A paixão pelas Ciências foi abrindo caminho, e com a vontade de ser médica a crescer de ano para ano, a escolha “muito natural” de Sofia Martinho levou-a, em 2014, até à Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP). Volvidos sete anos e um futuro ainda por “descobrir”, diz manter a mesma curiosidade pelos “outros” e o desejo de contribuir para lhes dar uma vida mais feliz.

“Sempre gostei de falar com pessoas, de perceber a vida delas, a sua história, o seu contexto, as suas vicissitudes”. Da curiosidade que diz caracterizá-la, às “emoções sempre à flor da pele”, Sofia revela que as pessoas com quem se cruza e os pequenos instantes do dia-a-dia são facilmente vistos como fonte de inspiração para “continuar a ser uma pessoa e uma profissional cada vez melhor”.

E terá sido essa mesma inspiração que Sofia Martinho aplicou durante os seis anos do Mestrado Integrado em Medicina, concluído em 2020 com a média de 18,100 valores, a melhor nota alcançada não só na FMUP, como a nível nacional. O feito valeu-lhe o Prémio Abílio Gonçalves Marques, entregue no Dia da Graduação da FMUP 2021 e um dos momentos da cerimónia que contou com a presença do Presidente da República. A este galardão, somam-se ainda os prémios Eduarda, Doutor Alberto Brochado e Professor Doutor Rocha Pereira, distinguindo o mérito académico da estudante de Guimarães durante os dois últimos anos do curso.

Sofia Martinho foi um dos 267 novos médicos distinguidos no Dia da Graduação da FMUP 2021. (Foto: FMUP)

O “segredo” para o sucesso, conta, passou por “fazer tudo o que sempre me deu prazer, garantindo que tinha tempo de qualidade para mim e para os meus”. Uma gestão equilibrada e sensata, aliada ao desenvolvimento pessoal e treino de gestão de ansiedade foram estratégias “cruciais”.

Das aulas teóricas e práticas ao máximo de contacto possível com a realidade hospitalar e as atividades de investigação, ainda “sobrou” tempo a Sofia para experimentar o Grupo Amador Teatro Universitário da FMUP e integrar o conselho pedagógico durante dois mandatos. “Quando tinha mesmo que estudar, apostava as fichas todas”.

Atualmente, e já com a Prova Nacional de Acesso realizada, Sofia Martinho é Interna de Formação Geral no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho e tem a certeza que quer exercer Medicina em Portugal, embora ainda se encontre a explorar várias opções de especialidades.

– Naturalidade? Caldas das Taipas, Guimarães

– Idade? 24 anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Das pessoas. Sinto que, por ter estudado na U.Porto, tive a oportunidade de conhecer indivíduos extraordinários, desde colegas a docentes, e que, nas suas vertentes pessoal e/ou profissional me têm servido de role model na construção da pessoa melhor e mais competente que pretendo todos os dias ser.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Por um lado, o excesso de burocracia, que dificulta e atrasa, em vários aspetos, a mudança para melhor. Por outro lado, a dificuldade em reter jovens altamente qualificados e promissores, resultante da escassez de oportunidades para estes jovens talentos conseguirem entrar na carreira académica ou construírem uma carreira de investigação sólida (e sustentável) no seio da UP.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto? 

Dar oportunidades à juventude de mostrar o seu valor e de poder ajudar na construção de uma Universidade do Porto melhor. Premiar mais o mérito, académico e científico, e acima de tudo com oportunidades, e não só com diplomas.

– Como prefere passar os tempos livres?

Adoro séries e filmes, e vejo-os sozinha ou acompanhada. Adoro viajar! Também adoro um bom fim de tarde de sol numa esplanada ou um jantar fora, com a minha família ou amigos.

– Um livro preferido?

A Leste do Paraíso, de John Steinbeck. Uma obra difícil de descrever, mas que segue a vida de duas famílias e o modo como os seus caminhos se cruzam. Foca-se especialmente em dois irmãos, que são uma espécie de reencarnação moderna de Caim e Abel. As personagens são soberbamente construídas e desenvolvidas e despertaram em mim um catálogo infindável de emoções, por vezes inesperadamente antagónicas.

– Um disco/músico preferido?

The Beatles

– Um prato preferido?

Esta é mesmo difícil, pois sou um (muito) bom garfo… a gastronomia italiana tem um lugar especial no meu coração (e estômago) mas o nosso arroz de polvo talvez seja o prato que, além de adorar comer, me traz as melhores memórias.

– Um filme preferido?

Sou apaixonada por cinema, pelo que não consigo escolher só um… Adoro o Inception, de Christopher Nolan. Mais recentemente, fiquei assoberbada com Parasitas, de Bong Joon-ho. Por outro lado, todos os Natais me sabe maravilhosamente rever e voltar a rever O Amor Acontece com a minha mãe.

– Uma viagem de sonho? 

Já realizada, um Interrail no Verão de 2019. Fiquei maravilhada com a nossa Europa.

Por realizar, lembro-me de várias. Ao Machu Picchu, no Perú, ao Sudeste Asiático, ao Médio Oriente, ao Japão… é difícil escolher, quero conhecer o máximo possível.

– Um objetivo de vida?

Ser uma pessoa cada vez melhor (e mais feliz), mantendo-me sempre fiel aos meus princípios e nunca perdendo a curiosidade que me caracteriza. Quero sentir sempre a vontade de perguntar “porquê” e a capacidade de me sentir constantemente fascinada pelas respostas.

– Uma inspiração?

Há várias pessoas com que me tenho cruzado e pequenos momentos que observo e que me inspiram diariamente. Diria até que, pelas minhas emoções sempre à flor da pele, e um pouco também pelo meu otimismo desmedido, sou uma pessoa que facilmente se deixa inspirar por pequenos instantes do dia-a-dia. Por exemplo, emociona-me profundamente o momento em que um atleta sobe ao pódio dos Jogos Olímpicos e canta o seu hino nacional de medalha ao peito. Sinto-me sempre intimamente tocada por estas pequenas grandes vitórias, pautadas de superação e perseverança. Assim, diria que sou principalmente inspirada por momentos, simples, mas preenchidos, mais do que por uma só pessoa.

– O projeto da sua vida…

Acho que o projeto da minha vida vai sofrendo mutações com o meu crescimento pessoal e com a definição, em cada momento, das minhas prioridades. Obviamente, é transversal que ambiciono ser feliz, na certeza de que estou a contribuir, direta ou indiretamente, pessoal ou profissionalmente, para que outras pessoas sejam também mais felizes e possam ter uma vida melhor. Tenho a expectativa de, em breve, enveredar por marcantes projetos profissionais (e pessoais!) e, quem sabe, poder eventualmente responder a esta pergunta com mais certezas, se ela me for feita, novamente, daqui a uns 10 anos.