Desde muito cedo que as ciências do espaço passaram a fazer parte da vida de Marta Cortesão, ou não tivesse crescido rodeada de livros e séries de ficção científica. Licenciada em Biologia pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), conquistou recentemente uma bolsa da Women in Aerospace in Europe 2018, destinadas a jovens talentos na área das ciências aeroespaciais. Em causa está o seu envolvimento no “Biofilm in Space”, um projeto financiado pela NASA e que levou Marta àquela que é uma das maiores conferências do mundo no domínio do espaço.

Marta Cortesão durante a apresenação do projeto “Biofilm in Space” na 42.ª edição da conferência Commission for Space Research (COSPAR), em junho passado. (Foto: DR)

Da ficção científica para a NASA, para Marta Cortesão tudo começou então com a licenciatura em Biologia, depois de, no ensino secundário, ter decidido que queria enveredar pelo mundo da astrobiologia. Como não existia um curso nessa altura em Portugal ou na Europa, decidiu  traçar o seu próprio caminho, que continuou com o Mestrado em Biologia Celular e Molecular. Ainda na FCUP, esteve envolvida em vários projetos e desenvolveu o gosto pela investigação: participou no Programa de Estágios Extracurriculares, fez três programas de Erasmus – em Barcelona, Madrid e Colónia -, integrou a Associação de Estudantes BEST Porto e foi oradora no TEDxUniversityofPorto.

Foi já enquanto estudante doutoramento em Microbiologia do Espaço no Centro Aeroespacial Alemão (DLR), que a jovem investigadora se envolveu no “Biofilm in Space”, projeto em que se propôs a estudar o “crescimento e expressão genética de bactérias e fungos em ambiente de voo espacial, ou seja, dentro da própria Estação Espacial Internacional”. Explicações que teve a oportunidade partilhar, em junho passado, durante a 42.ª edição da conferência Commission for Space Research (COSPAR).

Atualmente a meio do doutoramento, Marta Cortesão, que sonha viajar até ao espaço, já tem planos para o futuro. Para além de estar a trabalhar para levar bactérias e fungos ao espaço com o projeto da NASA, a sua equipa de trabalho vai também iniciar um projeto para expor micro-organismos no deserto da Antártida – o “ICExPOSE”. A alumna da FCUP não exclui ainda a realização de um pós-doutoramento ligado à comunicação de ciência, paixão que vai alimentando enquanto autora do blogue “Space Microbes“.

Naturalidade? Porto

Idade? 25 anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto? 

É parte ativa em ações de desenvolvimento e inovação da educação a nível nacional e Europeu, e tem fortes cooperações internacionais nas mais variadas áreas, desde associações e mobilidade de estudantes, à investigação.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Continuamos a achar que lá fora é tudo muito melhor, mas há coisas fantásticas a acontecer na própria UP, e que muitas vezes passam “ao lado”.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto? 

Ter mais eventos para aproximar as diferentes faculdades, tanto a nível académico e cientifico como social. Acho que é preciso fomentar a partilha entre os estudantes, para nascerem ideias e projetos interdisciplinares.

– Como prefere passar os tempos livres? 

Passear e descobrir novos cantos da cidade em que estou; ouvir música; ou convidar amigos para jantar e cozinhar comida portuguesa.

– Um livro preferido? 

Hitchhikers guide to the galaxy, de Douglas Adams.

– Um disco/músico preferido? 

Português – Dead Combo ;

Estrangeiro – Muse;

– Um prato preferido? 

Adoro tudo o que tenha marisco.

– Um filme preferido? 

Tenho imensos, adoro filmes. A trilogia The Matrix continua a ser um dos favoritos.

– Uma viagem de sonho (realizada ou por realizar)? 

Ir ao Espaço. Gostava de ver a Terra desde lá de “cima” e sentir a microgravidade, nem que fosse só por 30 segundos.

– Um objetivo de vida? 

Gostava de criar algo diferente que envolvesse ensino, investigação, arte e divulgação de ciência, tudo ao mesmo tempo.

– Uma inspiração?

Todos os livros e filmes de ficção científica, que concebem mundos muito diferentes do nosso, e que desafiam a mente humana a pensar para além da nossa própria espécie.

– Como surgiu o  gosto pelas ciências do espaço e pela astrobiologia? 

Cresci no meio do fantástico e da ficção científica. Em casa tínhamos as estantes cheias de livros dos grandes autores de sci-fi, como Arthur C. Clark ou Phillip K. Dick, e assistíamos às séries e filmes como uma excitante aventura em família. Em pequenina cheguei a desenhar o meu próprio crachá de “comandante intergalática”, que ainda tenho guardado! Mas só comecei a pensar numa carreira relacionada com o espaço no ensino secundário. O meu professor de biologia punha sempre a vida e o planeta Terra em perspectiva, como algo que faz parte do sistema solar, parte do Universo. Um dia encontrei o termo astrobiologia na internet, até hoje.