Nos últimos tempos, Pedro Camanho não tem tido mãos a medir para tantas solicitações. E o Notícias U.Porto fala por si. Em pouco mais de um mês, este professor catedrático da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) e investigador do Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial (INEGI) viu o seu trabalho “plasmado” num dos softwares mais utilizados por engenheiros de todo o mundo, e foi distinguido com o Prémio de Excelência Científica da U.Porto. Mais recentemente, encabeçou o projeto da U.Porto que visa a produção e distribuição de viseiras, para uso dos profissionais de saúde dos hospitais e centros de saúde da região Norte que estão a lutar contra a Covid-19.

Licenciado em Engenharia Mecânica pela FEUP (1993), Pedro Ponces Camanho doutorou-se pelo Departamento de Aeronáutica do prestigiado Imperial College London (Reino Unido) em 1999. Nesse mesmo ano, regressou a Portugal para integrar o Departamento de Engenharia Mecânica da FEUP e para assumir o cargo de diretor da Unidade de Integridade Estrutural do INEGI. Professor Catedrático da FEUP desde 2014, é presidente do Laboratório Associado de Energia, Transportes e Aeronáutica (LAETA) e vice-presidente do INEGI.

Autor de cerca de 130 artigos científicos, o docente e investigador portuense tem-se destacado no estudo e simulação dos mecanismos de deformação e fratura de materiais compósitos avançados. Um trabalho que já lhe valeu a conquista de várias distinções internacionais, às quais junta agora o Prémio de Excelência Científica da U.Porto, que reconhece aqueles que dentro da Universidade mais se destacam no domínio da investigação científica.

Mas, aos 51 anos, Pedro Camanho vive hoje um dos maiores desafios da sua carreira. E não é por acaso que tem passado grande parte dos últimos dias a testar um modelo de viseiras capaz de ser produzido em impressoras 3D, para ajudar no combate à pandemia que assolou o mundo. “Impressionado” com a mobilização da U.Porto para da situação atual, acredita que o esforço de todos será essencial para sairmos desta crise e apela ao espírito solidário de cada um de nós.

– Naturalidade? Porto

– Idade? 51 anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Gosto de várias coisas na Universidade do Porto, mas confesso que o que mais me impressionou recentemente foi a sua capacidade de mobilização para dar uma resposta eficaz a situações críticas, como a que vivemos atualmente. A U.Porto assegurou uma excelente articulação entre as várias unidades orgânicas, os institutos de interface e as associações de estudantes, que combinada com o empenho dos docentes, investigadores e estudantes faz com que a U.Porto esteja a desempenhar um papel muito importante na mitigação dos problemas associados à pandemia da Covid-19.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

O que menos gosto nas Universidades Portuguesas em geral, sendo que a Universidade do Porto não é exceção, é a reduzida dinâmica de internacionalização dos seus docentes. Esta situação poderá cristalizar a investigação num número muito limitado de áreas e comprometer a capacidade de intervenção para dar resposta a novos desafios científicos.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

A organização de encontros regulares da diáspora de alumni da U.Porto, que têm tido percursos internacionais de grande destaque, tanto na academia como noutros sectores. Há, por exemplo, vários alumni que são Professores em algumas das melhores Universidades Europeias e Americanas. A promoção de um encontro com estas pessoas, que trabalham em várias áreas científicas, poderá reforçar a rede de contactos da U.Porto, assim como dinamizar a investigação multidisciplinar, onde frequentemente surgem os avanços científicos transformacionais.

– Como prefere passar os tempos livres?

A praticar mergulho com escafandro e equitação, um desporto que pratico desde dos 11 anos de idade. Também sou um fotógrafo amador, com particular interesse em fotografia subaquática, tendo já publicado um livro com algumas das minhas fotografias.

O mergulho e a fotografia subaquática são duas das paixões do investigador portuense. (Foto: DR)

– Um livro preferido?

O vermelho e o negro, de Stendhal.

– Um disco preferido?

Os Concertos para Piano de Rachmaninov, Vladimir Ashkenazy e André Previn, com a Orquestra Sinfónica de Londres

– Um prato favorito?

Tendo nascido e sido criado no Porto, o meu prato favorito não podia deixar de ser tripas à moda do Porto.

– Um filme preferido?

“O Leopardo”, de Luchino Visconti, baseado no livro de Giuseppe di Lampedusa e “Barry Lyndon”, de Stanley Kubrick, baseado nas Memórias de Barry Lyndon de William Thackeray.

– Uma viagem de sonho?

Ao único continente que ainda não conheço, a Antártida.

– Uma inspiração?

D. João II.

– Um objetivo de vida?

Nos tempos que correm, que seguramente irão trazer o melhor ou o pior das pessoas, acho que devemos definir um objetivo coletivo, que é fazer o possível por ultrapassar a crise que atualmente vivemos, minimizando o impacto na saúde das pessoas e na economia do país.