Desde há várias semanas que os dias de Óscar Felgueiras são passados ao computador, a interpretar – “com grande preocupação” – dados e a prever cenários de curto e médio prazo para a evolução da pandemia da Covid-19. Na verdade, foi a urgência da situação em que Portugal mergulhou, que fez este docente do departamento de Matemática da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) deixar temporariamente as aulas para se juntar à equipa da Administração Regional de Saúde do Norte (ARS Norte) que está a acompanhar a evolução da epidemia da Covid-19 em Portugal, em particular no Norte do país. Tudo com o objetivo de “equacionar e a pôr no terreno as respostas adequadas” para o combate à pandemia. 

Natural do Porto, Óscar Felgueiras conta com mais de 20 anos de ligação “oficial” à Matemática. Licenciado em Matemática pela FCUP (1998), partiu para os Estados Unidos, onde concluiu o mestrado (2003) e o doutoramento (2008) pela Universidade do Michigan – Ann Arbor. Seguiu-se o regresso a Portugal e à Faculdade de Ciências, onde dá aulas há mais de uma década.

Mas nem só de números se faz o percurso deste matemático apaixonado por “desafios estimulantes”. Membro do Centro de Matemática da U.Porto, este especialista em estatística e modelação matemática tem também vindo a trabalhar na área das doenças infeciosas, nomeadamente no estudo estatístico de doenças como a tuberculose. A esse nível, destaca-se o trabalho que desenvolveu com Raquel Duarte, antiga secretária de Estado da Saúde e investigadora no Instituto de Saúde Pública da U.Porto (ISPUP), em várias co-orientações de mestrados e doutoramentos.

Foi, de resto, dessa ligação que surgiu a oportunidade de colaborar com a equipa da ARS Norte, ao abrigo de uma licença de “cedência de interesse público”. E nós agradecemos…

Naturalidade?  Porto

Idade? 44 anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

De uma forma geral gosto da diversidade, qualidade e dinamismo das pessoas que a constituem e com quem me cruzo, desde os estudantes, aos colegas e funcionários, tanto na minha faculdade como fora.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Creio que, como em qualquer instituição, existem por vezes algumas questões burocráticas complicadas de resolver. O sistema informático centralizado nem sempre ajuda. Fazendo um grande esforço para encontrar algo que menos gosto, talvez seja isso.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

No Departamento de Matemática da FCUP, ao qual pertenço, existe desde há alguns anos a ideia de se construir um museu de ciência dedicado à Matemática, que na verdade já tem outros exemplos de implementação. De uma forma geral, creio ser uma boa ideia a criação de recursos que permitam e facilitem uma melhoria da relação externa com a comunidade em geral.

– Como prefere passar os tempos livres?

Na companhia dos que me são mais próximos. No entanto, gosto particularmente de caminhar ou correr independentemente de estar acompanhado.

– Um livro preferido?

Cartas a Sandra de Vergílio Ferreira. Apesar de o ter lido há muitos anos atrás, creio que fui influenciado pelo estilo de escrita das cartas na forma como eu próprio escrevo.

– Um disco/músico preferido?

Gosto de vários estilos de música, mas tendo de escolher alguém, a Marisa Monte é um bom exemplo.

– Um prato preferido?

Apesar de haver muitos que aprecio, adoro Sushi.

– Um filme preferido?

As vidas dos outros, filme alemão com o qual me identifico bastante.

– Uma viagem de sonho?

Gostaria de voltar aos Açores.

 – Um objetivo de vida?

Ser feliz e ser útil.

– Uma inspiração?

Várias das pessoas com quem convivo ou trabalho e que revelam competências que me são c.

– O projeto da sua vida…

Encontrar desafios estimulantes, tanto a nível pessoal como profissional, que é o que alimenta a minha ação. Esta situação atual, apesar de altamente perturbadora para todos, pode ser vista como um desafio a vários níveis. No meu caso pessoal estimula-me imenso a procurar respostas para tantas perguntas que surgem.

–  Como surgiu o seu interesse pela investigação e estudo estatístico de doenças infeciosas?

Surgiu essencialmente por me ter cruzado com uma colaboradora, a Prof. Raquel Duarte do ISPUP, que tem uma perspetiva extremamente ampla sobre todo o fenómeno da tuberculose e que constantemente coloca novas questões. A complementaridade de conhecimentos, neste caso a sensibilidade médica do seu lado e a estatística do meu, faz com que se consiga chegar a conclusões que de forma isolada seriam altamente improváveis.