Em 2007, enquanto o mundo assistia ao lançamento do primeiro iPhone, Miguel Mascarenhas iniciava o seu percurso na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), provavelmente longe de imaginar o potencial que a tecnologia iria atingir nas décadas seguintes e como esta iria moldar o futuro da medicina e da sua própria carreira.

Depois de concluir a formação médica e a especialização em Gastrenterologia, a inteligência artificial (IA) começou progressivamente a ser parte do vocabulário do dia a dia. O interesse por esta área surgiu durante a especialização, quando Miguel Mascarenhas se deparou com a necessidade de encontrar soluções inovadoras para os constantes desafios da prática clínica.

Percebi que os avanços tecnológicos, como a IA, têm um potencial verdadeiramente transformador, que não só aumentam a precisão diagnóstica, como também melhoram a personalização do tratamento”, sublinha o médico gastrenterologista.

Atual professor e investigador da FMUP, foi recentemente distinguido pelo Colégio Americano de Gastrenterologia pelos seus projetos inovadores na área da saúde digestiva. Em 2023, desenvolveu uma tecnologia em IA para identificação de precursores do cancro anal em anoscopia de alta resolução, o que lhe valeu a conquista do Prémio Banco Carregosa/Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos (SRNOM)

Já no próximo dia 29 de novembro, Miguel Mascarenhas irá presidir à “AI in Digestive Healthcare: Shaping the Future”, uma iniciativa que irá reunir centenas de especialistas para debater como é que a inteligência artificial está a transformar os cuidados digestivos e a definir o futuro da prática clínica.

Inspirado pela reflexão sobre sonhos e ambições retratada na obra The Great Gatsby, Miguel Mascarenhas tem como objetivo criar “algo que transcenda o tempo e que melhore a vida das pessoas de forma concreta”.

Idade: 35 anos

Naturalidade: Porto

– De que mais gosta na Universidade do Porto?
O que mais admiro na Universidade do Porto é a simbiose entre a história e a inovação. É inspirador viver num ambiente onde o conhecimento acumulado ao longo dos séculos continua a ser o alicerce para construir o amanhã.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?
A burocracia, que por vezes trava o ritmo das ideias e dos projetos. Simplificar processos poderia libertar ainda mais o potencial criativo e inovador da comunidade académica.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?
Apostar no empreendedorismo, criando condições mais robustas para o nascimento de spin-offs universitárias. A universidade possui um imenso reservatório de talento e ideias brilhantes, que podem ser transformadas em soluções práticas e de impacto positivo para a sociedade.

– Como prefere passar os tempos livres?
Os meus tempos livres são dedicados às coisas que me trazem equilíbrio e inspiração: ler sobre história, que me ajuda a compreender o presente; praticar desporto, pela capacidade de superação e entreajuda; viajar, para conhecer novas culturas e perspetivas; e, claro, estar com a minha família, que torna qualquer momento especial.

– Um livro preferido?
The Great Gatsby. É uma obra que me desafia a refletir sobre os sonhos, as ambições e a complexidade das relações humanas, com uma mensagem tão relevante hoje como quando foi escrita.

– Um disco/músico preferido?
OneRepublic.

– Um prato preferido?
Uma sobremesa, fondant de chá verde.

– Um filme preferido?
La La Land. É um filme que me emociona pela forma como celebra os sonhos, a resiliência e a beleza das jornadas imperfeitas.

– Uma viagem de sonho?
Percorrer todos os estados dos Estados Unidos da América. Cada estado tem a sua própria identidade cultural e histórica, e descobrir essa diversidade seria uma experiência profundamente enriquecedora.

– Um objetivo de vida?
Viver com propósito, encontrar felicidade nas pequenas e grandes conquistas e deixar um impacto positivo que possa inspirar os outros.

– Uma inspiração?
Os meus pais, pelo exemplo de trabalho, resiliência e generosidade, são a minha maior inspiração. Entre as personagens fictícias, admiro Heitor, da Ilíada de Homero, pela sua resiliência e sentido de dever, e Gatsby, pela sua capacidade de sonhar e amar, mesmo perante as adversidades.

– O projeto da sua vida…
Criar algo que transcenda o tempo e que melhore a vida das pessoas de forma concreta. Um projeto que inspire futuras gerações a acreditar no impacto duradouro de ações simples, mas significativas.

– O que perspetiva que a IA possa transformar a curto/médio prazo?
Atualmente, a IA está a revolucionar várias áreas dos cuidados digestivos, com aplicações particularmente promissoras na endoscopia por cápsula e na anoscopia de alta resolução. Estas tecnologias estão a transformar a forma como as doenças gastrointestinais são diagnosticadas e monitorizadas, permitindo uma deteção mais precoce e precisa de lesões e condições que, de outra forma, poderiam passar despercebidas. A FMUP tem-se afirmado como líder em projetos pioneiros, não apenas em Portugal, mas também através de colaborações internacionais com instituições de renome nos Estados Unidos, Espanha, França, Brasil e Reino Unido.