Sonia Antón adora viajar. Seja em família, ao encontro dos petiscos das Rías Galegas, sem os quais “a vida não seria a mesma coisa”. Seja a bordo de uma “Odisseia no Espaço”, liderada por Kubrik. Seja no Centro de Investigação em Ciências Geo-Espaciais (CICGE) da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), onde esta rádio-astrónoma se habituou a trilhar galáxias e buracos negros em busca de respostas para os mais intrigantes enigmas da humanidade. A última missão tem como alvo o Square Kilometer Array (SKA), o maior radiotelescópio do mundo e, de acordo com a investigadora, “o proximo cornerstone na Astronomia”.

Natural de Lisboa, mas com ascendência espanhola, Sonia Antón é licenciada e mestre em Física pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, a que junta um doutoramento em Astronomia na Universidade de Manchester (Reino Unido). Cedo se especializou no estudo dos quasares, galáxias que têm no seu centro buracos negros de elevada massa e que constituem os objetos mais luminosos do Universo. Foi essa paixão pelas galáxias que, em 2008, a levou ao CICGE, onde esteve envolvida na preparação do Gaia, uma missão da ESA (com início previsto para dezembro de 2013) que pretende “medir a posição das estrelas com uma precisão até agora nunca atingida”.

A participação em trabalhos internacionais de elevado impacto científico é, de resto, “apenas”  uma das componentes do percurso de excelência da astrónoma – que é também investigadora do Laboratório de Sistemas, Instrumentação e Modelação  em Ciências e Tecnologias do Ambiente e do Espaço da FCUL -, traduzido na publicação regular de livros e artigos nas mais importantes revistas da sua área. Foi em reconhecimento disso mesmo que surgiu o convite para integrar o consórcio português envolvido no desenvolvimento do SKA, um “mega radiotelescópio”ao qual caberá descobrir pistas sobre o início do universo. Para o tornar possível,  a equipa de investigação da U.Porto– que conta também com Dalmiro Maia está focada no “desenvolvimento de um test-site para instrumentação do SKA” que permita garantir o fornecimento de energia às antenas do equipamento.

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Da grande vitalidade no desenvolvimento de capacidades em áreas emergentes, com forte aposta na internacionalização, quer em termos de captação de estudantes estrangeiros quer na promoção de colaborações institucionais. Com bons resultados.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

É um chavão, mas creio que é real: o Porto é bairrista. E isso também é patente na Universidade.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?
Acabar com as praxes. Não percebo as praxes per se, ainda menos o deplorável nível das “atividades” atuais. Tive como praxe uma aula de electromagnetismo falsa, que pela aparente complexidade conseguiu o objetivo de aterrorizar os caloiros, mas que implicou conhecimento, trabalho e imaginação de quem a preparou. Hoje vejo patéticos grupos de jovens aceitarem passear com bacios na cabeça!

Tutor. Em alguns países (por ex. Reino Unido) existe a figura de Tutor, um professor ou um estudante de pós graduação, que apoia academicamente e regularmente os alunos mais novos. A figura clássica de Tutor tem em alguns casos evoluído para uma espécie de “treinador académico” (academic coaching), onde a colaboração vai para além das questões mais académicas, promovendo por exemplo técnicas de aprendizagem mais eficazes.

– Como prefere passar os tempos livres?

Viajar com a família. E em serões à volta de petiscos e bons vinhos na companhia de amigos.

– Um livro preferido?

É por épocas. Enquanto adolescente seria os “Cien años de soledad” (Garcia Márquez); enquanto universitária “A espuma dos dias” (Boris Vian); ultimamente “O Esplendor de Portugal” (Lobo Antunes).

– Um músico / disco preferido?

Bach, intemporal, seja na vertente clássica (ex: a sublime “Suite nº 3”), mas também na deriva “jazzista” de Jacques Loussier, ou no Ave Maria por Bobby McFerrin. Disco recente: “XX” dos XX.

– Um prato preferido?

Tantos! Mas a vida não seria a mesma coisa sem os Mariscos e Peixes das Rías Galegas.

– Um filme preferido?

2001: A Space Odyssey, de Kubrick). Master piece. Recentemente: A single man, de Tom Ford.

– Uma viagem de sonho (realizada ou por realizar)?

Todas as realizadas. E aposto que as futuras.

– Um objetivo de vida?

Vivê-la a 100%. Difícil.

– Uma inspiração?

Diária: o sorriso imbatível da minha filha, a perspicácia e alegria de viver da minha família, e o companheirismo de um restrito número de amigos. Mas também nos excelentes colaboradores, com quem as discussões são sempre muito estimulantes; Mítica: Richard Feynman.

– Uma ideia para promover a investigação da U. Porto a nível internacional?

Creio que a U.Porto tem pleno reconhecimento internacional, certamente na área em que trabalho. É claro que essa é uma tarefa diária, de cada um e apoiada por todos, quer na divulgação do trabalho, quer pela participação em consórcios e redes internacionais de investigação. Certamente essa visibilidade pode também ser potenciada por ferramentas mais pontuais. Por exemplo a divulgação de conteúdos/tutoriais on-line em inglês e em português (que é a quarta e quinta língua mais falada no Twitter e Internet, respetivamente) nas áreas de investigação da Universidade.