Para Nuno Dias, fazer voluntariado é “o derradeiro desafio de humildade”. Aos 21 anos, soma várias experiências e talvez tenha sido graças à “iniciativa dos estudantes” da Universidade do Porto que faz parte de duas organizações: a Contu Mil Sonhos e a Post Media Relations. Foi precisamente na direção da Contu Mil Sonhos, uma associação dirigida a crianças e jovens provenientes de famílias carenciadas do bairro de Contumil, que recebeu, no início do mês de dezembro, o Prémio “Dia do Voluntariado na Universidade do Porto”.

Promovido pela Universidade do Porto, o Prémio distingue projetos ligados à U.Porto que têm impacto na sociedade. Criado por um grupo de estudantes da FEP, o projeto Contu Mil Sonhos foi o vencedor da edição deste ano, tendo merecido um prémio monetário no valor de 1000 euros. “Foi com completa surpresa que recebi a notícia de que o nosso projeto ganhou o Prémio “Dia do Voluntariado na Universidade do Porto” 2021. É uma honra ter este tipo de reconhecimento para uma família tão trabalhadora e unida como a nossa”.

Tudo começa com a chegada à Faculdade de Economia da U.Porto (FEP), em 2017, para estudar Gestão. A verdade é que “aquele curso não era para mim”. Até que, a meio do segundo ano do curso, “para sentir que estava de facto a contribuir de alguma maneira para a sociedade, juntei-me a um projeto de voluntariado chamado Contu Mil Sonhos que organiza campos de férias e atividades mensais com crianças do bairro de Contumil”.

A Contu Mil Sonhos promove atividades e campos de férias para crianças e jovens do bairro de Contumil. (Foto: DR)

Foi precisamente no primeiro campo, em 2019, que se questionou sobre o futuro. “Fiz uma lista das minhas capacidades e no topo ficou a minha facilidade em comunicar e socializar”. Foi assim que o jovem estudante de Vila Nova de Gaia decidiu mudar para a Licenciatura em Ciências da Comunicação: Jornalismo, Assessoria e Multimédia, na Faculdade de Letras da U.Porto (FLUP). A par da Contu Mil Sonhos, juntou-se à Post Media Relations, um projeto extracurricular, mas ligado à área de formação. Trata-se da primeira associação estudantil de assessoria de imprensa em Portugal, na qual já é coordenador do departamento de comunicação e marketing.

Nuno Dias participa também na Post Media Relations, a primeira associação juvenil de assessoria de imprensa, em Portugal. (Foto: DR)

– O que mais gostas na Universidade do Porto?

A iniciativa dos seus estudantes. A U.Porto está repleta de alunos que todos os anos decidem embarcar em novos empreendimentos, alguns dos quais acabam por deixar uma grande marca na cidade. Sem esta proatividade por tantas pessoas, eu nunca me teria conseguido juntar a projetos como Contu Mil Sonhos ou a Post Media Relations.

– O que menos gostas na Universidade do Porto?

O facto de ainda não se ter alcançado uma colaboração adequada entre os órgãos da própria universidade e os projetos criados pelos alunos. A ajuda dada a algumas das organizações estudantis é escassa, o que é uma pena, considerando que elas se tratam de uma das principais forças dentro de cada faculdade.

– Uma ideia para a Universidade do Porto?

Criar uma plataforma ou uma página do sigarra com uma base de dados constantemente atualizada de todos os locais de estudo disponibilizados pela universidade para os seus próprios estudantes, juntamente com os seus horários e localizações.

– Como preferes passar os tempos livres?

Cinema vai ser sempre uma das minhas maiores paixões pelo que passo muitas horas a ver e e a escrever críticas a filmes por puro prazer. Mais recentemente comecei a mergulhar no mundo de Dungeons & Dragons e está-se cada vez mais a tornar a minha fonte de entretenimento de eleição.

– Um livro preferido?

Como um grande fã de romances gráficos, Watchmen de Alan Moore é o meu livro favorito, graças à sua desconstrução e sátira brilhante sobre o poder na sociedade do século XX.

– Um disco/músico preferido?

Embora o meu álbum favorito seja o Like Clockwork dos Queens of The Stone Age, a minha banda preferida sempre foi Black Keys. É uma banda que eu ouço desde pequeno e que, dentro do rock, tem uma diversidade de músicas que eu não consigo deixar de admirar.

– Um prato preferido?

Alheira, sem dúvida.

– Um filme preferido?

Há muitos filmes que considero perfeitos como o Lost In Translation de Sofia Coppola ou o Parasite de Bong Joon Ho. Contudo, o filme que mais me marcou, quando o vi em criança, foi o Inglourious Basterds de Quentin Tarantino porque me ensinou o verdadeiro poder que o diálogo consegue ter num filme.

– Uma viagem de sonho?

O Japão sempre foi o meu destino de sonho devido ao seu estilo de vida tão díspar da Europa, seja pelas suas tradições históricas, seja pelo seu impacto revolucionário em videojogos, animação e na cultura pop em geral.

– Um objetivo de vida?

Garantir que trabalho sempre para viver e nunca ao contrário.

– Uma inspiração? (pessoa, situação, livro, …)

Eu admiro muitas pessoas diferentes por isso escolher um ídolo é-me muito complicado. Mas um dos primeiros exemplos que me vem sempre à cabeça é o Stan Lee. Para quem nunca teve o prazer de ver um dos seus discursos icónicos, Stan Lee foi o escritor responsável por criar a grande maioria dos superheróis mais famosos da Marvel. O que mais admiro nele é a sua persistência em manter, desde o final dos anos 50 até à sua morte em 2018, o mesmo objetivo de trazer tolerância e bondade ao mundo através das suas histórias. As suas alegorias simples mas cheias de coração deixam uma pessoa maravilhada, independentemente da sua idade.

– Fazer voluntariado é…

…o derradeiro desafio de humildade. Eu comecei a fazer voluntariado em várias associações para poder ajudar os outros. Mas, ao longo do tempo, fui-me apercebendo que as experiências vivenciadas nesse serviço ao próximo trazem um impacto colossal à nossa vida. Só bem mais tarde é que concluí que, ao participar nestes projetos, tenho sempre muito mais a aprender do que a ensinar.