Nascido no Porto e criado na Maia, mas com raízes familiares em Melgaço, a que chama «a terra», Tiago Beites licenciou-se em Biologia na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) em 2007 e concluiu o doutoramento na mesma faculdade em 2013.
Em 2015, deu o salto para os Estados Unidos, mais especificamente para a Weill Cornell Medicine, em Nova Iorque, onde iniciou o seu trabalho de pós-doutoramento no laboratório da investigadora Sabine Ehrt. Aqui, dedicou-se a estudar a biologia fundamental do agente patogénico humano Mycobacterium tuberculosis, causador da maioria dos casos de tuberculose. De 2020 a 2023, foi instrutor e depois Professor Assistente na mesma universidade.
Depois de oito anos a viver em Manhattan, que descreve como “uma experiência enriquecedora pessoal e profissionalmente”, o regresso à cidade do Porto, em julho de 2023, representou o “regresso a casa sem perder a vontade de alargar horizontes”. A nível científico, iniciou uma nova fase da sua carreira como Investigador Auxiliar no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), no grupo «Immune Regulation», liderado por Margarida Saraiva.
Atualmente, Tiago Beites coordena uma equipa cuja investigação tem como objetivo entender a biologia de alvos terapêuticos de agentes patogénicos, com especial foco na bactéria M. tuberculosis. Recentemente foi um dos distinguidos pelo programa CaixaResearch para a Investigação em Saúde, tendo recebido um total de quase 700 mil euros para desenvolver estratégias que possam encurtar a duração do tratamento e erradicação da tuberculose.
Naturalidade? Porto
Idade? 40 anos
– Do que mais gosta na Universidade do Porto?
Do seu espírito independente e inovador, bem como da forte tradição no campo das ciências naturais e exatas.
– Do que menos gosta na Universidade do Porto?
Falta alguma interligação entre saberes e uma maior atenção ao problema da precariedade na carreira dos investigadores.
– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?
Para além da melhor integração dos investigadores na estrutura da Universidade, fomentar o intercâmbio de alunos entre Faculdades. Durante a minha licenciatura em Biologia na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto teria sido muito proveitoso ter tido contacto com Filosofia, por exemplo. Pensar também se aprende e o trabalhar dos conceitos em abstrato é muito importante para quem faz investigação científica.
– Como prefere passar os tempos livres?
Nos tempos livres, estar com a minha família é sempre a prioridade. Com dois filhos há uma boa imprevisibilidade que corta a rotina. Quando possível, gosto muito de correr e aproveitar o facto de viver perto do mar.

(Foto: DR)
– Um livro preferido?
Memorial do Convento, de José Saramago. Há uma fina ironia por todo o livro que me deu bastante prazer ler.
– Um disco/músico preferido?
É muito difícil responder. Depende muito do meu estado de espírito e fase de vida. Neste momento, em alguns dias ouço mais Jazz, principalmente Bill Evans. Nos dias mais complicados a escolha recai em sons mais pesados como Tool.
– Um prato preferido?
Como bom portuense, Francesinha, claro.
– Um filme preferido?
Manhattan, de Woody Allen. Não só pelo extraordinário filme que é, mas também porque foi um fator que contribuiu para a decisão de mudar radicalmente a minha vida e abraçar o desafio de fazer o meu pós-doutoramento precisamente em Manhattan.
– Uma viagem de sonho?
Fazer a rota Panamericana na América do Sul e Central. Tive a oportunidade de viajar um pouco na Patagónia, mas soube a pouco. É uma viagem que terá de acontecer.
– Um objetivo de vida?
Caindo talvez num lugar-comum, tenho a ambição de gerar conhecimento que, de facto, tenha um impacto na vida das pessoas. A minha investigação tem como objetivo encontrar novas soluções terapêuticas para a tuberculose, uma doença que mata mais de 1 milhão de pessoas todos os anos e que tem uma grande incidência em populações mais vulneráveis. Motiva-me a perspectiva de poder trazer algum equilíbrio social.
– Uma inspiração? (pessoa, livro, situação…)
Quando estava no início da minha carreira, tomei contacto com as “Richard Feynman lectures on Physics” e fiquei absoultamente fascinado (mesmo não sendo um entendido em física). Com livros e entrevistas de Richard Feynman aprendi sobretudo duas coisas: Brincar com conceitos, da mesma forma que uma criança brinca com os seus brinquedos, faz com que o objeto de estudo se torne muito mais interessante e potencia bastante a criatividade. Aprendi também a apreciar a beleza da simplicidade em ciência. Só com um entendimento profundo de algo se consegue tornar o complexo num conceito simples capaz de ser entendido por todos.
-O projeto da minha vida…
O meu grande projeto de vida é a minha família. Acompanhar o crescimento dos meus filhos tem sido, e será sempre, uma viagem extraordinária.
– Uma ideia para promover a investigação da U.Porto a nível internacional?
Facilitar e fomentar o processo de atração de investigadores estrangeiros com talento. Na minha perspectiva, a internacionalização de uma instituição ficará sempre mais facilitada se o seu próprio ambiente for internacional.