Empoderar. Um verbo forte e que ganha ainda mais importantes contornos no mundo digital. Esta é a missão de Navváb Aly Danso, uma jovem cabo-verdiana que se mudou, sozinha, aos 17 anos, para Portugal. Filha de pai ganês e mãe guineense com raízes libanesas, Navváb tem vindo a usar a Internet e as redes sociais para defender causas como a luta contra o racismo e a xenofobia e a igualdade de género.

Quer mudar mentalidades, dando a conhecer o “outro lado da história” e quer fazê-lo no país que escolheu para estudar e para trabalhar. Depois de uma passagem pela Universidade de Coimbra, onde se licenciou em Relações Internacionais, veio para o Porto. Ao mesmo tempo que frequenta o mestrado em Estudos Africanos na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), Navváb, hoje com 23 anos, trabalha no Serviço de Imagem, Comunicação e Cooperação da Faculdade de Ciências (FCUP).

Youtuber, blogguer e ativista, “A Preta Aly”, como é conhecida na Internet, usa as suas palavras como arma contra a discriminação. O seu objetivo, diz, é “influenciar jovens a reconhecerem a sua potencialidade e a necessidade de exercerem uma cidadania ativa e a reivindicarem os seus direitos”. Os mesmos que se sentem “perdidos e pouco representados na Internet hoje em dia, onde há mais pessoas a tentarem influenciar os outros a pensarem menos e a consumirem mais”. Nas redes sociais, aborda questões raciais, sociais e políticas no geral que envolvem o negro e o africano dentro e fora de África, sem esquecer de temas como a violência doméstica e o empoderamento das mulheres.

Naquela que é a Década Internacional para os Africano-descendentes (2015-2025), Navváb tem-se destacado e, pelo impacto que tem tido, já participou em vários programas de televisão, como o “Etnias”, na SIC, e o “Bem-vindos 2019”, na RTP. Já no início deste ano, ajudou a organizar, no Porto, uma vigília de homenagem ao jovem cabo-verdiano, Giovani Rodrigues, que morreu em Bragança, na sequência de violentas agressões.

Navváb Danso fala aos media durante a vigília de homenagem Giovani Rodrigues, no Porto. (Foto: DR)

Do “currículo” da estudante da FLUP destaca-se igualmente a organização, em 2018, na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da U.Porto, so evento Chá das Pretas, cujo objetivo foi reunir o máximo de mulheres pretas (e não só), de todas as idades, residentes na cidade do Porto para falarem sobre a sua existência e resistência. Um ano antes, foi uma das caras do primeiro TedXWomen em Portugal, onde falou sobre a sua história e sobre os seus cabelos crespos, que são parte da sua identidade.

Prestes a terminar o mestrado, Navváb Danso tem como grande objetivo voltar para a África para falar sobre feminismo, educar rapazes e raparigas para a igualdade de género e envolver-se na diplomacia e desenvolvimento daquele continente.

Naturalidade?  Ribeira Grande, Ilha de Santo Antão, Cabo Verde

Idade? 23 anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

A mente aberta e a generosidade das pessoas que lá estão.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Do sigarra.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Acho que a UP é a sua única maior concorrência, no sentido em que há sempre iniciativas que superam as anteriores e há um nítido esforço em melhorar! Acredito que deve continuar a existir uma aposta muito grande nas iniciativas que incluem e representam vivências de diferentes estudantes internacionais, mais concretamente os Africanos, que muitas vezes chegam tarde por causa do visto, e perdem oportunidades e iniciativas no início do ano letivo.

– Como prefere passar os tempos livres?

A ler artigos e livros, a escrever e a criar conteúdos novos para os meus seguidores nas redes sociais.

– Um livro preferido?

21 Lições para o Século XXI (2018), de Yuval Noah Harari

– Um disco/músico preferido?

Bad 25, de Michael Jackson.

– Um prato preferido?

Cachupa (prato tradicional de Cabo Verde).

– Um filme preferido?

Queen & Slim (2019), de Melina Matsoukas.

– Uma viagem de sonho?

Egito.

 – Um objetivo de vida?

Ser sempre feliz e amar livremente.

– Uma inspiração?

O meu pai, sem sombras de dúvida!

– O projeto da sua vida…

Tenho vários! Vou fundar uma Instituição gigante em algum país Africano, para empoderar meninas da periferia.

A estudante e colaboradora da U.Porto foi uma das caras da primeira edição portuguesa do TedXWomen, realizado em 2017. (Foto: DR)

–  Uma ideia para acabar com o racismo em Portugal

As pessoas privilegiadas a nível racial e social devem reconhecer que existem outras realidades e que não se trata de vitimização, quando negros falam sobre problemas raciais em Portugal. Pessoas brancas e privilegiadas devem ouvir a história de quem sofre e perceber que é importante usarem os seus privilégios para elevarem a voz de quem está ainda a ser oprimido. Para mim, é basicamente isto: comunicar e usar os privilégios para destruir barreiras e construir uma nova realidade!

– Uma frase forte que a carateriza e porquê?

“Try to be a rainbow in someone’s cloud”
– Maya Angelou

Independentemente das maldades que existem neste mundo e das injustiças que neste preciso momento, alguém está a viver, em algum canto deste planeta, eu acredito que o amor, a alegria, o conhecimento e a diversidade vão e devem vencer. Esta é a minha atitude, sempre positiva relativamente ao mundo e ao que acontece. Todos nós temos dias menos bons, todos nós falhamos, mas podemos sempre aprender e não custa nada espalhar amor.