Perceber como certas situações de adversidade social influenciam a saúde nos primeiros anos de vida foi o objetivo a que Sara Soares se propõs quando, em 2015, ingressou no Programa Doutoral em Saúde Pública da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP). Dois anos depois, a investigadora no Instituto de Saúde Pública da U.Porto (ISPUP) viu o seu trabalho recompensado com o Prémio Santander Universidades Idea Puzzle® 2017.

Licenciou-se em Ciências Biomédicas pela Universidade do Algarve, por achar que “era o curso que permitiria obter um conjunto de bases importantes para um futuro profissional na área da investigação”. No entanto, cedo percebeu que não era em investigação básica que queria trilhar caminho, mas antes dedicar-se ao estudo da distribuição e dos fatores condicionantes e determinantes de saúde e doença nas populações humanas.

Já com a saúde pública em mente, concorreu a uma bolsa de investigação na Universidade de Aveiro, onde viria a concluir o mestrado em Biomedicina Farmacêutica, em 2013. Em 2014, integrou o ISPUP como bolseira de investigação. Um ano depois, após lhe ter sido atribuída uma bolsa de doutoramento — financiada pela FCT — iniciou o programa doutoral em Saúde Pública da FMUP.

O primeiro prémio na carreira de investigação surgiu em 2016, na 8ª edição do “Young Researchers’ Forum” (“Fórum de Jovens Investigadores”), organizada pela ASPHER (Associação das Escolas de Saúde Pública da Região Europeia). Já no final de 2017, conquistou o Prémio Santander Universidades Idea Puzzle® 2017, iniciativa que todos os anos premeia o melhor desenho de investigação de doutoramento do ponto de vista da Filosofia da Ciência, criado com o software Idea Puzzle®.

“Sabemos que estudos retrospetivos suportam que a exposição a situações de adversidade na infância está associada ao surgimento de cancro e a maior risco de morte prematura na vida adulta. Se conseguirmos perceber que as crianças que passaram por situações de adversidade nos primeiros 10 anos de vida, têm, já nessa idade, alterações biológicas, cria-se uma janela de oportunidade, onde podemos atuar”, refere Sara Soares.

Ainda no âmbito deste trabalho, a investigadora pretende fazer uma caracterização da exposição a situações de adversidade, como por exemplo, a disfunção familiar e o bullying em crianças da Geração XXI – projeto que acompanha o crescimento e o desenvolvimento de mais de oito mil crianças nascidas em hospitais públicos da Área Metropolitana do Porto – e perceber as consequências biológicas a curto prazo destes episódios na saúde da criança.

Naturalidade? Ponte de Lima

Idade? 30 anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Da qualidade do ensino e da investigação que se faz cá, que nos enche de orgulho e coloca ao nível dos melhores do mundo.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Talvez do baixo nível de cooperação que parece existir entre as várias estruturas orgânicas e Instituições que a compõem. Juntos somos mais fortes e isso deveria ser levado em conta tanto ao nível do ensino como da investigação.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Promover a interdisciplinaridade, tanto ao nível da formação, licenciaturas, mestrados e doutoramentos, como de investigação. A troca de ideias, as equipas multidisciplinares em projetos de pequena ou grande dimensão são uma mais-valia para os alunos e investigadores que podem aprender mais e melhor uns com os outros, e também para o avanço da ciência. Quando nos fechamos na nossa caixa, não vemos os outros, não sabemos que é possível ir mais além, e penso que talvez seja um dos aspetos que pode ser melhorado.

– Como prefere passar os tempos livres?

No sofá, com um bom livro, bom filme ou série.

 Um livro preferido?

Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley.

– Um disco/músico preferido?

Trouble, de Ray LaMontagne.

– Um prato preferido?

Difícil… Não resisto a um bom hidrato de carbono! Massas, pizzas, batatas fritas… E o salame de chocolate da minha tia Cândida.

– Um filme preferido?

Não posso dizer preferido, mas o filme que mais me marcou até hoje foi o “Rapaz do pijama às riscas”, e aquele que me prende sempre ao ecrã, um filme da infância: “O Rei Leão”.

– Uma viagem de sonho?

Conhecer a Austrália, fazer Moscovo a Vladivostok no comboio Transiberiano, um mar de possibilidades… Difícil escolher só uma.

– Um objetivo de vida?

Que a ciência que eu faço seja útil, que chegue às pessoas e tenha algum impacto na forma como olham para a própria vida e as escolhas que fazem.

– Uma inspiração? (pessoa, livro, situação…)

A minha avó, sempre. Uma self-made woman, católica e tradicional, mas visionária para o seu tempo. Deixou-nos cedo de mais, mas ainda hoje a minha vida se pauta pelos seus ensinamentos e vontade de a deixar orgulhosa.

– O projeto da sua vida…

Deixar o mundo um bocadinho melhor quer através da minha dedicação e entrega aos outros quer através do meu trabalho e do conhecimento gerado pelos projetos em que participo.

– Uma ideia para promover a investigação em saúde pública da U. Porto a nível internacional?

Acredito que estamos no bom caminho: temos estruturas de investigação pioneiras, excelentes investigadores, cooperações com as mais prestigiadas universidades na Europa, e não só, muitos e bons artigos, reconhecidos internacionalmente, e participações nos mais importantes e relevantes congressos internacionais. Acho que a maior lacuna será a nível nacional: é importante que a sociedade civil veja o resultado do nosso trabalho, que se interesse e procure, e isso parte também de nós, de aprendermos a ser melhores a comunicar ciência, a partilharmos o nosso conhecimento com aqueles que no fim são quem irá beneficiar da investigação em Saúde Pública que tão bem se faz na U. Porto.