mas sem dúvida – conhecer um pouco do Egito e nadar de snorkeling no Mar Vermelho em Sharm el Sheikh, foi a concretização de um sonho lindo – que eu nunca sonhei – o qual se realizou.

– Um objetivo de vida?
Ter uma carreira profissional de impacto na área de resiliência climática e igualdade de gênero.

– Uma inspiração? (pessoa, livro, situação…)
Minha inspiração vem de “muitos lados” – além de grandes nomes como Gloria Steinem e Malala, para mim a juventude feminina brasileira é um grande símbolo de persistência e muita dedicação, podendo citar: Renata Alvarenga, Amanda Costa, Txai Suruí, Paloma Costa, Giovanna Vial, entre outras.

– Uma ideia para motivar os estudantes da U.Porto para a causa climática?
Como ativista e amante dos estudos multidisciplinares, uma grande motivação é a possibilidade de enxergar que todo estudante e/ou profissional, pode atuar de maneira positiva na causa climática. O clima e o meio ambiente – é tudo a nossa volta, e sendo assim, envolve todos os aspectos de nossas vidas. A causa climática é a causa pela vida e pelo presente. Além disso, como cidadãos, temos o dever de nos envolver nas questões comuns, como a básica justiça social, sem ela não existe justiça climática. Ser ativo socialmente e envolvido em lutas coletivas é uma enorme responsabilidade que demanda tempo e dedicação, mas é uma grande satisfação! Eu garanto que nunca estarás sozinho em uma causa.