Da Casa Andresen (Jardim Botânico do Porto) ao recém-inaugurado Mercado do Bolhão, com passagem pelos Albergues Noturnos do Porto, há um traço comum a vários dos espaços da cidade recentemente “devolvidos” à população do Porto. O de Nuno Valentim, professor da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP) e nome incontornável quando se fala, por estes dias, em reabilitação urbana em Portugal.

Desenhar-lhe o percurso obriga a recuar até ao momento em que ingressou na “melhor escola de Arquitetura do país”. Licenciado em Arquitetura pela FAUP (1995), foi com a ajuda de nomes como Fernando Távora que descobriu a paixão pelo tema da reabilitação urbana. A mesma a que dedicou o Mestrado em Reabilitação do Património Edificado na Faculdade de Engenharia da U.Porto (2007), e o Doutoramento em Arquitetura pela FAUP, que concluiu em 2016, com uma tese sobre reabilitação do património arquitetónico.

Docente na FAUP desde 2005, foi regente das disciplinas de ‘Construção 1’ e ‘Construção 3’ do Mestrado Integrado em Arquitetura. Dá ainda aulas no Curso de Estudos Avançados em Património Arquitetónico e no Programa de Doutoramento em Arquitetura, onde é responsável pela unidade curricular “Projeto: Mimésis, Contraste e Analogia”.

Foi também com os mestres da “Escola do Porto” que Nuno Valentim descobriu que a atividade de arquiteto não pode estar dissociada da de docente ou investigador. “O nosso escritório é o nosso laboratório e a nossa prática de investigação e docência é contaminada por isso. É impressionante ver os alunos abrirem os olhos quando se mostra obra”, dizia numa entrevista À U.Porto ALUMNI, em 2011.

E não falta obra para ilustrar o currículo do arquiteto que trabalhou com nomes como José Gigante, até fundar a sua própria empresa em 2009. Para além do multipremiado projeto de requalificação do Jardim Botânico do Porto (que incluiu a reabilitação da Casa Andresen / Galeria da Biodiversidade e da Casa Salabert / e-Learning Café da U.Porto), foi responsável pela ampliação do Lycée Français do Porto e pela Reabilitação dos Albergues Nocturnos do Porto, obra que lhe valeu a conquista do Prémio Nacional de Reabilitação Urbana 2018 e do Prémio IHRU/Nuno Teotónio Pereira 2017.

Seria contudo o Projeto de Restauro e Modernização do Mercado do Bolhão, a que dedicou os últimos anos, a trazer Nuno Valentim para a ribalta mediática. Inaugurado no passado dia 15 de setembro , o “novo Bolhão” resulta de um projeto de “recuperação e valorização” no qual o arquiteto portuense procurou “devolver identidade e coerência ao edifício, abrir o edifício à cidade e atualizar a sua função”.

Estas são, de resto, preocupações transversais aos diferentes projetos que têm pontuado um percurso que conta com outras distinções de relevo a nível nacional e internacional. Entre elas incluem-se o Prémio Ibérico de Arquitetura ‘Palmarés Architecture Tecnhal’ na categoria de Reabilitação (2013), o Prémio João de Almada 2014, ou o Prémio Nacional de Reabilitação Urbana 2019.

Em 2019, Nuno Valentim foi distinguido com o prestigiado International Architectural Award do Chicago Athenaeum/European Centre for Architecture Art Design and Urban Studies, pelas diversas intervenções realizadas no Jardim Botânico.

Naturalidade? Porto

Idade? 51 anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Dos projetos e dos sonhos dos estudantes. Do diálogo interdisciplinar .

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Do “Homo Academicus” (citando Pierre Bourdieu).

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto? 

Convidar e contratar os melhores – e não apenas os que publicam mais artigos.

– Como prefere passar os tempos livres?

A estar… se possível junto ao mar e sem fazer nada.

– Um livro preferido?

O livro de areia, de Jorge Luis Borges.

– Um disco/músico preferido?

Nick Cave (sempre), Khruangbin (agora), et al.

– Um prato preferido?

Pasta alle vongole (na Casa d’Oro).

– Um filme preferido?

Faraway,  So Close! (Wim Wenders).

– Uma viagem de sonho (realizada ou por realizar)? 

Sicília (parcialmente realizada).

– Um objetivo de vida?

Ver novas todas as coisas…

– Uma inspiração? (pessoa, livro, situação…)

Papa Francisco.

–  Um edifício que gostasse de reabilitar e porquê.

O conjunto de edifícios/equipamentos do “Foco” – Parque Residencial da Boavista – formado pelo antigo hotel Tivoli, piscinas, ginásios, cinema, restaurantes.. (da autoria de A. Ricca, J. Serôdio e M. Carneiro). É um exemplo notável de arquitetura e desenho urbano da segunda metade do século XX, abandonado há anos, mas fundamental para a integridade construída e para a vida no bairro onde se insere.