Para Sofia Pereira, só há uma forma de estar na Ciência: “Nunca deixar de questionar, e que as questões que formule possam ter respostas com um impacto importante na qualidade de vida das pessoas”. Talvez por isso, esta professora e investigadora do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (ICBAS-UP) dedica grande parte do seu tempo na busca de respostas para dois temas para os quais ainda são muitas as perguntas: o cancro e a obesidade.
Com um percurso académico inteiramente ligado ao ICBAS, Sofia Pereira é licenciada em Bioquímica, mestre em Oncologia e doutorada em Ciências Biomédica. Passou ainda três meses na Universidade de Copenhaga a participar num estudo cujo objetivo era avaliar o perfil hormonal de doentes submetidos a diferentes cirurgias de perda de peso, antes de voltar ao ICBAS para dar aulas de anatomia humana como professora auxiliar convidada.
Em 2021, passou a ser professora auxiliar do departamento de anatomia do ICBAS, onde leciona ainda um módulo de investigação translacional integrado na unidade curricular de introdução à medicina.
A par da docência, é investigadora doutorada integrada do grupo Endocrine & Metabolic Research da Unidade Multidisciplinar em Investigação Biomédica (UMIB), sediada no ICBAS. É, ainda, membro da Comissão Executiva e Tesoureira dessa unidade, desde fevereiro deste ano.
É também na UMIB que Sofia Pereira dedica grande parte do seu tempo na procura de respostas para os dois temas de investigação que tem vindo a desenvolver. Um deles foca-se no estudo molecular dos tumores do córtex da suprarrenal, tema a que dedicou a sua tese de doutoramento (desenvolvida no ICBAS e no Ipatimup) e que vai continuar a aprofundar na liderança de um projeto que envolve investigadores de 26 países europeus. Desta cooperação espera-se que resulte um conjunto de guidelines para uso clínico no diagnóstico, seguimento e tratamento de pacientes com aquele tipo de cancro.
A outra área de estudo de Sofia Pereira incide sobre os mecanismos moleculares associados à falência terapêutica da cirurgia bariátrica em doentes com obesidade. Os mesmos que vai aprofundar no âmbito de um projeto inovador, recentemente financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), que tem como objetivo perceber as razões que levam a que pacientes com características semelhantes, tenham desfechos clínicos diferentes.
Naturalidade? Lamego
Idade? 33 anos
– De que mais gosta na Universidade do Porto?
Da capacidade que a maioria das pessoas tem em fazer tanto com tão pouco. Além disso, gosto muito das pessoas com quem trabalho e dos meus alunos!
– De que menos gosta na Universidade do Porto?
Das burocracias que nos ocupam tanto tempo e muitas vezes ultrapassam o bom senso.
– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?
A Universidade do Porto apresenta uma grande diversidade nas várias áreas do conhecimento. A distância que separa as diferentes unidades orgânicas não pode ser um obstáculo e deviam ser criadas mais atividades que permitissem aumentar a interação entre as várias faculdades tanto ao nível do ensino, como da investigação.
– Como prefere passar os tempos livres?
Gosto de passear com o meu marido e com a minha cadela, ir ao cinema, ver séries e ler um livro. Mas quando estou muito cansada, prefiro não fazer nada, gosto de “apenas ser”.
– Um livro preferido?
Vou eleger um livro que apesar de já o ter lido há muito tempo, voltei a pensar muito nele, no início da pandemia do Covid-19, que é o Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago.
– Um disco/músico preferido?
Os Queen são a minha banda preferida. Mas não posso deixar de mencionar uma música portuguesa que me inspira muito, particularmente quando surgem novos desafios na minha vida: “Melhor de Mim”, da Marisa.
– Um prato preferido?
Sushi. Sou uma pessoa que gosta muito mais de comer salgados do que doces e mesmo quando os como, gosto de os combinar com algo salgado (nem sempre óbvio), por exemplo, bolo de coco com salpicão.
– Um filme preferido?
O Pianista. Por estranho que possa parecer, os filmes e séries que mais gosto são aqueles que me fazem chorar.
– Uma viagem de sonho?
Talvez por ainda não ter visitado nenhum país na Asia, tenho um fascínio especial por esse continente. Gostaria muito de ir ao Japão e à Tailândia.
– Um objetivo de vida?
Ser feliz e realizada a nível pessoal e profissional, e fazer as outras pessoas felizes.
– Uma inspiração?
Os meus pais que sempre me apoiaram e apoiam em tudo, mesmo muitas vezes não percebendo àquilo que me dedico profissionalmente, na maioria dos dias.
– O projeto da sua vida…
Nunca deixar de questionar, e que as questões que eu formule possam ter respostas com um impacto importante na qualidade de vida das pessoas.
– Uma ideia para promover uma maior ligação ao nível da investigação entre a Universidade e a comunidade?
A Universidade tem de apostar mais na formação dos seus membros em “comunicação de ciência para a sociedade”. Estamos tão formatados para falar sobre investigação apenas entre pares, no nosso local de trabalho ou em eventos científicos, que nem sempre é fácil adaptarmos o nosso discurso quando falamos para um público diferente. Acredito que se conseguirmos comunicar melhor, o interesse dos meios de comunicação e da comunidade possa aumentar levando à criação de mais ações conjuntas.