“Jovens mais saudáveis serão naturalmente adultos e idosos mais saudáveis.” Quem o afirma é Paulo Santos, Professor Auxiliar com Agregação da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), investigador do CINTESIS@RISE e médico de família, que se tem dedicado a estudar os adolescentes e jovens adultos portugueses, cruzando dimensões da saúde e da área social.

Nas últimas semanas, foram notícia os resultados do seu mais recente trabalho, que analisou a sexualidade dos adolescentes e jovens adultos, bem como o seu conhecimento sobre doenças sexualmente transmissíveis (DST). As principais conclusões, amplamente divulgadas nos média, indicam que os rapazes iniciam a sua vida sexual mais cedo, somam mais parceiros e têm mais dúvidas sobre o tema.

Anteriormente, o professor da FMUP já havia estudado os comportamentos aditivos entre os mais jovens, nomeadamente o consumo de tabaco, álcool e outras substâncias aditivas. A investigação, que liderou, concluiu, por exemplo, que um em cada dez jovens portugueses consome drogas regularmente. Os dados indicam ainda que cerca de 85% dos jovens portugueses já beberam álcool, 58% já fumaram e 17% já consumiram drogas pelo menos uma vez.

“As escolhas e os comportamentos dos jovens terão, sem dúvida, impacto no modo como irão envelhecer. É na infância e na adolescência que se estabelecem os hábitos e os estilos de vida, incluindo os hábitos alimentares, a atividade física, a gestão do stress e os comportamentos sexuais, no sentido de uma vida saudável”, realça.

Para Paulo Santos, os médicos de família estão em boa posição para intervirem na estruturação dos comportamentos dos jovens, mas considera que o atual sistema de saúde, a que chama “sistema de doenças”, não ajuda. Por isso, defende que estes e outros profissionais de saúde devem saltar os “muros” dos cuidados de saúde primários e apostar a sério na promoção da saúde “fora de portas”. Se Maomé não vai à montanha…

“Os jovens aparecem nos centros de saúde, normalmente, por causa de uma constipação ou de outra doença aguda passageira, são medicados e nunca mais voltam. É preciso aproximar os jovens do sistema de saúde, mas também é preciso ir ter com eles às escolas, às associações e às estruturas da comunidade. Temos de rever a comunicação com os mais novos”, garante o médico especialista de 51 anos de idade e pai de quatro filhos.

O professor da FMUP tem sido igualmente um paladino da literacia em saúde, liderando a plataforma METIS, que visa acabar com o “medicalês” e levar informação simples e clara a todos os cidadãos. Além disso, tem investigado em temas relacionados com os Cuidados de Saúde Primários, numa altura em que o ensino e a investigação continuam, em sua opinião, muito “hospitalocêntricos”, isto é, muito centrados nos hospitais.

“É fundamental que possamos criar condições para que os Cuidados de Saúde Primários sejam focos ativos de produção e estruturação do conhecimento”, entende. Ao mesmo tempo, lembra os governantes que os investigadores têm de ter “uma voz ativa” nas reformas em curso na área da saúde. E espera que os projetos que tem desenvolvido na área da prevenção, da relação médico-doente e da organização dos serviços de saúde possam vir a ter impacto na definição das prioridades do SNS.

Idade? 51 anos

– De que mais gosta na U.Porto?

Da autonomia que nos permite desenvolver os nossos projetos.

– De que menos gosta na U.Porto?

Da burocracia.

– Uma ideia para melhorar a U.Porto?

Seria fundamental melhorar a informática do sistema administrativo.

– Como prefere passar os tempos livres?

A viajar.

– Um livro preferido?

“Amor nos Tempos de Cólera”, de Gabriel García Márquez.

– Música preferida?

Bohemian Rhapsody, dos Queen.

– Prato preferido?

Peixe fresco grelhado.

– Um filme preferido?

Série de 007.

– Uma viagem de sonho?

Com a família.

– Um objetivo por concretizar?

Estabilizar o ensino da Medicina Geral e Familiar nos três ciclos de estudos.

– Uma inspiração?

Francisco Sá Carneiro.

– Um projeto de vida?

Fazer crescer o serviço de Medicina Geral e Familiar da FMUP.