Foi a “queda para as disciplinas de física e matemática” que, há mais de duas décadas, colocou Sérgio Sousa na rota daquela que é uma das maiores ambições do Homem: encontrar, algures no universo, um planeta semelhante à Terra. Hoje, é um dos investigadores do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), na Universidade do Porto, que se vêm posicionando na linha da frente da ‘corrida’ aos exoplanetas. Tradução: planetas que orbitam outras estrelas que não o sol.

Natural de Vila Nova de Gaia, Sérgio Sousa iniciou o seu “caminho das estrelas” em 1999, quando ingressou na antiga licenciatura em Física/Matemática Aplicada (ramo em Astronomia) da Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP). A mesma onde viria a completar o mestrado e o doutoramento em Astronomia, o último dos quais dividido entre as universidades do Porto e Lisboa, e focado na caracterização de estrelas com planetas.

De então para cá, o percurso deste “caçador de exoplanetas” tem estado ligado, sobretudo ao Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP), onde fez um pós-doutoramento. Pelo caminho, passou pelo Instituto de Astrofísica das Canárias e licenciou-se também em Engenharia Informática, em regime pós-laboral.

Foi também já no CAUP e, posteriormente, no IA/U.Porto, que Sérgio se viu “fortemente envolvido” em dois dos mais ambiciosos projetos do mundo na área do estudo dos exoplanetas. Um deles é o ESPRESSO, um espectrógrafo de alta resolução que está instalado no Very Large Telescope (VLT), do Observatório Europeu do Sul (ESO), e cujo desenvolvimento contou com o papel decisivo do IA/U.Porto.

“Neste momento é o instrumento com maior precisão para a deteção de exoplanetas vai permitir-nos atingir um nível de precisão nunca antes alcançado, e com isso descobrir e medir pela primeira vez a massa de planetas que são verdadeiramente parecidos com a Terra”, projeta o investigador e um dos cérebros por detrás do software que está a analisar os dados enviados pelo ESPRESSO. Foi desse trabalho que, resultou, por exemplo, a caracterização de LSH 1140 b, um planeta situado a 41 anos-luz da Terra e cujos indícios apontam ” para que seja um planeta terrestre, mas eventualmente com grande oceano de água”.

Desde dezembro de 2019 que as atenções de Sérgio Sousa e da restante equipa do IA/U.Porto estão também viradas para o CHEOPS, uma missão da Agência Espacial Europeia (ESA) que tem como objetivo caracterizar com alta precisão o tamanho de vários exoplanetas já conhecidos. “Neste momento, estou encarregue da caracterização das estrelas observadas pelo CHEOPS e participo diretamente na seleção das estrelas a observar e na análise dos dados da missão”.

Para já, “os primeiros resultados são muito animadores e até melhores do que inicialmente esperados”. Estaremos assim cada vez mais perto de descobrir uma nova Terra? Sérgio Sousa põe um freio no entusiasmo: “Eu costumo dizer que pode já ser amanhã. Temos já a capacidade instrumental para conseguir a deteção de uma Terra 2.0, mas também é verdade que ainda estamos nos limites das nossas  capacidades, e por isso é essencial que esta descoberta seja uma descoberta sólida e sem grande margem para dúvidas”.

Naturalidade? Vila Nova de Gaia

Idade? 39 anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto?
Da cidade e das edifícios mais antigos da Universidade do Porto. Tenho ótimas recordações das aulas dadas nos anfiteatros do que agora é o edifício da reitoria.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?
Da separação física de vários dos polos universitários. As coisas são como são, mas poderia haver uma colaboração entre polos mais eficiente se houvesse uma maior aproximação geográfica.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?
Acho que a Universidade do Porto poderia e deveria apostar mais na investigação. A investigação tem um potencial enorme de retorno para a Universidade e para a sociedade no geral. A docência é muito importante mas na minha opinião poderia ser um dos passos para se conseguir novos investigadores para os projetos de investigação dentro de uma estratégia bem planeada na Universidade. Uma ideia que já poderia ser aplicada, seria a contratação de pessoas mais focadas na investigação que despenderiam apenas uma pequena parte do seu tempo em docência. Por outro lado estes poderia aliviar a carga de docência dos elementos mais seniores para estes contribuírem melhor com a sua experiência em projetos de investigação.

– Como prefere passar os tempos livres?
Fora de casa, gosto de praticar algum desporto, futebol, ciclismo e caminhadas. Em casa, além de ver algumas séries e filmes, também gosto de alguns jogos de computador.

– Um livro preferido?
Gostei de ler o Anjos e Demónios do Dan Brown.

– Um disco/músico preferido?
Não tenho uma preferência óbvia, ouço vários géneros de música. A indicar um apenas, talvez os Queen.

– Um prato preferido?
Uma boa sardinha assada na brasa acompanhada de batatas e pimentos assados regados com um bom azeite português.

– Um filme preferido?
Mais recentemente, gostei do Dunkirk, do Christopher Nolan.

– Uma viagem de sonho?
Nova Zelândia. Gostava de ir ao outro lado do mundo.

– Um objetivo de vida?
Ser feliz no geral. Os que me rodeiam sejam felizes. E sentir que contribuo para a sociedade.

– Uma inspiração?
A época dos descobrimentos é uma inspiração para mim. Estamos diretamente ligados aos nossos antepassados que tiveram a coragem e a força para apostar nas novas tecnologias da altura, que também foram inovadores e permitiu terem o sucesso na descoberta de novos mundos.

– O projeto da sua vida…?
Não tenho um projeto de vida pré-definido em mente. Há vários objetivos gerais que gostaria de atingir, mas em vez de ter um caminho pré-definido acho melhor tentar ser adaptável para os atingir.

– Um conselho para um estudante que possa estar a pensar em ser Astrofísico?
Primeiro garantir que o aluno perceba que a área de Astrofísica é uma área multidisciplinar com componentes fortes de Matemática, Física, e Computação. Depois demonstrar que a área de Astrofísica feita em Portugal é uma das áreas com mais visibilidade fora de Portugal e que temos acesso aos melhores instrumentos do mundo graças à nossa participação do ESO e ESA. Finalmente na Universidade do Porto podem contactar diretamente com investigadores e podem, mesmo enquanto alunos de licenciatura, envolver-se em pequenos projetos de investigação.